Guerra contra a Venezuela?

"Tudo o que se busca na Venezeula é exatamente um pretexto para uma mudança de regime num país que tem as maiores reservas de petróleo do mundo", diz o jornalista Leonardo Attuch, editor do 247. "Participar de uma guerra movida a petróleo, a serviço de potências externas, certamente não é algo que atenda aos interesses brasileiros. E pode criar consequências imprevisíveis, com o risco de se transformar a América do Sul no novo Oriente Médio, uma vez que nem China, nem Rússia, duas potências nucleares, parecem dispostas a abandonar a construção de um mundo multipolar"

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O plano de guerra dos Estados Unidos contra a Venezuela, com apoio dos atuais governos do Brasil e da Colômbia, foi traçado na última terça-feira, quando o atual chanceler, Ernesto Araújo, se encontrou com John Bolton, assessor especial de Segurança de Donald Trump. O que se decidiu, na Casa Branca, foi que os três países concederiam "ajuda humanitária" à Venezuela, com a criação de corredores para o transporte de alimentos e remédios. Ao fim do encontro, Bolton foi ao twitter e disse que a relação entre Estados Unidos e Brasil nunca foi tão sólida – o que também pode ser lido como Brasília nunca foi tão submissa aos ditames de Washington.

Os corredores de "ajuda humanitária" poderão ser um estopim para a guerra por um motivo simples. Como Nicolás Maduro não deve aceitar a imposição externa, até em razão do risco de transporte de armamentos para a oposição, logo em seguida começará a ser construído um trabalho de convencimento midiático sobre a necessidade da opção militar. Maduro será retratado como o ditador cruel que impede que a própria população venezuelana receba alimentos e remédios, assim como o sírio Bashar Al-Assad foi acusado de atacar seu povo com armas químicas.

Tudo o que se busca é exatamente um pretexto para uma mudança de regime num país que tem as maiores reservas de petróleo do mundo. Reportagem recente do The Wall Street Journal aponta que a intervenção em Caracas será apenas o "primeiro tiro" de uma estratégia mais ampla dos Estados Unidos para a América Latina, que tem como objetivos não apenas retomar o "quintal" como também afastar a influência de países como Rússia e China – especialmente o segundo, que já é não apenas o maior importador de produtos brasileiros, como também o maior investidor.

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Trata-se, portanto, de um projeto de recolonização de todo o continente – o que incomoda setores da ala militar do governo. A tal ponto que os generais decidiram tutelar a atuação do chanceler Ernesto Araújo para impedir a submissão total do Brasil a interesses internacionais. Tanto Araújo como o presidente Jair Bolsonaro parecem hoje menos compromissados com os interesses nacionais de longo prazo – e mais alinhados com esse novo papel do Brasil como colônia. Os generais parecem considerar inevitável um choque entre Estados Unidos e China, mas ainda tentam preservar uma posição de relativo equilíbrio para o Brasil.

Participar de uma guerra movida a petróleo, a serviço de potências externas, certamente não é algo que atenda aos interesses brasileiros. E pode criar consequências imprevisíveis, com o risco de se transformar a América do Sul no novo Oriente Médio, uma vez que nem China, nem Rússia, duas potências nucleares, parecem dispostas a abandonar a construção de um mundo multipolar, permitindo a volta a uma era de hegemonia imperial.

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