Marcio França anuncia Carandiru permanente

"Ao anunciar que todo cidadão que ´ofender a farda´da PM passa a ´correr risco de vida´, o governador Márcio França tenta instituir um regime de medo típico de uma ditadura" escreve Paulo Moreira Leite, articulista do 247. Conforme PML, "26 anos após o massacre do Carandiru, no qual 111 prisioneiros foram executados, o governador quer instituir um Carandiru a céu aberto, no qual todo mundo pode ser transformado em bucha de canhão, bastando ´ofender a farda´. 



✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

 Foi em 1987, em São Paulo, que o sociólogo Antônio Flavio Pierucci (1945-2012) anunciou a descoberta dos germes do fascismo paulistano, num artigo hoje clássico (“As bases da Nova Direita”).

 Entrevistando eleitores de Jânio Quadros e Paulo Maluf, referências nacionais do conservadorismo mais autoritário, Pierucci encontrou protótipos humanos daqueles cidadãos e cidadãs que, no espaço de uma geração, estariam nas ruas para pedir a deposição de Dilma Rousseff e intervenção militar.

"Quer vê-los tendo arrepios é pronunciar as palavras direitos humanos," escreveu o professor, registrando o inconformismo de cidadãos de classe média com a “inversão de valores”, que levava a polícia a preocupar-se com a tortura e mesmo execução de prisioneiros.

continua após o anúncio

 "O  bandido hoje em dia é endeusado, embora seja assassino, estuprador, seja o diabo, “ reclamava uma advogada da Mooca. “Ele precisa tomar o banhozinho de sol, a comida não está boa? precisa de champagne francês, precisa de mulher, essas coisas todas  no presídio”.

 Trinta anos depois, quando Marcio França afirmou que o ato de “ofender a farda e a integralidade da Polícia” implica em “risco de vida”, pode-se dizer que a serpente já quebrou a casca do ovo.

continua após o anúncio

 Em português claro: o governador do Estado mais rico do país liberou a execução de civis pelas forças policiais, instituindo um regime de medo típico de uma ditadura.

Em 1992, a PM paulista entrou para a história da violência policial através do massacre do Carandiru, no qual 111 prisioneiros foram executados, numa brutalidade que está na origem da facção criminosa PCC, nascida para defender a “dignidade” devida as pessoas, inclusive condenados. Em 2018, o governador  ameaça criar um Carandiru permanente e a céu aberto, no qual qualquer um pode ser transformado em bucha de canhão.  Basta “ofender a farda”.

continua após o anúncio

É uma ofensa e uma insanidade.

Em busca de um atalho para tentar sair de uma posição de obscuridade absoluta na campanha pelo governo de São Paulo, o discurso de Márcio França representa uma tentativa absurda de impedir qualquer esforço do comando da PM para garantir uma postura mais civilizada por parte da tropa.

continua após o anúncio

Uma boa forma de medir o grau de violência de uma polícia consiste em comparar os números de mortes em confronto. Admitindo que o volume de mortos entre os bandidos sempre será maior do que entre os policiais, alguns estudiosos estão convencidos que o quociente 7 estabelece um parâmetro razoável nessa discussão. Isto quer dizer que pode-se aceitar um ambiente no qual sete civis são mortos por cada policial. Em setembro do ano passado, um levantamento dos confrontos chegou a 687 mortes civis, contra 11 de policiais. O saldo: 62 contra 1.   

continua após o anúncio

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247