Com Lula ou Lula 2, eleição abre oportunidade real para virar o jogo

O jornalistas Paulo Moreira Leite, articulista do 247, o golpe, que derrubou Dilma e prendeu Lula não teve força para o golpe final e agora Lula ou  um candidato apoiado por ele tem grandes chances de vencer a campanha presidencial no segundo turno. Para PML, "como acontece desde os anos finais da ditadura militar, numa provável polarização contra Bolsonaro, Lula e o PT tendem a ficar em vantagem, pois podem unir a questão social e a democracia contra o fascismo"    

Com Lula ou Lula 2,  eleição abre oportunidade real para virar o jogo
Com Lula ou Lula 2, eleição abre oportunidade real para virar o jogo (Foto: Ricardo Stuckert/ Instituto Lula)


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Quando faltam pouco menos de 100 dias para o primeiro turno da eleição presidencial, um exame realista da disputa mostra que as chances de uma virada de jogo, a favor dos trabalhadores e da população explorada são maiores do que admite a visão convencional.

Estamos falando de realismo nos dois sentidos.

Tanto para reconhecer as imensas dificuldades apresentadas pela conjuntura e também para enxergar as oportunidades positivas de uma determinada situação política.

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Condenado sem crime e sem prova, as chances de Lula disputar a eleição parecem diminuir a cada dia, como ele próprio admitiu ao dizer que "não tenho direito a esperar que terei Justiça".

Por outro lado, todas as pesquisas indicam que as chances de um candidato indicado por Lula chegar a um segundo turno contra Bolsonaro são matematicamente imensas. É forçoso reconhecer, neste caso, que pode-se criar um cenário particularmente favorável ao candidato, que seria uma especie de Lula 2, que tiver currículo para levantar a bandeira do apoio do presidente,  da defesa da democracia contra o fascismo e o compromisso a favor dos trabalhadores e dos mais pobres. Estamos falando, evidentemente, de candidatos com origem naquilo que se pode chamar de universo Lula e que não se afastaram dele ao longo dos anos recentes.

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Explicando melhor: parece claro que a guerra do Judiciário contra a candidatura Lula tem o respaldo ativo da maioria do grande empresariado, a começar pelos oligopólios de mídia, que até agora não apresentaram nenhuma dissidência que possa beneficiar, em qualquer medida, o ex-presidente. Com divisões e disputas à vista de todos, nessa questão bloco mantem-se especialmente compacto.  

Os aplausos em pé para Bolsonaro, no encontro na CNI -- para o qual Lula ou eventual representante sequer foi convidado -- mostram que a tolerância ao fascismo por  parte de uma parcela de nossas elites  tornou-se maior -- e isso é lamentável -- do que o respeito por lideranças do movimento operário e popular, que têm um papel  indispensável na preservação de todo regime democrático.  

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Isso quer dizer que  o bloco de  pressão sobre o STF para manter Lula na prisão, em desacordo com as provas documentais e também com  garantias constitucionais, mantém-se sólido e compacto. Mesmo que seja possível imaginar uma vitória de Lula  -- inteiramente justa e urgente --  no plano das liberdades civis, o que lhe permitiria exercer  um papel ainda mais ativo na campanha eleitoral, o registro da candidatura envolve uma alteração profunda na relação de forças estabelecida no país pelo golpe de 2016.

Totalmente desejável do ponto de vista da democracia, uma mudança dessa natureza implica em obrigar a coalizão que governa o país com poderes de ditadura abdicar, de livre e espontânea vontade, daquele que é seu grande trunfo e maior vantagem em 2018. Estamos falando da possibilidade,  única desde o reestabelecimento das eleições diretas para presidente, de eliminar  o adversário mais temido sem uma disputa no voto, com base  numa pura e hipócrita manobra jurídica, capaz de realizar o sonho real do conservadorismo verde-amarelo desde 1989 -- eleições sem Lula e, enquanto Brizola foi vivo, sem ele também.

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 Uma mudança  pacífica no quadro eleitoral sem Lula  contraria a ordem natural das coisas no curso atual da política brasileira. Não custa lembrar que mesmo a mais popular campanha da história republicana, as Diretas-Já, foi derrotada pela união do regime militar, a hipocrisia do empresariado e a docilidade de um congresso dócil como o de hoje. Em 2018, o quadro é assim. O que parecia difícil --  condenar sem provas -- os adversários  já se conseguiram. O que parecia ainda mais difícil -- o silêncio obsequioso dos tribunais superiores -- também foi obtido. Mudar para que?

Neste cenário Lula e o PT tem procurado ampliar a mobilização popular na esperança de  mudar a situação. É correto. Aí se concentram as principais esperanças do próprio Lula disputar a eleição. É mais do que oportuno fazer mobilizações preparatórias e chamar para um ato nacional em 15 de agosto, registro da candidatura.

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A presença de Lula na eleição, como candidato, representa em si uma reafirmação da democracia, da valorização dos direitos fundamentais e da liberdade sobre o abuso judicial. Permite ao eleitor fazer uma escolha autêntica, com pleno reconhecimento da soberania popular. Tanto para os seguidores de Lula, como para seus adversários, ele é candidato que melhor representa um projeto que tantos recusam e outros rejeitam. 

Mas seria uma  irresponsabilidade contar, desde já, com a garantia de que Lula será candidato. Essa visão, hoje, tem como base numa projeção altamente positiva sobre a disposição de luta de seus aliados e de uma parcela grande de seus eleitores para enfrentar um golpe de Estado que lhe arrancou tantas conquistas e direitos de abril de 2016 para cá.

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Não custa lembrar que o inegável esforço de mobilização em defesa de Lula, antes da prisão cinematográfica em Curitiba, atingiu uma escala abaixo do que muitas lideranças previam e desejavam, ainda que tenha alcançado um patamar  respeitável em várias oportunidades. Mantida até hoje, a mobilização em torno da prisão na capital paranaense tem um caráter exemplar e insubstituível -- como demonstram, inclusive, os ataques permanentes do fascismo, agraciados pela omissão protetora da polícia tucana do Paraná. Seu impacto parece pequeno para romper um pacto de poder que articulou um golpe de Estado numa das oito maiores economias do planeta. Imaginadas como demonstração de força, muitas vezes servem como demonstração do contrário.

Na conjuntura que se descreve acima, seria absurdo desconhecer os espaços em aberto no plano institucional.

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Minha opinião é a seguinte: caso se confirme o veto a Lula, a simples manutenção das atuais regras eleitorais deve ser encarada como uma oportunidade  para um candidato apoiado por ele entrar na campanha como favorito para ganhar as eleições de outubro em segundo turno. 

No país de hoje, essa hipótese é mais realista do que supõe a vã filosofia de quem passa o dia em especulações sobre Alckmin, Ciro Gomes e Marina Silva, sem falar em qualquer uma das encarnações do mitológico  "candidato novo", que nunca aparece e sequer tem nome. Em voo solo, sem as bençãos do mais popular presidente da história, e a força do partido mais aprovado, todos ficam atrás de um possível Lula 2.    

Em meio a tantas derrotas e desencantos recentes, é nesta brecha que parecem existir chances reais de retorno ao poder daquele bloco vencido  em abril de 2016, que tem a vocação de retomar um projeto de país quatro vezes aprovada pelo eleitorado e interrompido por uma medida de força. 

Isso acontece em função de um dado pouco observado. Ainda que tenha afastado uma presidente sem crime de responsabilidade e aprovado uma agenda regressiva sem paralelos em nossa história, o golpe que derrubou Dilma não teve forças políticas para abolir o calendário eleitoral previsto pela Constituição.

Como as manifestações de Fernando Henrique Cardoso de apoio integral ao autoritarismo do judiciário deixavam claro já em 2015, confiou-se inteiramente em Sérgio Moro e no Judiciário para aniquilar a força de Lula na memória da maioria dos brasileiros. O roteiro do golpe era este.

O problema é que anti-Lula fez um efeito nacional devastador em 2016, arrasando o PT mesmo em seus tradicionais centros eleitorais. Mas já saiu de cena com um país arruinado e corruptos em fuga, sob proteção seletiva da Lava Jato. Hoje o ânimo é oposto, sabemos todos.  

Repetindo a caçada a Juscelino em 1964, que perdeu os direitos políticos por 10 anos quando o golpe militar completava o terceiro mês, até agora Temer, FHC & Cia conseguiram garantir a exclusão do adversário mais temível em 2018.  

A diferença é que, na conjuntura histórica de meio século atrás, no entanto, a ditadura dos generais consolidou-se pelo cancelamento puro e duro sucessão presidencial. Marcada para 1965,   ela iria ocorrer em 1967. Também aboliu o direito do povo escolher o  presidente por via direta, o que seria feito apenas   em 1989, após a  nova Constituição  devolver o poder aos civis.

Mesmo num país submetido a um estado de exceção desde a posse de  Temer, as regras para o pleito de 2018 permaneceram intocáveis,  ao menos até aqui.  

E, em função da crise abismal e divisão profunda em que o país se encontra, que estimulou a imensa saudade do ex e impediu o nascimento de qualquer liderança capaz de promover uma segunda ruptura e comandar uma alteração institucional de vulto maior, a permanência das regras e prazos parece o caminho muito provável. Cada vez mais ocupado com a própria sobrevivência a partir de 2019, o espaço de manobra do Planalto para maquinações anti-democráticas fica menor dia após dia, fazendo com que  conversas de semi-parlamentarismo e outras ideias delirantes sejam  tratadas como último desejo no corredor dos condenados.

 Ainda que a vocação anti-democrática  do atual governo e seus aliados seja uma ameaça permanente de  operações de natureza autoritária, ao menos por enquanto a tendencia favorável à realização de eleições diretas para presidente -- sem Lula, é sempre bom lembrar -- é dominante não só na vontade unânime do povo, mas também nos círculos de poder. Como sublinha a proliferação de candidaturas militares, não existem lideranças capazes de impor uma segunda intervenção, desmoralizadora e sem disfarces,   

E aqui é preciso reconhecer: as chances de vitória de um  candidato abençoado pelo apoio de Lula são bem maiores do que se costumava admitir no início de 2018, a tal ponto que pode-se falar num segundo favoritismo. 

Estaríamos, quatro anos depois, num ambiente com muitas diferenças estruturais em relação a 2014, a começar pelo adversário. Em vez de Aécio Neves, que há quatro anos se encontrava no apogeu da fraude midiática, desta vez os adversários se concentram em Bolsonaro e é duvidoso que possam arrebanhar perto da metade dos votos válidos  do país em nome do fascismo.

Depois de estimular um cenário semelhante ao que eleveu Macron na França, alimentando Bolsonaro na esperança de estimular o nascimento de uma candidatura de centro pelo medo ao fascismo, nossa elite assiste ao renascimento de Lula e do PT como polo politico alternativo.

 Neste cenário, onde a luta contra a miséria e a desigualdade fatalmente se une a luta pela democracia, o candidato do PT -- seja Fernando Haddad, Celso Amorim, Gleisi Hoffman  -- estará num ambiente particularmente favorável para vencer.

 E esta é a grande notícia desses dias. Os patrões que deram um golpe de Estado e promoveram a entrega vergonhosa das riquezas do país não conseguiram encontrar uma fórmula para realizar eleição sem povo.

 Enquanto for assim, a derrota não será completa. Sempre haverá motivo para inconformismo e revolta contra a perseguição a Lula, hoje um dado provável da paisagem política. Mas também será possível caminhar com algum otimismo em direção às urnas.

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