O sumiço de FHC, que foi atrás de Huck e ameaça entregar o país a Bolsonaro só para fugir de Lula

 "É fácil reconher que o risco de colapso institucional enfrentado pelo país tem sua origem na decisão de prender Lula e impedir sua presença na eleição presidencial", escreve Paulo Moreira Leite, articulista do 247. "Depois de contribuir para colocar o país no caminho de uma ditadura, a única atitude responsável e digna por parte do príncipe Fernando Henrique é engajar-se publicamente na campanha de Haddad".  

O sumiço de FHC, que foi atrás de Huck e ameaça entregar o país a Bolsonaro só para fugir de Lula
O sumiço de FHC, que foi atrás de Huck e ameaça entregar o país a Bolsonaro só para fugir de Lula


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Em maio de 2017, quando o nome de Jair Bolsonaro já aparecia com força nas pesquisas da campanha presidencial, o Principe Fernando Henrique Cardoso convenceu o topo da pirâmide social brasileira que seria preciso de encontrar uma saída à francesa.

A ideia era copiar a trajetória de Emanoel Macron, o candidato de centro-direita que passou raspando no primeiro turno da eleição presidencial mas conseguiu arrebatar uma maioria folgada na segunda fase, derrotando a extrema-direita do Front National para assumir o Elysée em clima de festa mundial. U-lalá.

O importação do esquema parecia uma ideia engenhosa  como tantas mercadorias que vem da França mas, num descuido que está na origem de tantas tragédias políticas, em tantos momentos terríveis de nossa história, faltou fazer o essencial: combinar com o povo.

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Não havia, no banco de reservas do PSDB, do MDB, do DEM e de quem mais se pudesse imaginar, um nome com apoio popular à altura de tamanha responsabilidade.

Na verdade, só havia um nome a altura da tarefa democrática de derrotar Bolsonaro com folga. Sim. Ele mesmo: Luiz Inácio Lula da Silva, imbatível mais uma vez num país com saudade de seu ex, como informava uma pesquisa do Ideia Big Data. Na boca do povo, uma solução óbvia para a democracia.

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Lula já estava marcado para morrer na guilhotina da Lava Jato e não parecia possível jogar fora tanto esforço, tanto empenho, para "limpar" a política do país. Na falta de provas, foi condenado "sem fato determinado".

A vitória de Macron ocorreu em  maio de 2017. Dois meses depois, em julho, Sérgio Moro assinou a condenação de Lula em primeira instância. 

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É nessa época que o Príncipe Fernando Henrique teve a ideia número 2 e foi atrás de Luciano Huck. A causa estava clara. Já que a "velha política" não produzia nenhuma opção empolgante nem mesmo nos jantares de Higienópolis, era preciso pedir ajuda a "nova política" para achar um rosto que pudesse virar um candidato viável.  

Com o senso patriótico de quem ficou em dúvida entre o tédio das noites no  Planalto e a auto-ajuda que o tornou bilionário nas tardes de sábado, Huck divertiu-se ao constatar que os institutos de pesquisa gostavam de incluir seu nome na lista de candidatos a candidato. Num levantamento do Ipsos, publicado pelo Estadão, conseguiu com 60% de aprovação, contra 43% para Lula, em "empate técnico" com Joaquim Barbosa, que tinha 42%. Huck hesitou por 15 minutos e por duas vezes renunciou ao projeto. Numa delas, comparou-se ao herói Ulysses mas não falou da palavra "trabalho" nem "trabalhador" uma única vez.

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Condenado em segunda instância em janeiro de 2018, Lula levou a campanha como o condenado que caminha sobre o patíbulo, perante o olhar de esperança e terror da multidão que a tudo assistia sem acreditar. Nem a prisão, em abril, interrompeu a corrente elétrica com o povo.  

O desastre se tornara visível e tornou-se cada vez mais palpável quando faltavam duas semanas para o primeiro turno. Foi então que o príncipe Fernando Henrique teve a ideia número 3: tentar  criar um Macron/Huck  brasileiro pelo método de inseminação artificial de candidaturas presidenciais já em campo. Sua técnica era a do medo. 

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Como se estivesse falando de duas candidaturas idênticas, alimentadas por perspectivas também idênticas, em carta divulgada pelos jornais FHC divulgou a teoria incrivelmente desonesta de que a campanha estava perdida entre  dois extremos, duas candidaturas igualmente tirânicas e inaceitáveis, que deveriam dar nascimento a um representante da terceira via, o centro do centro.

Vários pretendentes fingiram que se esforçaram, num misto de incredulidade e sonho: Alckmin, Marina Silva, Meirelles, e também Ciro Gomes. Mas não podia dar certo e não deu mesmo. Era muito truque para uma campanha só. Ao nivelar o bom e o ruim, o príncipe beneficiou o pior.

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Como previsto desde que Lula foi mandado para a prisão, o fascista Bolsonaro acabou em primeiro, disparado na frente.

Lançado no sufoco, Haddad ficou em segundo, com seu perfil político de quem é quase um Juscelino, vamos combinar. Entre JK e Lula, para ser um pouco mais preciso. É de centro, mas de centro-esquerda, como próprio Fernando Henrique já deu a impressão que podia ser, um dia.   

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Mas imperdoável, porque Haddad é herdeiro de Lula. Inaceitável, porque desse jeito pode começar tudo de novo. Junto com ele pode vir "aquele PT" que todos imaginavam que fora extinto duas vezes -- por Joaquim Barbosa e Sérgio Moro.  Mas não. Continua o mais popular partido político brasileiro. O único que o eleitor lembra na hora que o entrevistador faz a pergunta.

E assim, neste horizonte cada vez mais sombrio, a  campanha presidencial chega ao segundo turno só para confirmar a dificuldade dos donos do poder no Brasil para  desempenhar um papel responsável e digno. As armadilhas deram errado para os inimigos, os adversários, os aliados e por fim, para eles próprios.  Nossa democracia está encalacrada. A próxima ideia do príncipe, informa o colunista Ancelmo Góis, é tomar o avião para Paris. 

O país se encontra a beira de uma tragédia insana, que ameaça derrubar três décadas de esforço na construção do mais amplo regime de direitos e liberdades de nossa história. Há 30 anos, o Príncipe era vice-rei na Constituinte. Foi relator-adjunto da Comissão de Sistematização, título obscuro para uma posição que lhe garantia uma cota importante de poder real.   

Depois de passar a última década em tramas permanentes contra a democracia, os donos do poder colheram o saldo inevitável -- um país sob o risco de uma ditadura. 

Esta é a grande ameaça a ser enfrentada com determinação nas próximas semanas.

Até agora, o príncipe Fernando Henrique Cardoso não teve uma primeira ideia boa e correta, que é engajar-se publicamente no movimento democrático que resiste a Bolsonaro através da candidatura Haddad. Seria o mínimo.

 

Alguma dúvida?   

 

 

 

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