Contra o silêncio de Ciro e FHC, a luta de sindicatos e intelectuais por Haddad

Enquanto FHC e Ciro assistem de camarote a luta de Haddad contra Bolsonaro, sem lhe dar o reforço eleitoral que lhe permitiria um combate em melhores condições, sindicalistas e intelectuais de prestígio se mobilizam em apoio ao candidato que representa a defesa da democracia contra a ameaça de uma ditadura", escreve Paulo Moreira Leite, articulista do 247; se uma plenária da CUT com Haddad, ontem, exibiu militantes com ânimos aquecidos para se engajar na eleição, hoje o ex-ministro Bresser Pereira anunciou apoio; Dias atrás, o sociólogo espanhol Manoel Castells, um dos mais influentes cientistas sociais do planeta, em carta aberta de apoio ao candidato do PT diz: "Ao longo de nossa vida, adquirimos uma certa autoridade moral. É hora de utilizá-la antes que seja muito tarde" 

Contra o silêncio de Ciro e FHC, a luta de sindicatos e intelectuais por Haddad
Contra o silêncio de Ciro e FHC, a luta de sindicatos e intelectuais por Haddad


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A multiplicação de declarações contra Jair Bolsonaro indica o reconhecimento  -- perto da unanimidade  -- a respeito dos riscos que sua candidatura representa para a democracia. Não tem sido  suficiente, contudo, para permitir a formação de uma aliança política tão ampla como parecia possível para reverter o resultado do primeiro turno.

Verbalmente de acordo sobre o inimigo a abater, os aliados de maior peso político -- a saber, Ciro Gomes e Fernando Henrique Cardoso -- até agora tem resistido à ideia de dar o passo seguinte, que é engajar-se de verdade na campanha pela vitória de  Fernando Haddad, num movimento que poderia arrastar camadas mais amplas do eleitorado, capazes de dar um novo rumo à campanha, reproduzindo antecedentes conhecidos.

Em 2014, por exemplo, Aécio Neves estava fora de combate, após a contagem de votos no primeiro turno: 41,5% contra 33,5% para Dilma. Ameaçou virar a campanha quando recebeu o apoio de Marina, que havia saído do primeiro turno  com 21,3% dos votos, forçando Dilma a um esforço colossal nos últimos dias para confirmar a vitória. O mesmo ocorreu com Lula, em 1989. O apoio de Leonel Brizola que marcou o início de uma escalada que permitiu um empate técnico contra Fernando Collor.

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Em 2018, o apoio ao candidato escolhido pelo eleitor para enfrentar Bolsonaro envolve lideranças sociais importantes, a começar pelos principais dirigentes  do movimento sindical. No  primeiro turno eles estavam divididos entre Fernando Haddad e Ciro Gomes. Hoje, da Força Sindical a Central Única de Trabalhadores, passando pela UGT, pela CTB, CSB e  Intersindical, todas estão fechadas com Haddad, e justificam essa decisão num manifesto no qual se diz que:  "teremos uma eleição decisiva para o futuro da classe trabalhadora brasileira. De um lado, Fernando Haddad, um candidato comprometido com a democracia, os direitos sociais e a soberania nacional. Do outro, um candidato que encarna o autoritarismo, a desnacionalização da economia e a extinção dos direitos sociais e trabalhistas, com consequências diretas na vida dos trabalhadores e das trabalhadoras, como desemprego, a precarização do trabalho, redução dos direitos e da qualidade de vida."

Nas últimas semanas, a campanha de Haddad não parou de receber o reforço de personalidades e lideranças importantes da sociedade civil, como Jose Carlos Dias, que foi ministro da Justiça no governo Fernando Henrique Cardoso, o editor Luiz Shwarcz, da Companhia das Letras, o empresário Ricardo Semler e  Rubens Ricupero, diplomata e ministro responsável pela implantação do Plano Real. Na base da sociedade, cresce a mobilização em bairros da periferia, em entidades estudantis também, num corpo-a-corpo que terá seus frutos nos próximos dias.

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"A democracia ainda tem chance", resumiu o professor Bresser Pereira, um dos cérebros da campanha de Ciro Gomes, agora engajado na campanha de Haddad, a quem dá um conselho: "deixar claro para todos os verdadeiros democratas, inclusive de centro direita, que ele governará o Brasil muito melhor do que seu adversário".  Se a juventude faz vídeos com personalidades, os adultos procuram reconectar-se com amigos de outras jornadas. A plenária da CUT com Haddad, ontem, mostrou uma temperatura aquecida, semelhante aquela que se viu no segundo turno de 2014, quando o braço do movimento popular teve um papel decisivo. 

Mesmo deixando de lado a aparição grotesca de Cid Gomes num ato público em Fortaleza, convocado no espírito de uma Festa da Virada e transformado num desastre de grande utilidade para a propaganda adversária, o silêncio das lideranças políticas de vulto maior chama atenção. 

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Minha opinião pode parecer um tanto rude mas a impressão é que este comportamento fugidio em relação as suas responsabilidades demonstra que lideranças desse vulto têm outra prioridade e uma visão peculiar de democracia.

Ao examinar alternativas para seu próprio futuro, parecem convencidos de que uma vitória de Bolsonaro não será uma derrota da democracia -- apenas do Partido dos Trabalhadores e seus aliados mais próximos.  

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Anunciando a candidatura presidencial de Ciro em 2022, o presidente do PDT Carlos Lupi parece acreditar que a preservação do calendário eleitoral da Constituição de 1988 é uma questão já resolvida, inevitável como a chegada do dia após a noite.

Só essa visão permite entender a opção de permanecer na platéia, de braços cruzados, sem dar a  Haddad o reforço eleitoral que lhe daria melhores condições para confrontar Jair Bolsonaro.

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A verdade é que nem os desafios políticos do segundo turno nem o perfil político dos candidatos pode ser considerado uma surpresa. Prevendo o impedimento de Lula como uma consequencia inevitável do poder da Lava Jato sobre nosso universo político, há muito tempo os principais articuladores políticos de 2018 previam um segundo turno a ser disputado entre Bolsonaro  e o concorrente que conseguisse qualificar-se para a segunda fase. A idéia é que a vocação democrática da maioria do eleitorado brasileiro iria-se unir-se atrás do segundo colocado, repetindo, no Brasil, a campanha todos contra 1 que permitiu a Emanoel Macron derrotar a extrema-direita do Front National e tornar-se o presidente da França em maio de 2017.

Os fatos ocorreram de acordo com as previsões, salvo uma surpresa. Após a contagem dos votos, o desafiante escolhido nas urnas não era Geraldo Alckmin nem Ciro Gomes nem Marina Silva. Mas Fernando Haddad, herdeiro do mesmo PT que venceu as últimas quatro eleições presidenciais. Num último esforço para mudar a reta final, quinze dias antes do segundo turno FHC lançou uma carta na qual denunciava Haddad e Bolsonaro como concorrentes igualmente extermistas e indesejáveis, chamando os demais concorrentes a abrir uma terceira via. O problema é que a sugestão não comoveu os eleitores. O candidato do PT teve mais que o dobro dos votos que Ciro Gomes, sete vezes mais do que Alckmin. Seu cesto de votos foi quase 30 vezes mais amplo que o de Marina Silva.  Deveria tornar-se,  com todos os méritos, o candidato com direito a formar uma frente democrática contra o candidato a ditador.

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O capitulo atual da história nós sabemos. Ao transformar um ato da campanha de Haddad numa cena de circo, Cid Gomes fez produziu aquilo que provavelmente desejava desde o início: enfraquecer Haddad fingindo que pretendia reforçar sua campanha. Em silêncio europeu, Ciro Gomes deixou claro seu acordo.

A postura sinuosa de Fernando Henrique Cardoso, evitando declarar um apoio claro a Haddad, ameaça repetir um pesadelo que ele mesmo enfrentou quando aliou-se ao velho PFL da ditadura para concorrer a presidência da República.

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Em 1994, FHC foi acusado de ter traído sua própria carreira política e intelectual, esquecendo-se dos compromissos à esquerda que deixara em vários textos acadêmicos. Se sua obra intelectual exibisse, em 2018, o mesmo protagonismo de 1990, Fernando Henrique poderia ser acusado de esquecer o que escreveu no  período de resistência a ditadura militar. Naquele época, atuando como uma espécie de intelectual organico do MDB de Ulysses Guimarães, ele  percorreu o país em palestras pela união de todos contra a ditadura. Candidato ao senado, fez uma campanha que contou com ajuda importante do sindicalista Lula para emplacar uma boa votação como candidato numa sublegenda do partido.

 

Quatro décadas depois, a postura  de FHC contrasta, por exemplo, com o engajamento do sociólogo Manoel Castells, um dos mais refinados e influentes cientistas sociais do planeta.  Mobilizado de forma militante no apoio a Fernando Haddad, recentemente Castells divulgou uma Carta Aberta que é um autêntico chamado a luta para garantir votos a favor do candidato do PT:  "Muitos de nós temos contatos no Brasil, ou temos contatos que têm contatos. Contate-mo-los. Um what’s é suficiente, ou uma chamada telefônica pessoal. Não vai nos fazer um falta uma #. Somos pessoas, milhares, milhões potencialmente falando, no mundo e no Brasil. Ao longo de nossa vida, adquirimos com nossa luta e integridade uma certa autoridade moral. É hora de utilizá-la neste momento antes que seja muito tarde".

 

 

 

 

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