Bolsonaro troca mais médicos por mais doentes

"Ao forçar o desligamento de Cuba do vitorioso programa Mais Médicos, Bolsonaro prejudica uma massa de 63 milhões de brasileiros de cidades pobres que em 2017 se disseram satisfeitas ou muito satisfeitas com o atendimento recebido", escreve Paulo Moreira Leite, articulista do 247. "Concebido pelo governo Dilma como uma resposta ao protestos de 2013 que cobravam uma 'Saúde Padrão FIFA', o ataque do presidente eleito confirma uma prioridade política: tentar apagar todo e qualquer vestígio de conquistas e benefícios conquistados pela população nos governos Lula-Dilma"

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Cinco anos depois de terem desembarcado no país, como força principal do programa Mais Médicos, os médicos cubanos iniciam o caminho de volta a seu país. Criando exigências artificiais para sua permanência no país, Jair Bolsonaro criou uma situação insustentável para o governo cubano. Hoje, o Ministério da Saúde de Cuba anunciou que os médicos do país irão retirar-se do Brasil.

Você pode ter a opinião que quiser sobre o regime cubano e também pode criticar o tratamento que os médicos daquele país recebem quando se deslocam para o estrangeiro. Eles não recebem o salário integral pago pelo governo brasileiro. Também não têm direito a mudar-se para cá com suas famílias.

O ponto fundamental aqui é outro. Trata-se do prejuízo que essa decisão, forçada por Bolsonaro, que sequer tomou posse, irá causar para a maioria da população, em especial das famílias mais pobres, de cidades mais distantes. Nas cidades com menos de 10 000 habitantes, mais pobres, menos equipadas, o Mais Médicos recebiam por 48% do atendimento básico.

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Atingindo 63 milhões de brasileiros, o programa conseguia combater doenças na fase inicial, evitando tratamentos caros e desnecessários -- além de poupar vidas.

Em 2014, no último levantamento disponível, dos 14 900 médicos envolvidos no programa, nada menos que 11 400 eram cubanos.

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Só para você ter ideia da avaliação desse trabalho, um projeto do governo Dilma, lançado em 2013, ano em que a população dizia que queria uma saúde "padrão FIFA" em imensos protestos realizados no país inteiro. Num levantamento feito em 2017, junto a 14 000 pessoas em 700 municípios, 94% dos entrevistados se disseram muito satisfeitos ou satisfeitos com o atendimento recebido -- de graça, sem tirar um tostão do bolso.

 

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Essa aprovação reflete o saldo positivo de uma transição na saúde pública brasileira. Historicamente destinada a atender as camadas mais endinheiradas da população, o atendimento médico sempre esteve disponível -- para quem podia pagar --,  nos grandes centros. Enquanto isso, 15% dos municípios não dispunham de um único médico. Outros 2 000 possuíam 1 para cada 3000 habitantes -- o padrão da Organização Mundial de Saúde é de 1 para cada 2 000. A partir do Mais Médicos, surgiram novas vagas 5 306, em sua maioria nestes locais, em oferecendo residência em especialidades ligadas a saúde pública.

 

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Em seu desembarque, os primeiros médicos cubanos foram recebidos com agressividade e manifestações repulsivas -- inclusive cusparadas em aeroporto -- por lideranças das corporações médicas, mobilizadas na defesa de um modelo privado e excludente de medicina. Cinco anos depois, essa é a plateia que Bolsonaro procura agradar ao fazer exigências consideradas inaceitáveis pelo governo cubano, embaladas por um discurso supostamente humanitário,  que teria 0,1% de credibilidade demonstrasse a mesma preocupação com a população que será prejudicada.

 

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Para o novo presidente, o ataque ao principal núcleo profissional do Mais Médicos, com uma experiência elogiada pelos principais organismos internacionais, inclusive a Organização Mundial de Saúde, obedece a um objetivo político óbvio.  Eliminar todo vestígio das conquistas e benefícios deixados pelos governos Lula e Dilma.

 

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É bom reconhecer que nem tudo foi nem será perdido. Os novos cursos de medicina prosseguem, novos profissionais seguirão sendo formados.

Para a população atingida, o efeito é uma derrota da cidadania..  Sem os profissionais que até aqui foram a alma do programa, o país vai assistir ao retorno do modelo antigo da medicina como mercadoria e não como direito, no qual o atendimento médico é um favor acessível a poucos, oferecido e barganhado troca num universo de clientelismo e apadrinhamento que marca o pior do sistema político brasileiro.

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