Mercado e Bolsonaro: senhor e servo

"A reação de Paulo Guedes & amigos ao cancelamento do aumento do diesel representa uma tentativa de manter a disciplina estabelecida na campanha presidencial, entre quem manda e quem obedece,  que abriu os salões da Faria Lima e de Nova York para uma candidatura sem lastro social definido", escreve Paulo Moreira Leite, articulista do 247. "O que se quer é preservar o compromisso fundamental de submissão do poder de Estado ao bloco de empresários e banqueiros que sustenta o governo". 

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Mercado e Bolsonaro: senhor e servo


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Os porta-vozes daquele pensamento irresponsável que preferiu entregar o país e suas riquezas a Jair Bolsonaro, em vez de apoiar a candidatura que oferecia um projeto político democrático no segundo turno, não escondem a decepção diante do telefonema presidencial que cancelou um reajuste no preço do diesel.

 "Autoritário, intervencionista e adepto do receituário populista", escreveu Vera Magalhães, no Estado de S. Paulo. "Bolsonaro ataca o governo", resumiu Vinícius Forres Freire, na Folha. "Esses disparates deixam sequelas, que se acumulam e têm custos para a economia inteira".

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Diante do tumulto dos primeiros 100 dias, que  traduz o descontentamento das camadas de baixo, e também o desanimo e a divisão do andar de cima, é preciso entender os interesses em jogo.  

Não há dúvida de que o cancelamento do aumento do diesel é uma medida de caráter interesseiro e limitado, motivada pela necessidade de Bolsonaro abafar a maré de descontentamento do povão, a partir de uma razão política elementar.

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O objetivo é  impedir uma segunda mobilização de uma categoria que mostrou cacife para paralisar o país na agonia final do governo Temer e não teria dificuldade em repetir o processo agora -- iluminando uma faísca de consequências imprevisíveis. 

 Como toda decisão que, com todos seus limites, pode evitar novos sacrifícios impostos aos mais pobres, o cancelamento se justifica do ponto de vista social. Um novo aumento teria um efeito catastrófico, produzindo reajustes em cadeia no preço dos transportes, dos alimentos -- eles já sobem  mais que a inflação -- e também no gás de cozinha.  

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 Apresentada em tom de batalha épica pela mídia amiga, a reação de Paulo Guedes & clientela representa um esforço para manter Bolsonaro na rédea curta,  na certeza de que continuará permitindo a extração do máximo de lucro possível de um povo que se torna cada vez mais pobre.

 Não é um tratamento de aliado político mas de senhor e servo, de quem manda e quem obedece. É o preço do acordo que abriu os salões -- nacionais e internacionais -- para uma candidatura sem um lastro social definido.

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Como no conto de Oscar Wilde, O Retrato de Dorian Gray, na campanha eleitoral Bolsonaro fez acordo com o diabo, que agora vem cobrar a conta. 

O que se quer, aqui, é preservar o compromisso político fundamental do bloco  que assumiu o Planalto em janeiro de 2019: a submissão do poder de Estado ao mercado, em todas as áreas da administração. Por isso o presidente não pode ser ouvido nem para debater um preço essencial como o diesel.

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 Como linha de conduta, fica o padrão ilustrado pela fuzilaria de Guadalupe:  um comandante-em-chefe teatral no acessório e omisso na substância de fatos graves, que faz silêncio diante de 80 tiros e um assassinato. 

 É uma linha geral, na verdade.

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Na Petrobras, a opção é fazer da maior empresa brasileira, orgulho de várias gerações, uma correia de transmissão dos interesses privados de acionistas e investidores internacionais, em prejuízo da soberania do país e do bem-estar da população.  

 No Banco Central, outra face do mesmo debate, o  projeto de independência quer assegurar aos representantes dos mercados a palavra final sobre a taxa de juros, essencial para tirar o país de um prolongado atoleiro econômico e desemprego recorde. 

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Em se tratando da Previdência, a opção é transformar a aposentadoria pública num cassino privado para bancos e financeiras.

Neste ambiente, há movimentos na Terra de Santa Cruz.

Os caminhoneiros levaram porque ameaçaram.

Os parlamentares temem apoiar um projeto de Previdência que representa um caminho sem volta e sem reeleição, realidade o que levou a Folha de S. Paulo a  abandonar o projeto de capitalização individual pelo receio de um fracasso geral.

É hora de recordar uma verdade elementar das mudanças políticas. Quanto maior a divisão e paralisia do andar de cima, maior o oxigênio para quem respira no patamar inferior da pirâmide.

É este o movimento em curso na Terra de Santa Cruz. 

 Alguma dúvida?

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