Outros Padilhas virão

"Num país que enfrenta um período histórico que pode ser longo e penoso, a crítica do cineasta José Padilha a Sérgio Moro vale como um documento útil de reflexão política sobre a Lava Jato e Bolsonaro", escreve Paulo Moreira Leite, articulista do 247. "Em vez disso, numa auto-suficiência que beira a irracionalidade, a postura padrão da oposição tem sido fazer pouco da crítica do cineasta, como se o país estivesse em condições de dispensar o esforço de conquistar aliados e converter adversários"

Outros Padilhas virão
Outros Padilhas virão (Foto: Reprodução | ABr)


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Nas conversas de botequim desta difícil etapa da vida brasileira, um dos assuntos do momento é o artigo de José Padilha publicado pela Folha, "O ministro anti-Falcone".

Ali, o cineasta de "Tropa de Elite" escreve: "o leitor sabe que sempre apoiei a operação Lava Jato e que chamei Sergio Moro de 'samurai ronin,' uma alusão à independência' política que, acreditava eu, balizava a sua conduta. Pois bem, quero reconhecer o erro que cometi" afirma o diretor de O Mecanismo, lamentável panfleto de louvação a Lava Jato, que serviu de peça de suporte ao golpe de 2016. 

Padilha afirma  simplesmente que Moro "hoje é empregado da família Bolsonaro". Referindo-se ao principal projeto de lei do governo Bolsonaro depois da reforma da Previdência, o cineasta escreve: "é obvio que o pacote anticrime de Moro vai estimular a violência policial, o crescimento das milícias e sua influência política. Seu pacote anticorrupção é, também, um pacote pró-máfia."

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Num país que desde 1 de janeiro de 2019 enfrenta um período histórico que pode se revelar longo e penoso, o natural seria valer-se do texto de Padilha como instrumento de reflexão política. Afinal, trata-se de um campeão de bilheterias que deixou o universo Lava Jato-Bolsonaro, onde era uma voz de primeira grandeza, para denunciar um ministro que desfila como possível opção numa futura sucessão presidencial.  

Em vez disso, numa auto-suficiencia que beira a irracionalidade, a postura-padrão em nossos botequins tem sido fazer pouco do artigo de Padilha, como se a oposição a Bolsonaro estivesse em condições de desprezar o necessário trabalho político de conquistar aliados e enfraquecer o bloco adversário.  

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A experiência de povos e nações recomenda o contrário. Mostra que nenhum país pode libertar-se de uma situação política desfavorável,  sem que sua população seja levada a refletir sobre a própria experiência, reexaminando antigas opiniões e atitudes.  

Em 1984, a campanha por Diretas-Já, que abriu caminho ao fim da ditadura, foi liderada por Ulysses Guimaraes -- simplesmente um deputado que, vinte anos antes, em 1964, havia apoiado o golpe militar contra Jango. No mesmo percurso,  no final da década de 1970 o usineiro alagoanoTeotônio Vilela tornou-se um corajoso adversários da tortura e da defesa dos presos políticos. 

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A ruptura de Padilha tem o valor particular de quem corre o risco de admitir o próprio erro. 

As pesquisas mostram que a maioria população está descobrindo que as prioridades do governo Bolsonaro não são as suas.  A  aprovação do governo não para de cair nos patamares de baixo da pirâmide social. A denuncia de Padilha mostra que o mal-estar está presente nos andares de cima.

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Considerando o desmanche em curso no país, outras rupturas virão. 

Alguma dúvida?

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