“Por que vocês não vão protestar na casa do governador?”

"Gente que grita 'vão protestar na casa do governador!' não entendeu que nós não estamos indo fazer bagunça na casa de político nenhum. Prefeitura ou Palácio, essas casas pertencem à cidade que nos é restrita", escreve o colunista do 247 Plínio Zúnica, sobre as manifestações contra o aumento da passagem em São Paulo; "Nem a polícia do PSDB, nem militância do PT, nem jornalistas ou comentaristas raivosos esbravejando em caps lock vão ditar os rumos e trajetos de uma luta plural e popular que vem da rua", diz ele

São Paulo - Manifestantes protestam pelas ruas do centro de São Paulo contra o aumento das passagens (Rovena Rosa/Agência Brasil)
São Paulo - Manifestantes protestam pelas ruas do centro de São Paulo contra o aumento das passagens (Rovena Rosa/Agência Brasil) (Foto: Plínio Zúnica)


✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Gente reclamando que os atos contra o aumento passam muito pela prefeitura e muito pouco pelo palácio do governo, como se isso significasse que pesam mais a mão no Haddad que no Alckmin (ou fosse evidência da acusação delirante e patética de que o MPL é pago pelo PSDB ou qualquer outro patrocinador), é gente que parece nunca ter pisado em São Paulo.

O palácio do governo é um lugar inacessível, no meio do imenso vale de nada que é o Morumbi. Não dá pra chegar direito de ônibus, não tem metrô, é uma caminhada difícil, é um bairro péssimo pra fugir da brutalidade policial, é ruim pra os manifestantes irem embora, é um lugar que dá muito menos mídia, e não existe povo lá pra dialogar. Não é nenhum mistério entender essas e diversas outras razões pelas quais atos em frente ao Palácio acontecem menos do que atos no centro da cidade.

O fato de o palácio do governo ser um castelo escondido no alto de um vale de mansões e clubes de tênis, completamente inacessível pra quem não tem carro ou helicóptero, é um dos pontos vitais sobre o Direito à Cidade que são tocados indiretamente na luta pelo direito ao transporte público. Entender isso requer bem pouco esforço, e eu realmente fico impressionado com quanta gente se esforça muito pra não pensar sobre o assunto.

continua após o anúncio

Gente que grita "vão protestar na casa do governador!" não entendeu que nós não estamos indo fazer bagunça na casa de político nenhum. Prefeitura ou Palácio, essas casas pertencem à cidade que nos é restrita. Nós, cidadãos, estamos fazendo barulho na nossa casa, e cada esquina ocupada na nossa cidade é sobre o governo, a prefeitura, a polícia e os empresários que regulam as pequenas doses de democracia que nos são concedidas como se fossem um favor.

Haddad e Alckmin são pessoas diferentes, vindas de partidos diferentes e com históricos diferentes, mas os dois são governantes, e não venham me dizer que o Haddad é simplesmente mais próximo do povo do que dos demais colegas governantes, ou que tem mais interesses, necessidades e benefícios partilhados comigo do que com o Alckmin. Se o Haddad quer ser tratado de forma diferente, isso depende dele, e não de nós. Eu (ainda bem!) não sou assessor de imprensa nem técnico de boas-maneiras de político, e se o povo eventualmente te atira umas bolinhas de papel ou garrafas de plástico de vez em quando, é sinal de que talvez esteja na hora de rever as suas atitudes ou contratar uma nova equipe de relações públicas.

continua após o anúncio

Nem a polícia do PSDB, nem militância do PT, nem jornalistas ou comentaristas raivosos esbravejando em caps lock vão ditar os rumos e trajetos de uma luta plural e popular que vem da rua.

continua após o anúncio

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247