PSTU defende que mulheres tenham porte de arma e sejam treinadas pela PM

Vi, também, ataques vindos de militantes do PSTU dizendo que ser contra a proposta é coisa de burguês, porque as mulheres da periferia precisariam de armas para se defenderem



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Segundo o último número do Opinião Socialista (edição nº511, página 11) jornal oficial do PSTU, agora o partido defende o porte de armas para mulheres, e que o treinamento dado pelas policias militar, civil e federal. Não sei o quanto essa decisão foi debatida ou é apoiada pela militância de base do partido, mas espero muito que não seja.

Não estamos falando de armar um setor militante combativo em contexto revolucionário. Estamos falando aqui de armar metade da população civil brasileira, mulheres de todas as classes sociais e orientações ideológicas, e que sejam educadas no uso das armas por uma corporação militar mundialmente reconhecida por sua violência, corrupção, machismo, racismo e autoritarismo. Não estamos falando das milícias operárias e sindicais pré-revolucionárias, e sim da ideologia de auto-defesa sustentada pela indústria armamentista e pela direita norte-americana e brasileira.

Vi militantes defensores da medida fazendo uma comparação descontextualizada, juvenil e romântica entre as mulheres organizadas no exercito curdo combatendo o ISIS na Síria e a situação das mulheres brasileiras, civis e de alta pluralidade social, oprimidas por um sistema patriarcal estrutural. Entender que existem abismos de diferença entre o contexto social, jurídico e histórico das mulheres curdas da região da Síria e Iraque e o contexto social, jurídico e histórico das mulheres brasileiras é algo bastante fácil, e é um passo importante pra não cair na falsa simetria e propostas ou comparações descabidas.

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Vi, também, ataques vindos de militantes do PSTU dizendo que ser contra a proposta é coisa de burguês, porque as mulheres da periferia precisariam de armas para se defenderem. Eu não moro na periferia e não sou mulher, mas acredito que seja importante pensar que o sistema de dominação patriarcal direto nas periferias seja, majoritariamente, dominado pelo crime organizado e policiais, principalmente onde há presença de UPP's. Nesse caso, é bastante complicado pensar em qual seria o papel destas mulheres, recebendo armas e treinamento da policia e voltando pra casa. Estariam elas em segurança, protegidas pelos seus novos revólveres, ou seriam vitimas, alvos e potenciais quadros cooptados para o confronto armado? Não posso opinar por diversos motivos, e exercícios de futurologia são um perigo em análise política, mas é bastante difícil acreditar que armas sejam a solução pra os problemas de violência de gênero, seja nas periferias ou em qualquer lugar.

Na mesma matéria, o partido afirma ser a favor da desmilitarização da polícia. Fica, então, a dúvida: como um grupo alega propor a desmilitarização da policia e, ao mesmo tempo, o ensino do uso de armas para a população feminina dado pela policia militar? Eles acreditam que a ideologia militar não se propagará no treinamento dado para essas mulheres? Ou acredita que essa adesão da população ao treinamento militar, de alguma maneira mágica, irá tirar força da ideologia militar presente na polícia?

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O que se propõe de verdade é a criação de milícias populares treinadas e regulamentadas pelas instituições de poder e repressão oficiais do estado como uma alternativa à ineficácia e opressão destas mesmas instituições, ou seja, uma contradição macarrônica. Talvez o partido imagine que todas as mulheres do Brasil vão se unir e organizar como classe homogênea revolucionária, combativa, socialista e anticapitalista. Sonhar é um direto, afinal.

Esse é o problema de se fazer política pela cartilha: atirar pro alto e acertar no próprio pé.

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