Tucanistão central
O "Tucanistão Central" é paralelamente o território simbólico e imaginativo, contudo, real e concreto, do exercício intermitente da amputação política das melhores praticas e inteligências sociais e políticas de nossa gente
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A ideia do "Tucanistão" não é minha. Tomo emprestado de Vladimir Safatle para, de algum modo, tentar descrever o vivido no longevo "reino dos tucanos" das terras do Goiás. Mas, o embornal de problemas é de longe tão difícil de descrever que sinceramente, é quase certo de que não conseguirei realizá-lo.
De outra maneira, de onde se deve partir para explicar o que não ocorreu, o que não se fez fato e objetividade? Talvez a explicação do fenômeno como possibilidade, como proposta a se realizar possa ser bom começo posto que, efetivamente, é do que se trata. Tratemos, pois, da abstração do fracasso, esse vivo e incômodo mal-estar presente na vida dos que ousam viver no "Tucanistão Central".
Terra desgovernada e governada pela violência, por leis jamais cumpridas e pela falência do público e ainda assim, cinicamente cantada e decantada pelo governo estadual como exemplo de eficiência administrativa.
O que se vive hoje? Dentre várias tragédias e vácuos administrativos, pululam salários desvalidos, repartidos e esmigalhados em frações miúdas e ordinárias que se perdem a olhos nus; educação afundada na falência institucional; no desalento dos profissionais e; no fim pedagógico de qualquer sorte de proposta eminentemente formativa, integradora ou aglutinadora para os milhões de estudantes goianos, pobres, pauperizados e profundamente ciosos de algum horizonte real pela via da educação formal.
Perillo, o gelatinoso tucano, refunda a lógica das antigas capitanias hereditárias que, como se sabe, fora essencial para a fundação do poder na América portuguesa, ou seja, poder surgido e assentado no latifúndio, no despotismo do donatário de então e na longevidade do poder mandonista de então.
O que acontece com as atuais regiões de Goiás senão o "donatarismo" puro e simples incorporado nas figuras de oligarcas, mafiosos, chefes políticos ou patriarcas de extrema direita e que atravancam das mais distintas formas o desenvolvimento social, a emancipação popular e a atuação livre e autônoma do povo?
Goiás, na lógica do "Tucanistão Central" foi todo ele fragmentado em novas capitanias hereditárias onde o poder propositadamente concentrado pelo torvelinho do capital do agronegócio com a ainda colonial "fazenda goiana" é sinônimo de repressão social, devastação ambiental e muito atraso social e político. Nada, além disso!
O PSDB goiano teve o logro de reinventar o passado, de reatualizar nossas maldições sócio-históricas e de aprofundar as mais velhas e pervertidas tradições políticas no cotidiano da vida social deste Estado de finanças públicas esvaziadas, de contas perdidas, de investimentos mirrados e ineficazes e de dramas sociais insolúveis a partir das angulares do neocolonialismo tucano "perillo-peessedebista".
O "Tucanistão Central" é paralelamente o território simbólico e imaginativo, contudo, real e concreto, do exercício intermitente da amputação política das melhores praticas e inteligências sociais e políticas de nossa gente porque, como se bem sabe, a verdadeira política, aquela feita nos meandros e interstícios da solidariedade orgânica da vida do povo e de comunidades persistentes em se manterem íntegras neste Goiás de cana e latifúndios antimodernizantes desaparece na indiferença incompetente e vaidosa de Perillo, na assepsia política, uniformizadora e disciplinadora dos seus representantes locais, os novos donatários do "Tucanistão Central" e no enquadramento das resistências políticas sérias.
O "Tucanistão Central" é a falência de qualquer horizonte minimamente sério de integração social, econômica e política de Goiás, é o reavivamento dos nossos maiores temores e fracassos políticos e a refundação do novo coronelato a gerir as partes de Goiás e que jamais se tornarão um todo.
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