Todos merecem Gilmar Mendes

Muita coisa não funciona no Brasil mas Gilmar Mendes não está entre elas. Positivo e operante, nunca falha. Dias atrás, mandou soltar Geraldo Vilela, ex-diretor da Dersa, a empresa do governo paulista que constrói e administra rodovias. Antes, concedeu liberdade a Paulo Preto, operador do PSDB desde priscas eras. Vilela e Preto são acusados pelo MPF de desvio milionário de recursos públicos

Brasília - Presidente do TSE, Gilmar Mendes, faz balanço dos trabalhos do tribunal e apresenta dados sobre prestações de contas de campanhas referentes às eleições municipais deste ano (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Brasília - Presidente do TSE, Gilmar Mendes, faz balanço dos trabalhos do tribunal e apresenta dados sobre prestações de contas de campanhas referentes às eleições municipais deste ano (Marcelo Camargo/Agência Brasil) (Foto: Ayrton Centeno)


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Muita coisa não funciona no Brasil mas Gilmar Mendes não está entre elas. Positivo e operante, nunca falha. Dias atrás, mandou soltar Geraldo Vilela, ex-diretor da Dersa, a empresa do governo paulista que constrói e administra rodovias. Antes, concedeu liberdade a Paulo Preto, operador do PSDB desde priscas eras. Vilela e Preto são acusados pelo MPF de desvio milionário de recursos públicos. Na mesma semana, liberou também o empresário Milton Lira, investigado por suposta participação em esquema fraudulento nos fundos de pensão dos Correios e do Serpro. 

         Foram três momentos lindos de aplicação do direito. Tão admiráveis que suscitam  divagações. Por exemplo: todo mundo deveria ter direito a um Gilmar Mendes para chamar de seu. É absolutamente injusto que alguns o tenham e outros, a maioria, não. Aliás, os últimos anos no Brasil explicitaram cabalmente a insuficiência do lema da Revolução Francesa para a efetivação plena da cidadania. Na Retrolândia Temerária, a proposta de “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”, perene horizonte republicano, caiu em desuso. Não passa de bagatela. Aqui, impõe-se corrigir a divisa para “Liberdade, Igualdade, Fraternidade e Gilmar Mendes”. Só funciona assim.

        No país das excepcionalidades, desfrutar de um Gilmar Mendes converteu-se no grande sonho de consumo. Depois da casa própria, da casa na praia e da viagem à Disney, um Gilmar Mendes. The Brazilian Dream.

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       Se cada um dos 200 milhões de súditos de Michel, o Mínimo, tivesse acesso ao seu Gilmar Mendes é bem provável que as pesquisas de opinião mostrassem o populacho sendo muito mais afetuoso com o triste monarca do Jaburu. Tornar-se-ia menos penosa a vida do fecundo marqueteiro real. Saciada a sofreguidão das massas por Gilmar Mendes, os índices de aprovação de seu patrão afagariam os cornos da Lua. Poderia até liberar aquelas bobagens diárias do chefe no twitter que ninguém mais daria a mínima.

        “Gilmar Mendes for all” seria  o grito emancipatório que pavimentaria a reeleição de Michel, o Mínimo, conduzido nos ombros da multidão não para ser jogado no lago Paranoá junto com Picolly, o cachorro da primeira-dama, mas para alçar os píncaros da glória. 

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        A premência da produção de Gilmar Mendes, capaz de suprir a demanda reprimida, desafiaria a criatividade da indústria nacional. Resolvido o problema, logo a retomada da atividade industrial, até então uma quimera, faria os números do PIB saltarem e dançarem de alegria. 

       Porém, demagogia à parte, tenhamos um pouco de realismo, por favor: nem todos poderiam desfrutar de um Gilmar Mendes. Artigo de elaboração tão complexa atingiria preço elevado e ainda sujeito a violentas oscilações para cima provocadas por aquelas situações de maior urgência do ativo. Não seria de duvidar que fosse até submetido à cotação cambial. Nos guichês das casas de câmbio poderíamos captar diálogos vivazes assim:

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      -- Tenho um Toffoli, dois Fux e três Rosa Weber. Quero trocar por um Gilmar Mendes...

      -- Sinto muito mas o senhor não reparou na nossa tabela do dia...

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      -- Não me diga que subiu o Gilmar...Deixa ver... O quê? Um Gilmar está valendo 12 Rosa Weber? Ou sete Toffoli? E cinco Fux? Mas isso é um roubo....

      -- Se o cliente não gostou pode ir no câmbio da esquina. Lá estão pedindo 15 Rosa Weber x 1 Gilmar...

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         Para acelerar o processo, Michel, o Mínimo, providenciaria uma emenda constitucional. Como Gilmar Mendes é dispositivo que serve não somente para se defender dos inimigos mas também para atacá-los de modo letal, nosso soberano sem soberania copiaria a segunda emenda da Constituição dos EUA. É aquela que garante aos gringos o direito de portar armas e mandar bala. Traduzida e adaptada, nossa emenda ficaria assim: “Por necessário à segurança de um Estado livre, o direito do povo de possuir e usar Gilmar Mendes não poderá ser impedido”.

        Claro que os eternos descontentes tudo fariam para travar o acesso democrático da população às benesses de Gilmar Mendes. Viriam com aquele trololó dos direitos humanos, que o povaréu ficaria a mercê do uso excessivo de Gilmar Mendes por parte dos bem aquinhoados, que aumentariam os crimes de ódio, as chacinas e blá-blá-blá. 

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        Como resposta armada e imediata, os cidadãos de bem reagiriam inspirados pela National Rifle Association, a NRA da pátria-mãe: fundariam a National Gilmar Mendes Association (NGMA) para atuar junto aos poderes da nação, fazendo amigos, influenciando pessoas e defendendo o sagrado direito de terem e usarem Gilmar Mendes. Com o poder do lobby, a força da grana que ergue e destrói coisas belas e uma boa conver$a convenceriam o Congre$$o da superioridade dos seus argumento$. Chegaríamos, enfim, à cabeceira da ponte para o futuro.

 

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