Para a Justiça, só gerentes devem pagar por crime da Vale

Já vai longe o tempo em que o Ministério Público tinha forte atuação na área dos direitos humanos, especialmente no tocante aos abusos de autoridade e crimes cometidos por agentes do Estado. Desde que foi contaminado pela partidarização e militância política de direita...

Para a Justiça, só gerentes devem pagar por crime da Vale
Para a Justiça, só gerentes devem pagar por crime da Vale (Foto: REUTERS/Adriano Machado)


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Já vai longe o tempo em que o Ministério Público tinha forte atuação na área dos direitos humanos, especialmente no tocante aos abusos de autoridade e crimes cometidos por agentes do Estado.

Desde que foi contaminado pela partidarização e militância política de direita, amplos setores do MP e do Judiciário têm pautado sua atuação pela busca obsessiva por notoriedade midiática, através de uma cruzada seletiva contra a corrupção.

Na mesma semana em que, esbanjando cinismo e falta de senso de humanidade, o presidente da Vale, Fábio Schvartsman, esteve no Congresso Nacional para fazer uma defesa apaixonada da empresa e, praticamente, ignorar os mortos e as famílias enlutadas, oito funcionários da mineradora foram presos.

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Ao deparar com a chamada da notícia da prisão, nesta sexta-feira, 15/2, confesso ter sido tomado inicialmente por uma dose cavalar de ingenuidade ao imaginar que Schvartsman (que na sessão da Câmara dos Deputados fora o único dos presentes a se negar a ficar de pé durante o minuto de silêncio em homenagem às vítimas de Brumadinho) e seus pares da alta cúpula da Vale estivessem entre os detidos.

Ledo engano. Todos os oito presos em Minas, Rio e São Paulo, em ação conjunta do MP de Minas e das polícias civil e militar do estado, são de nível técnico-gerencial. A exemplo do que ocorrera nos dias seguintes ao megacrime socioambiental, quando alguns engenheiros foram presos, e depois soltos, a direção da Vale permanece blindada.

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E julgar pelas declarações públicas do presidente e de outros diretores da Vale, a impressão que se tem é que estão ávidos por virar a página e tocar a vida, creditando, como sempre, o saldo macabro de 166 mortos confirmados a uma lamentável fatalidade. Não custa lembrar que o número de mortos passará de 300, pois é grande a quantidade de desaparecidos.

Enquanto a ganância capitalista produz desastres em série no Brasil, o sistema criminal de justiça segue na sua complacência com o capital. Chega a ser inacreditável que diante de sucessivas cenas de horror , com centenas de homens, mulheres, jovens, crianças e idosos perdendo a vida com pulmões cheiros de lama, corpos carbonizados ou esmagados pelos desabamentos provocados pelas chuvas, servidores regiamente pagos pela sociedade para aplicar a lei curvem a espinha para os endinheirados.

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Quando muito providenciam a apresentação de "bois de piranha", afinal alguma satisfação é preciso dar aos que clamam por justiça. Se de um governo de imbecis, retardados mentais e fundamentalistas religiosos, como o de Bolsonaro, só se pode esperar declarações como a de um ministro que recomendou cautela nas apurações de Brumadinho "porque o mercado pode reagir mal", cabe às forças democráticas do país subir o tom na exigência de justiça.

Mas é preciso saber separar o joio do trigo. O exemplo de Moro e dos procuradores da República de Curitiba na condução da Lava Jato deve ser evitado a todo custo. Sob o pretexto de combater a corrupção, a Lava Jato destruiu o pujante setor de óleo, gás e engenharia do país, provocando o desemprego de milhões de trabalhadores e o fechamento ou o encolhimento de empresas que desempenhavam papel estratégico no desenvolvimento nacional.

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Em qualquer democracia do planeta os executivos são punidos, se contra eles forem provados malfeitos, mas as empresas são preservadas. Aqui se joga fora o bebê junto com a água do banho. Vale salientar que a poderosa multinacional alemã Siemens chegou a colaborar com Hitler. Com a derrota do nazismo seus dirigentes simpatizantes do Terceiro Reich foram afastados e presos, mas a Siemens foi em frente.

Entre os partidos social-democratas e comunistas da Europa há décadas vigora uma regra não escrita, uma espécie de compromisso moral, que leva o dirigente máximo desses partidos à renúncia ante uma derrota eleitoral acachapante. Assumem, portanto, a responsabilidade pelo revés. Depois o partido discute com calma, as culpas e os erros táticos e estratégicos.

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Quem dera que este conceito radical de responsabilidade chegasse a estas plagas. Peguei este atalho pela política do velho mundo para finalizar este texto com uma triste constatação: se no Brasil a vida das pessoas não valesse tão menos do que o dinheiro, as direções da Vale e do Clube de Regatas Flamengo já teriam renunciado.

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