Pesquisa revela que mais pobres são liberais. E agora?

Pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo com moradores da periferia de São Paulo traz à tona todos os erros que a esquerda cometeu desde o governo Lula, muitos marcados pela falta de um trabalho de base contundente nos meandros da classe trabalhadora e mais pobre



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Pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo com moradores da periferia de São Paulo traz à tona todos os erros que a esquerda cometeu desde o governo Lula, muitos marcados pela falta de um trabalho de base contundente nos meandros da classe trabalhadora e mais pobre.

As fraquezas da esquerda foram vistas como oportunidade pelo capital. Como tudo que vem dele, os pensamentos industrializados e massificados, que precisam de pouca reflexão, uma vez que quem toca o tambor é o dinheiro, são de fácil assimilação. A pesquisa mostra que, no geral, os entrevistados vivem uma "rotina agitada e sufocante", transformando a política num assunto de pouca ou nenhuma prioridade. Um campo fértil de exploração para o capitalismo. Refletir sobre alternativas ao que se vive no dia a dia exige estudo, pensamento crítico, debates. Exigir isso de um grupo que luta para sobreviver é injusto.

Estamos falando de um grupo que o liberalismo mais massacra, mas que tem seguido seus preceitos sem muitas escolhas, colocando à prova a fragilidade de nossa democracia. A democracia não é atender a maioria e sim que todos os grupos tenham voz igualmente para que a população possa tomar suas decisões. Os entrevistados consomem a maior parte das informações pela grande mídia, que não dá a mesma voz aos grupos e discursos políticos existentes. Novelas, jornais, programas em geral trazem como temática o que é de fácil absorção para massa. Nem de longe as emissoras cumprem seus papéis de informar como deveriam, uma vez que são concessões públicas. Os programas que têm trazido pautas mais progressistas, mesmo de forma ainda comedida, recebem duras críticas daqueles telespectadores que eles mesmos alimentaram de ignorância durante todos esses anos.

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O PT usou o capital para se aproximar de seus eleitores, mas usou ferramentas econômicas que iam de encontro aos pensamentos de esquerda, quando decidiu, por exemplo, educar por meio das universidades privadas, em vez de valorizar as públicas, dar lucros estratosféricos aos bancos com crédito fácil, colocando milhares de brasileiros em situação de endividamento, tirar impostos para que a indústria vendesse como nunca e, por fim, não democratizar a mídia, deixando espaço livre para que ela continuasse a perpetuação da cultura capitalista como a única possível, sem limites. A economia, cíclica como é, começou a se retrair e junto começou a retração do apoio da população.

Toda a retórica da esquerda passou a ser vista como uma grande reclamação utópica e não como, ao menos, uma opção de coexistência com o capitalismo para a diminuição da desigualdade social. Desigualdade essa que é inebriada pela meritocracia e a falta de discernimento e reconhecimento de quem se é na sociedade. Os entrevistados acreditam que trabalhadores e patrões são diferentes, mas que um precisa do outro. Essa socialização do conceito do trabalho passa longe das pretensões do empresariado, vide os lobbys feitos pelos corredores do congresso para a aprovação da lei da Terceirização. Essa falta de reconhecimento está atrelada à ideia de classe média formulada durante o governo do PT. Pobreza passou a ser sinônimo apenas de falta de casa e comida e não é, nunca foi e nunca será. Temos milhares de pobres se achando classe média, então como desenvolver políticas públicas para os pobres, se quem deveria apoiar não se vê como um?

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O Estado acaba sendo o grande catalizador dos problemas, como se fosse uma entidade única, que não sofre influências dos empresários, elites e corporações, afastando de parte da população a ideia da luta de classes. Como diz a pesquisa, o cidadão acaba lidando com o Estado por meio de uma relação clientelista: eu pago, portanto, tenho o direito de cobrar.

E essa lógica de gestão privada se estende à criação de valores. A competitividade capitalista impera também nessa parte da população, que tem todo o direito de acreditar no que é melhor para si, mas é um dever daqueles que esperam uma mudança social questionar se ela está recebendo informação de forma democrática para que consiga tirar conclusões sobre os acontecimentos que envolvem seu cotidiano. Ser alguém dentro da lógica capitalista é um desejo dos entrevistados e isso mostra que existe pouca informação de como sua vida é dificultada por grupos de interesse que precisam de uma base de qualificação limitada para que continuem gerando lucros e que lutem cada vez menos por direitos. A criminalização dos movimentos sociais e das greves é um grande indicativo dessa intenção de parte do empresariado, que reflete na decisão dos políticos, influenciados diretamente pelas elites.

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E como prova de que tudo é possível com esforço, os entrevistados apontam figuras como Lula, Silvio Santos e João Dória Jr. como exemplos do potencial da meritocracia, mesmo que as histórias sejam contadas pela metade, como caso de Dória ter começado a trabalhar jovem, porém na empresa da família.

Nessa escala social o desejo se mostra um só: subir por meio do consumo. Porém, esses grupos dos quais muitos desses entrevistados querem fazer parte não têm o menor interesse de compartilhar lugares, experiências e bens em comum com a parcela mais pobre da sociedade. Não existe rico sem pobre. Seguimos numa construção de uma sociedade individualista, que desvaloriza o público e que reforça os abismos sociais. Tudo isso de forma calmamente aceita até mesmo por aqueles que mais serão prejudicados.

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A esquerda tem o dever de ouvir com atenção essas demandas e buscar formas de trazer outras ideias a esses grupos para que eles possam desenvolver um senso crítico em cima do que ouvem e se tornarem cidadãos empoderados. O liberalismo político é bastante agradável aos olhos e às expectativas de quem vê em si a chance de conquistar espaços na sociedade, mesmo em meio a toda adversidade, porém, ele sempre vem atrelado ao econômico, que é um verdadeiro funil de boca estreita que separa quem pode ou não viver as benesses promovidas pelo capital. Isso tem que ser feito sem paternalismo, sem tutela e também sem a hipocrisia dos mais privilegiados que viram nesse estudo a chance de desmoralizar a esquerda, usando os pobres justamente da forma que eles não querem, como bode expiatório de qualquer movimento, seja de direita ou de esquerda.

Leia a pesquisa na íntegra aqui.

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