Silêncio do oráculo do império decadente

O titular da Casa Branca tenta evitar defecção da antiga aliada Europa rumo à velha Rússia, cheia de gás, com renascimento nacionalista putinista, ancorado na parceria chinesa de Jiping, no compasso do desastre de Tio Sam no Oriente Médio, com derrocada na Síria

Silêncio do oráculo do império decadente
Silêncio do oráculo do império decadente


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Kissinger, oráculo dos presidentes americanos, desde Nixon – espécie de Delfim Netto, por aqui, chamado a palpitar, como garantia de qualidade, como acontecia, antes, com Simonsen –, é um tremendo sabonete.

Prova-o sua sensaboria em entrevista a Edwar Luce, do Financial Times, publicada pelo Valor Econômico, no caderno de cultura semanal EU&.

Ele sabe que o império de Tio Sam não é mais aquele.

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Por isso, falar o menos possível é o mais recomendável, publicamente.

Dívida imensa, próxima do PIB, e dólar tatibitate não representam mais garantia frente às cogitações das bolhas emergentes, como perigo maior para sua saúde, dependurada em precipícios.

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Alguma dúvida sobre isso, necessário ler, para se esclarecer, Gillian Tett, "O ouro dos tolos", 248 pgs, Campus/Elsevier.

Ali são, espetacularmente, descritas as salvaguardas do dólar relacionadas às capacidades cadentes dos bancos americanos e ingleses de reinventarem, continuamente, fórmulas mirabolantes de como fugir aos riscos.

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Destaque histórico para a experiência fulgurante e desastrosa dos derivativos de crédito, fantástica invenção do J.M. Morgan, nos anos 1980/1990, copiada, sofregamente, por todos os concorrentes, apavorados com as inadimplências, que suas invenções bancárias produziram e produzem, implicitamente, até implosão do crash de 2008.

No mundo das finanças especulativas, com o diz Hegel, "tudo muda, só não muda a lei do movimento segundo a qual tudo muda".

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Túmulo dos poderosos
Mas, Kissinger, como Delfim, é um túmulo para a opinião pública e uma incógnita para os poderosos em tempos de incerteza total para a estratégia unilateralista do império, acossado pela proposta multilateralista do desafio eurasiático, capitaneado por China e Rússia, no comando dos BRICs, transformado em banco de investimento, concorrente do Banco Mundial etc.

O ex-chanceler de Nixon, consequentemente, vira um enrolão para os que o abordam, como Luce, do Times, desejoso de interroga-lo sobre Trump, após o encontro de Helsinque, com Putin.

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Sabe o velho oráculo que não se deve ir de encontro ao perigo, assim, tão impetuosamente.

Vai, como dizia Brizola, comendo pelas beiradas.

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Deixa a pista de que os tempos são outros.

A estratégia do Partido Democrata, com Hillary, perdeu a parada para o loirão, simplesmente, porque os americanos não suportam mais a dobradinha mortífera do financiamento especulativo à guerra e suas consequências em forma de instabilidade dos mercados.

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Apavoram os sobrinhos de Tio Sam os recorrentes estouros de bolhas especulativas, acumuladas desde quando Nixon, em 1972, descolou o dólar do ouro, deixando a moeda flutuar, selvagemente, desembocando, finalmente, no repeteco de 1929, o crash de 2008, muito mais potente.

Fuga dos aliados
Os aliados não confiam mais na estratégia imperialista democrata dos Clinton, aliados dos tucanos tupiniquins, vendilhões da pátria, de fazer dívida e passar o papagaio para os outros, como os europeus, insatisfeitos com Trump e seu protecionismo nacionalista.

As exportações europeias, para o mercado americano, que recuperaram a Europa, arrasada pela segunda grande guerra, livrando-a das garras do comunismo soviético, c'est fini.

Trump, agora, quer repatriar dólar, considerando que sua disseminação, no pós-guerra, para evitar domínio do comunismo internacional, virou arma dos concorrentes dos americanos, para deslocar indústrias do império em seu próprio território.

Completando dois anos na Casa Branca, Trump, com seu nacionalismo, põe a economia para crescer na casa dos 3,5%, 4% do PIB, mantendo taxa de desemprego na casa dos 4%, 5%, considerado satisfatório pleno emprego.

É o que, do seu ponto de vista de representante do capitalismo produtivo anti-especulativo , interessa, em termos políticos eleitorais, para alcançar segundo mandato.

American first contra os democratas praticantes do discurso globalizante, eis a estratégia do loirão, para evitar escalada do desemprego, diante da propensão à implosão especulativa desenfreada da dívida pública, impulsionada pela economia de guerra keynesiana democrata.

A dívida pública, que cresce no lugar da inflação, sob modelo keynesiano de guerra, sustentáculo do colosso imperial, desde o pós guerra, virou, depois do crash de 2008, perigo total de volatilidades explosivas.

Os derivativos de créditos criados pelos bancos para afastar as inadimplências produziram o seu contrário, desembocando, agora, em guerras comerciais, ante-sala de possível guerra atômica.

Fuga das guerras
Trump é o desejo americano de sair das guerras, a fim de diminuir déficit público, expresso na existência de 180 bases militares americanas, espalhadas pelos cinco continentes.

Choque frontal com o poder militar imperial.

Por isso – olha o perigo! – é candidato a virar um Kennedy, por aí.

Os tiros dos belicistas já se disparam contra ele.

Virou inimigo do Pentágono, dos falcões da guerra.

Kissinger, nesse contexto, vira um túmulo.

Diante da Rússia aliada à China, avançando pela Eurásia, no século 21, escrevendo página histórica diversa do capitalismo de Tio Sam, Kissinger fica na expectativa, em vez de teorizar com alguma dose de certeza.

O que há, no momento, é a "Certeza da dúvida", Paulo Francis.

Uma coisa Kissinger sabe e Trump entende: não dá para enfrentar de peito aberto Putin e Jiping.

Kissinger, secretamente, comunga com Trump.

O velho diplomata está consciente da força oriental ancorada no mercado eurasiático, do qual os BRICs tentam apossar-se, com cada vez mais sofreguidão, isolando Tio Sam, enquanto deixam porta aberta aos europeus, alternativa à aventura de achar que a América ainda tem a força incontrastável.

Por isso, a guerra comercial de Trump acaba de engasgar com europeus.

Recomposição com aliados
O titular da Casa Branca tenta evitar defecção da antiga aliada Europa rumo à velha Rússia, cheia de gás, com renascimento nacionalista putinista, ancorado na parceria chinesa de Jiping, no compasso do desastre de Tio Sam no Oriente Médio, com derrocada na Síria.

O loirão da Casa Branca jogou a toalha: sabe que não aguenta, sem o esteio da Europa/OTAN, a disputa com China-Rússia, irmanadas no potencial do mercado eurasiático, nova vanguarda comercial global.

Sobretudo, Trump, como experiente comerciante de imóveis, teme que se a China jogar no mercado suas reservas de 4 trilhões de dólares, transforma a moeda de Tio Sam em papel de parede, da noite para o dia.

A dívida pública, como dizia Colbert, ministro das finanças de Luiz 14, é o nervo vital da guerra.

Trata-se de algo muito além do que supõe visão mecanicista ingênua dos neoliberais, de achar que a moeda é mero valor de troca e não capital vital, estatal, poder sobre coisas e pessoas.

O problema é que a dívida pública americana deixou de ser o dínamo da economia mundial, para se transformar, diante do seu próprio excesso, em perigo de implosão hiperinflacionaria global.

O chefão da Casa Branca sentiu cheiro de pólvora queimada.

Os Estados Unidos conhecem a lição da história, porque a escreveram.

Depois da guerra, não deixaram a Europa cair nos braços da União Soviética, combatendo-a com guerra fria, para não perder hegemonia mundial, de onde o dólar saiu poderoso.

Agora que o dólar, depois de vários tombos especulativos, desde os anos 1970, não é mais aquela Brastemp, tudo vira incógnita, se Tio Sam deixa a Europa, sem gás e óleo, render-se a Putin-Jiping.

O boquirroto chefão da Casa Branca chamou a União Europeia para conversar, em atitude mais humilde, a contragosto da natureza do império, cujas bombas atômicas se desmancham, se a bomba maior da dívida implodir.

Kissinger, diante da insistência de Edward Luce, para aprofundar no jogo de xadrez que Trump joga contra a dupla Putin-Jiping, demonstrando sua vulnerabilidade, acabou perdendo apetite para comer o robalo que lhe fora servido à mesa pelo Financial Times.

Aceitou a recomendação do chef para embrulhar o peixe e comer mais tarde em casa com sua mulher.

O velho oráculo da política externa americana sabe que Tio Sam não funciona mais sem doses maciças de viagra, correndo perigo de ataques cardíacos.

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