Pedro Parente mais uma vez mente acintosamente

Apesar de o presidente da Petrobras continuar com sua peregrinação em diversos órgãos como TCU, STJ e STF, afirmando despudoradamente e em tom de ameaça, que sem venda de ativos a Petrobras pode até necessitar de aporte de recursos do Tesouro, o balanço de 2016 mostra exatamente o inverso

27/07/2016- Brasília - Presidente da Petrobras, Pedro Parente, durante coletiva de imprensa no Palácio do Planalto após encontro com o presidente interino Michel Temer (José Cruz/Agência Brasil)
27/07/2016- Brasília - Presidente da Petrobras, Pedro Parente, durante coletiva de imprensa no Palácio do Planalto após encontro com o presidente interino Michel Temer (José Cruz/Agência Brasil) (Foto: Cláudio da Costa Oliveira)


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Mentira tem perna curta. Apesar do atual presidente da Petrobras, Pedro Parente, continuar com sua peregrinação em diversos órgãos como TCU, STJ e STF, afirmando despudoradamente e em tom de ameaça, que sem venda de ativos a Petrobras pode até necessitar de aporte de recursos do Tesouro, o balanço de 2016 recentemente publicado mostra exatamente o inverso e de forma cristalina.

Aliás, esta ladainha faz lembrar artigo meu publicado em maio de 2016 que saiu em muitos blogs e sites, às vezes com o título "Desrespeito do jornalista Sardenberg" outras vezes com o título "Petrobras quebrada? As desinformações do jornalista Sardenber" que vocês vão encontrar no Google. Na época Carlos Alberto Sardenberg havia escrito um artigo, divulgado por todo o Brasil, dizendo que a Petrobras estava quebrada e que para se salvar necessitaria de um acordo judicial ou de aporte de recursos do Tesouro. Pois bem, 2016 passou e não tivemos nenhum acordo judicial e muito menos aporte do Tesouro, pelo contrário, a Petrobras em dezembro de 2016 adiantou R$ 15 bilhões para o BNDES, aliviando o caixa do banco. O pseudo-jornalista Sardenberg não se retratou e tudo ficou por isso mesmo.

Mas a campanha contra a Petrobras foi tão forte que ainda hoje, analistas aparentemente insuspeitos, por falta de uma análise mais criteriosa, continuam a acreditar que a empresa tem problemas de curto prazo.

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O que mais impressiona é ver o próprio presidente da empresa espalhar este tipo de mentira. Mas qual o objetivo em denegrir o nome da Petrobras? Por que estes prejuízos enormes, fajutos, fabricados, e altamente contestados? Muito simples, o objetivo é formar uma opinião pública que aceite como normal o desmonte da empresa, com a venda de valiosos ativos a preço de banana, e a entrega do pré-sal.

Mas os números do balanço falam mais alto, fazendo com que eles mesmos acabem se contradizendo. Em entrevista coletiva feita em janeiro passado (busquem no Google), o diretor financeiro Ivan Monteiro, se gabou com jornalistas de que a empresa, independentemente de venda de ativos ou captação de novos recursos, dispõe de caixa suficiente para cobrir seus compromissos pelos próximos 2,5 anos. Esta é a verdade que o balanço mostra apresentando um caixa robusto de US$ 22 bilhões e uma liquidez corrente de 1,8 (a maior nos últimos 5 anos), no final de 2016. Estes números falam por si mesmos.

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Nos comentários sobre o balanço de 2016 a empresa afirma: "O resultado de 2016 foi marcado por uma melhoria significativa no nosso desempenho operacional ao longo do ano". Mas onde está esta melhoria operacional se o lucro bruto teve uma queda de 9% em relação a 2015, causada por expressiva queda da receita bruta ? Ou será que a receita não faz mais parte do desempenho operacional? A receita bruta que em 2015 foi de R$ 401 bilhões caiu em 2016 para R$ 357 bilhões, o menor nível desde 2012.

Esta queda na receita bruta não é bem explicada pela empresa, mas sabemos que apesar de Pedro Parente ter poder de estabelecer o preço dos combustíveis no Brasil, não se preocupou ou não quis reconquistar o mercado perdido para importadores independentes. Com isto boa parte da receita da Petrobras foi transferida para estes importadores dentre os quais destacamos a Ipiranga (Ultra/Itau) e Raizen (Cosan/Shell).

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É importante lembrar que estas empresas (Ipiranga e Raizen) interagem com a Petrobras não só na distribuição de combustíveis, mas também tem fortes interesses no processo de venda de ativos em andamento.

O Grupo Ultra, onde atuava o diretor financeiro Ivan Monteiro antes de vir para a Petrobras, acaba de adquirir a Liquigas por um preço que, segundo estudo da Associação dos Engenheiros da Petrobras –AEPET, é equivalente ao valor das botijas de gás estampadas com a logomarca "Liquigás" existentes no mercado brasileiro. Mais espantoso é o fato de que a venda da Liquigas foi coordenada pelo próprio Banco Itaú, sócio da Ultra. Também na negociação da Nova Transportadora do Nordeste –NTS, o Itaú exigiu uma participação de 9% no consórcio para fechamento do negócio.

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Provavelmente esta transferência de receita da Petrobras vai contribuir para que estas empresas (Ipiranga e Raizen), reforcem seus caixas para compra da cereja do bolo: a BR Distribuidora.

Lembramos que a revista Exame de julho/2016 (Melhores e Maiores) em função da receita, classifica a BR Distribuidora como a segunda maior empresa do Brasil, superada apenas pela Petrobras. A Ipiranga é classificada em terceiro e a Raizen em quarto. A Vale aparece apenas na quinta posição.

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É evidente que estas duas empresas, Ipiranga e Raizen, estão prontas para comprar a BR Distribuidora e provavelmente, se nada for feito em contrário, em breve veremos a conclusão desta negociata espúria.

A dívida da empresa, que Parente diz ser muito elevada, é inferior a sua receita anual e perfeitamente compatível com os investimentos feitos no pré-sal cujos retornos começam agora a aparecer , mas que se tornarão mais expressivos à partir de 2020 com a entrada em operação de Libra. Na verdade a dívida é perfeitamente administrável, não havendo necessidade de venda de ativos. Para isto a empresa dispõe de uma diretoria financeira responsável pelo seu equacionamento.

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Tenho visto alguns especialistas menos atentos, tentando atribuir o crescimento da dívida da Petrobras à variação cambial. Esta é uma análise de curto prazo (últimos 3 anos ) e vendo somente a dívida em reais (R$).

Se olharmos a evolução da dívida bruta em US$, portanto eliminando a variação cambial, vamos ver que em dezembro de 2009 ela era de US$ 57 bilhões, e alcançou seu ápice em dezembro de 2014 quando chegou em US$ 136 bilhões. A dívida é consequência direta dos investimentos da empresa, que no período 2010/2014 superou US$ 200 bilhões, uma média anual superior a US$ 40 bilhões. Como a maturação dos projetos em petróleo levam mais de 10 anos, o retorno efetivo começará a ocorrer à partir de 2020.

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Em dezembro de 2015 a dívida havia caído de US$ 136 bilhões para US$ 126 bilhões. Em dezembro de 2016 a dívida sofreu nova queda, agora para US$ 118 bilhões. Pedro Parente se regozija disto, como se fosse obra de sua administração. Entretanto podemos verificar que em junho de 2016 quando Aldemir Bendine transferiu a presidência para Parente ele afirmou: "Estou entregando uma empresa com um caixa de R$ 100 bilhões". Ora, em junho de 2016 R$ 100 bilhões representavam US$ 30 bilhões. Como o caixa terminou 2016 em US$ 22 bilhões, podemos dizer que a redução da dívida em 2016 ( de US$ 126 bilhões para US$ 118 bilhões), foi feita com a utilização de parte do caixa deixado por Bendine.

Com tantas mentiras oficializadas pela atual administração da Petrobras, resta-nos esperar que a CVM não se curve a pressões políticas e atenda ao solicitado por seus técnicos, exigindo o refazimento dos balanços dos últimos anos corrigindo não só a inexplicável prática de "hedge account" bem como os absurdos "impairments" . Se isto for feito, o prejuízo de 2016 será transformado inevitavelmente num substantivo lucro, obrigando a Petrobras a distribuir dividendos a seus acionistas, bem como a tão almejada e merecida PLR aos petroleiros. Vamos aguardar.

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