Eu e meu velho All Star

Quando você é pobre sabe que em algum momento essa sua condição lhe é esfregada na cara. Muitas vezes diariamente, por você se sentir a pessoa mais pobre do planeta, o que em si já é um sentimento de humilhação existe primeiro dentro de você

Eu e meu velho All Star
Eu e meu velho All Star (Foto: Dir.: ABR)


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Quando você é pobre sabe que em algum momento essa sua condição lhe é esfregada na cara. Muitas vezes diariamente, por você se sentir a pessoa mais pobre do planeta, o que em si já é um sentimento de humilhação existe primeiro dentro de você. E não adianta, isto lhe persegue por um bom tempo da sua existência. E só há um remédio para isto, é você assumir a sua condição social. Só assim haverá a sua liberdade interior.

Na minha juventude eu tinha duas amigas inseparáveis, Neide e Neidinha. Éramos tão próximos que mesmo eu já tendo casado, elas viviam me buscando em casa ou eu a elas para batermos perna, como se fala aqui no interior da Bahia, quando não tendo nada para fazer, inventávamos algo.

Naquele final de semana de um ano já distante, elas me convidaram para irmos a um casamento em um dia de sábado. E eu claro, mesmo não conhecendo os noivos, topei a empreitada. Um verdadeiro penetra.

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Se era um casamento eu teria que deixar meu chinelo "lap, lap" de couro. Teria que colocar um sapato. Foi quando lembrei que só tinha um All Star. Velho tênis surrado que eu usava dia sim, dia sim. Usar este tipo de calçado é antes de tudo um estilo. No meu caso, além do "estilo" era o único que possuía. Eu acreditava nisto.

Mas lembrei que eu tinha, também, um sapato bege. Que esquecido pelo tempo só o descobri naquela data. Casamento pede algo mais social. Deixei meu tênis no canto e lá fui eu naquele final de tarde a Igreja de São Francisco de Assis, padroeiro da minha cidade. Desci pé as ruas e já perto de chegar meus pés doíam. Pediam o velho tênis.

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De longe vi as meninas em frente da igreja me esperando. Ao me aproximar as duas estavam sorrindo e cochichando entre elas. Lá me veio novamente aquele sentimento de pobre: elas com certeza estavam falando de mim.

Ao chegar junto delas, minhas amigas, ouvi uma dizer a outra com o sorriso estampa no rosto, "ele não veio com o Al Star". Caíram na risada.

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Naquele momento eu senti que ser pobre é algo perceptível pelas outras pessoas. Mesmo seus melhores amigos podem lhe julgar pela aparência.

Para que outro momento constrangedor como esse não aconteça, agora eu tenho dois pares e quando quero mudar, pego sapatos emprestados dos meus filhos.

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Ser pobre é uma merda.

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