Eu sou você amanhã

Temer e Macri são substâncias do projeto contra o qual as esquerdas da América Latina lutam. Lula, Dilma, Kirchner, Castro, Guevara, Morales, Correa, Mujica, Chávez, entre outra/os líderes, ousaram defender direitos básicos de quem produz as riquezas das nações, a classe trabalhadora

Presidente Michel Temer durante encontro com Presidente da República Argentina, Mauricio Macri (Olivos - Argentina 03/10/2016)
Presidente Michel Temer durante encontro com Presidente da República Argentina, Mauricio Macri (Olivos - Argentina 03/10/2016) (Foto: Enio Verri)


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Durante os governos Fernando Henrique Cardoso, com a ascensão vertiginosa do liberalismo colonizante sobre a América Latina, circulava no Brasil um bordão de uma campanha publicitária, de 1985, de uma vodka, que dizia: "Eu sou você amanhã". A brincadeira era uma referência à Argentina que, a partir de 1991, adotara as mesmas políticas que seriam praticadas pelo Brasil, anos mais tarde. O ex-presidente argentino, Carlos Menem, privatizou praticamente todo o País e reduziu drasticamente investimentos do Estado em seu desenvolvimento. Os US$ 40 bilhões auferidos com a liquidação do país foram pulverizados em dívidas com o mercado financeiro.

A piada denunciava a condição degradante a que chegaria o Brasil, caso mantivesse a mesma conduta subserviente ao mercado financeiro internacional, adotada por Menem. Porém, a piada se confirmou. Ao fim dos governos FHC morriam-se diariamente 300 brasileiros de fome. Uma vergonha para uma nação cuja área agricultável é mundialmente invejável. Ao invés de investir na produção para gerar empregos e fazer a roda da economia girar, Menem baixou uma inflação de 5.000% para 2%, hipotecando o patrimônio nacional e provocando uma hecatombe social. Entre 1994 e 1999, o desemprego na Argentina chegou a 30%.

O ano de 2001, pós Menem, talvez tenha sido o mais agudo da crise Argentina, ainda sob o domínio do Fundo Monetário Internacional. Em menos de 15 dias, o país teve cinco presidentes e dois ministros da Economia. O desemprego chegou a 70% da população jovem. Os 10% mais ricos ganhavam 26 vezes mais que os 10% mais pobres. Enquanto a menor renda dos mais ricos era cerca de US$ 1,3 mil, a mais alta dos mais pobres não passava de US$ 145. Além, é claro, do famigerado corralito, mais uma chantagem do mercado financeiro, que restringiu tanto saque quanto depósito, até que o Estado recorresse ao FMI para garantir os depósitos dos correntistas.

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Era a essa indigente condição a que se referia o bordão da publicidade. A farra é da elite, mas a ressaca é para mais de 85% da população. No Brasil, ao fim dos governos do tucano mor, em 2001, as taxas de desemprego e de pobreza passavam de 12% e 35% da população, respectivamente. O desastre só não foi maior porque FHC não privatizou tudo que lhe foi imposto pelo FMI. Porém, do possível, foi voraz com o Brasil e subserviente com o mercado. Entregou a Vale do Rio Doce por R$ 3 bilhões, quando ela valia mais de R$ 90 bilhões. O setor de telecomunicação, bancos públicos, entre outras bandalheiras, cujos rastros estão registrados na frenética movimentação de contas CC5, do convenientemente dissolvido Banestado, por onde evadiu-se do Brasil quase US$ 500 bilhões.

Em seguida aos governos Menem e FHC, Argentina e Brasil tiveram, a partir do século 21, governos progressistas, que recuperaram não apenas as contas do Estado, mas o seu protagonismo como agente indutor do desenvolvimento econômico e social. O casal Kirchner, na Argentina, e os companheiros de partido Lula e Dilma colocaram o Estado a serviço dos excluídos. Sob todos os aspectos que se possa observar, a partir do ponto de vista do direito da justa distribuição dos recursos disponíveis, foram os períodos em que os historicamente excluídos tiveram acesso aos espaços de decisão política.

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Essa disputa de espaço é demasiada insuportável para as elites da América do Sul, escravocrata e anti-indígena. Na Argentina, logrou-se a ascensão de um títere ultraliberal, por meio de eleição direta. No Brasil, um mandalete dos interesses financeiros nacionais e internacionais foi alçado ao cargo máximo da República por meio de um golpe de Estado em que estão envolvidos, parte do Legislativo, do Judiciário, do Ministério Público, da Polícia Federal e dos veículos de comunicação, que são de propriedade do mercado financeiro.

Acima da perseguição ao partido que mais promoveu acesso democrático, o que está em jogo é a soberania nacional. A Argentina acaba de se subjugar, novamente, ao FMI. O socorro, estimado inicialmente em US$ 30 bilhões, custará a dependência da Argentina aos interesses de todas as nações com haveres no FMI, como a China, por exemplo. A grande parte da população brasileira é inconsciente da importância do Brasil no cenário internacional, dentro do jogo da geopolítica mundial. Aliás, para além da ignorância geral, alguns meios de comunicação tratam de esconder, ou subestimar a riqueza energética e detratar as gigantescas e mui competitivas empresas estratégicas.

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Temer e Macri são substâncias do projeto contra o qual as esquerdas da América Latina lutam. Lula, Dilma, Kirchner, Castro, Guevara, Morales, Correa, Mujica, Chávez, entre outra/os líderes, ousaram defender direitos básicos de quem produz as riquezas das nações, a classe trabalhadora. O ministério de notáveis golpistas jamais deixará de servir senão uma vodka de quinta. Resta à nação de Tiradentes, Antônio Conselheiro, Maria Quitéria, Margarida Alves, Irmã Doroth, Zumbi, Marielle Franco saber quem ela quer ser. Uma nação soberana, que decide como usar seus recursos energéticos e empresas estratégicas, ou uma colônia agrícola a serviço de nações centro de poder.

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