Ainda há vida inteligente na "terra brasilis"?

é curioso constatar que o “novo governo”, eleito recentemente e que ainda não tomou posse formal, tenha envelhecido em poucas semanas. E já surgiu o termo midiático “BOLSOGATE”. Valha-nos Deus

Ainda há vida inteligente na "terra brasilis"?
Ainda há vida inteligente na "terra brasilis"? (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil )


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(“- Você não deveria votar num fascista!

- Não me importa a profissão dele...”)

 

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Na Espanha do generalíssimo Franco, década de 1930, um militar urrava, possesso: VIVA A MORTE! ABAIXO A INTELIGÊNCIA!

Ouvir tal disparate causou profundo espanto entre nós, estudantes brasileiros, nordestinos empenhados em mudar o país. Tirá-lo das garras do atraso e do subdesenvolvimento.

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Era o início dos anos 1960. E ouvimos, entre espantados e incrédulos, a frase do general falangista José Millan Astray, em resposta ao reitor Miguel Unamuno, citada pelo querido professor Solon Galvão, da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Uma narrativa que causou tal estranheza e indignação que tanto tempo passado, impossível ser esquecida. Saber que alguém dizia preferir a morte ao invés da Cultura e da Inteligência.  Como era possível? Logo adiante iríamos descobrir, ao ver o Brasil entrar numa época de “declínio democrático” – uma espécie de eufemismo ou codinome para ditaduras – o qual duraria mais de duas décadas. Era preciso salvar o país da “ameaça comunista”. Assim determinava a lógica e os códigos da Guerra Fria.

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Esses eventos são trazidos à nossa lembrança ao ver o que acontece no Brasil nos últimos anos. Desde 2013 passamos a vivenciar um estranho período que poderia ser chamado de “reino da estupidez”. No qual uma espécie de histeria coletiva tomou conta da chamada classe média brasileira (a desfilar pelas ruas, sempre aos domingos). Alegres e autoconfiantes ao exibir sua ignorância como uma espécie de vantagem. Um troféu revelador de uma nova sabedoria no plano ideológico: qualquer conceito ou conhecimento que venha do “outro lado” deve ser contestado, sem limites. Sem medo de parecer ignorante, ou mesmo imbecil. Torne-se um tolo. Viva feliz. É o que importa.

Sejamos assumidamente estúpidos. E daí? Claro, isso vale também para as classes subalternas. Linha auxiliar indispensável da elite dominante, desde Cabral.

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É extensa a lista surgida após a abertura da Caixa de Pandora da estultice. Uma nova Mitologia, onde não sobrevive, sequer, a Esperança.

(Vale lembrar a música do Chico Buarque, nos Saltimbancos, “era uma vez/ é ainda/ um certo país/ é ainda ...”).

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Somos um povo que caminha em círculos. Onde o atraso não morre. Respira por aparelhos. E ressurge, periodicamente. Incólume, infalível agente do retrocesso.

Quem imaginava que os tempos medíocres, bicudos, eram coisas do passado,    enganava-se redondamente.

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A estupidez retorna, dessa vez de forma assumida, explícita. O pensamento único saiu do armário, e parece, veio para ficar. E foi decretado pelos sábios ideólogos (ou seriam “teólogos”?) o “fim da História”. Pois o conhecimento histórico pode se tornar um incômodo. Um estorvo desnecessário.

Vale lembrar a frase de um sábio pensador (Marc Bloch, citado por Abdias V. Carvalho, 2018): “A incompreensão do presente nasce, fatalmente, da ignorância do passado”.  Pois a Política não é o samba de uma nota só. A Política é essencialmente plural, afirmava Hanna Arendt.

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Por exemplo, como esquecer os tempos da Inquisição, quando se sustentava, como dogma religioso, que o Sol girava em torno do planeta Terra? E quem negasse essa realidade, hoje tão óbvia, era condenado a queimar nas fogueiras inquisitoriais! Exagero? O sábio Giordano Bruno teve de abjurar para escapar do fogo sagrado. E ficou a sua frase: - “e pur si move... “(e, no entanto, se move), uma forma de negar aos seus implacáveis inquisidores que a Terra seria o centro do Universo.

Os novos sábios afirmam, agora, que a Terra não é redonda. É chata. Ou plana. E os inquisidores modernos já preparam a lenha (e o combustível) para as novas e reluzentes fogueiras metafóricas.

Decretam a censura nos conteúdos educacionais com a “Escola sem Partido”; e afirmam, com toda convicção, que políticas ambientais, e a preservação da natureza são conversa fiada; ciência & tecnologia? coisa de esquerdistas e desocupados; economia? ora, todos sabem, é uma ciência exata, sustentam os ideólogos neoliberais; liberdade, direitos humanos? como assim? lugar de negros e pobres é na cadeia, calma aí, o país é apenas o terceiro do mundo em população carcerária, mas estamos próximos de assumir a liderança.  Chegaremos lá. E a penúltima pérola: - coitados dos patrões brasileiros, com essas leis trabalhistas... E a última do “Mais Médicos”, quando o preconceito ideológico gerou uma situação na qual a cobertura assistencial à população é simplesmente negligenciada, assumida como um problema menor. -Depois a gente vê...

Essa a receita - infalível - para o caos e para o atraso. Para onde caminham, impávido colosso, com olhar de certeza e de nariz empinado. Orgulhosos da sua ignorância leve e crassa. Sem qualquer dúvida na mente. Finalmente, o Brasil voltou a se encontrar com os salvadores da pátria. Já estava passando da hora. Agora basta apenas aguardar. Iniciamos a jornada em busca... do que mesmo? Só Deus sabe.

É o nosso destino. Nosso jeito de ser. Saudades da vassourinha do Jânio. Da Zélia Cardoso e do Ibrahim Éris, gênios economistas do confisco do presidente Collor de Mello. Bons tempos... E agora, marcharemos, em ordem unida, seguindo o presidente Jair Messias e seus fiéis acólitos. Com o Brasil acima de tudo e Deus acima de todos. Assim seja.

“QUE DEUS TENHA PIEDADE DESSA NAÇÃO”, a compungida prece do deputado Eduardo Cunha, então presidente da Câmara ao dar o seu voto pelo impedimento da presidente, mal disfarçando o sorriso cínico de dono da boiada.

E é curioso constatar que o “novo governo”, eleito recentemente e que ainda não tomou posse formal, tenha envelhecido em poucas semanas. E já surgiu o termo midiático “BOLSOGATE”. Valha-nos Deus.

Preocupa ver o Brasil, desafiado por inúmeros problemas, comandado por um presidente maluquinho, tentando construir o Novo Absolutismo, originário do poder intrínseco autoatribuído pelo executivo, judiciário e pela mídia, sob o olhar compassivo e ausente do legislativo. Antes de diagnosticar e planejar as soluções, está a andar sem direção, numa marcha vacilante. Uma nau sem rumo. Em busca, apenas, do Poder. Pelo Poder. Seus novos donos.

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