A importância do primeiro de maio em Curitiba - Lula Livre

Reconquistar a democracia passa necessariamente pela libertação do Lula e eleições para presidente da república. Temos que aproveitar esse momento histórico em que o golpe está fragilizado e a direita se encontra numa sinuca de bico e não sabe o que fazer

Reconquistar a democracia passa necessariamente pela libertação do Lula e eleições para presidente da república. Temos que aproveitar esse momento histórico em que o golpe está fragilizado e a direita se encontra numa sinuca de bico e não sabe o que fazer
Reconquistar a democracia passa necessariamente pela libertação do Lula e eleições para presidente da república. Temos que aproveitar esse momento histórico em que o golpe está fragilizado e a direita se encontra numa sinuca de bico e não sabe o que fazer (Foto: Keiji Kanashiro)


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O JK dizia que o otimista pode errar, mas o pessimista já começa errando. Eu sempre fui um otimista radical, hoje com tendência a me tornar um otimista pragmático em função das coisas inimagináveis que estão acontecendo no país a partir do golpe de 2016.

No início dos anos sessenta, o Brasil vivia um momento extraordinário. A partir da eleição de Juscelino, a construção de Brasília, a retomada do desenvolvimento ancorada nos investimentos na indústria automobilística no ABC paulista, a música, o teatro e o cinema brasileiro fazendo sucesso no mundo, no futebol o Brasil campeão do mundo em 1958 e 1962.

Quando da renúncia de Jânio, Jango só tomou posse devido à resistência popular liderada por Leonel Brizola. A expectativa das reformas anunciadas por Jango trazia a esperança para o povo de um grande futuro para o país. No inicio de 1964 apesar de algumas manifestações da direita, e da imprensa eu não acreditava que haveria um golpe no país e aconteceu.

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No dia 17 de abril de 2016, eu estava no acampamento de resistência em Brasília e disse a Carina Vitral presidente da UNE, que a geração dela estava conseguindo impedir o golpe, coisa que a minha geração não havia conseguido nos anos sessenta. Na ocasião eu trabalhava na Liderança do PT na Câmara dos Deputados e acreditava realmente que a direita não iria conseguir os votos necessários para instaurar o processo de impedimento da Dilma. Conseguiram os votos na sessão vergonhosa, o processo foi para o senado e a Dilma foi deposta.

Desde a condenação do Lula no TRF4 muita polêmica no campo progressista sobre o que fazer. Na verdade eu acho que a esquerda tem dificuldades de combinar uma estratégia revolucionária através de uma tática reformista. Em algum momento ela terá que fazer autocrítica, e rever a estratégia e as táticas que foram utilizadas no período recente, em especial a no período de 2003 a 2014. Eu tenho uma tese que se a maioria dos delegados do PT no V Congresso do PT em Salvador tivessem tido outra postura, talvez tivéssemos conseguido impedir o golpe de 2016, mas como disse, um dia vamos ter que avaliar tudo isso, mas agora não é a hora. Agora a palavra de ordem é LULA LIVRE. Hoje eu gostaria de cumprimentar a direção do PT, quando antecipa o encontro para lançar Lula candidato e afirma que sua candidatura será registrada em 15 de agosto.

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Eu tenho dito que hoje nós em termos objetivos temos mais condições de derrubar esse golpe do tínhamos quando do golpe de 1964. No campo temos o MST e as demais organizações da Via Campesina, na cidade temos uma organização urbana que não havia na época que é o MTST, temos uma o movimento sindical e o movimento estudantil muito mais organizado. A UNE e UBES nos últimos anos tem nos dado exemplos organização e de luta. Continuamos com apoio de intelectuais, artistas, da igreja progressista e de setores nacionalistas como tínhamos no período de resistência à ditadura militar. No passado a nossa forma de comunicação com a população, era muito restrita e de pouco alcance, basicamente pichações, panfletagens e jornais clandestinos. Hoje temos a internet, as redes sociais, a midia alternativa de esquerda que vem desqualificando a narrativa hegemônica da grande imprensa a serviço do imperialismo.

O mais importante é que não tínhamos na década de sessenta uma liderança popular como Lula, que tivesse condições de unificar a luta. As condições subjetivas ou mais explicitamente a união de diversos projetos políticos do campo democrático na defesa da democracia. A partir da condenação e prisão do Lula, isso começa a acontecer. O fato das sete centrais sindicais, com divergências ideológicas se unirem na campanha LULA LIVRE e na convocação unitária para o Primeiro de Maio em Curitiba confirma isso.

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Ontem no Programa Quarto Poder, o Eduardo Guimarães comentou vários fatos que comprovam que apesar de quererem calar o Lula, impedindo a visita de governadores, parlamentares, amigos e personalidades como Adolfo Perez Esquivel e Leonardo Boff, e até de seu médico particular, mostra que não estou conseguindo. Durante as greves de 1979 e 1980, o que mais me impressionava no Lula era sua capacidade de pensar a frente. Sempre era muito difícil para nós acompanharmos o seu raciocínio.

Hoje eu tenho certeza absoluta, que tudo o que estão acontecendo neste processo de resistência esta sendo orquestrado por ele como a definição o Primeiro de Maio unificado em Curitiba. As mensagens que ele tem enviado e as três cartas que sabemos que ele enviou a CUT, FUP e MST são provas disso.

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Para explicar melhor, vou tentar relatar o que aconteceu em abril de 1980 durante a greve dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema. No dia 01 de Abril, sessenta mil trabalhadores no Estádio da Vila Euclides decretam greve. Dia 14 de Abril o TRT declara a greve ilegal. No dia 17 de Abril o governo federal decreta a intervenção no sindicato. No dia 19 de Abril Lula a outros diretores do sindicato são presos no DOPS.

Diferente do que está acontecendo hoje, na ocasião mesmo em plena ditadura militar, Lula recebia diariamente visitas de advogados, amigos, políticos e personalidades. Desta forma, mesmo preso ele dava as diretrizes para o comando de greve, na maioria das vezes através do companheiro advogado Luiz Eduardo Greenhald. Obviamente ele também conversava com outros setores que estavam no Comitê de Solidariedade instalado na Assembleia Legislativa de São Paulo, com setores da igreja na figura de Dom Claudio arcebispo de Santo André, etc. E uma das orientações, hoje eu acredito que foi a mais importante, foi a de organizar o Primeiro de Maio em São Bernardo. Fomos orientados para atuar junto à categoria, ao Comitê de Solidariedade e aos demais sindicatos que nos apoiavam, para que tivesse pelo menos 100 mil pessoas na manifestação, cuja pauta principal era Libertem Nossos presos.

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No primeiro de maio, São Bernardo amanheceu sitiada, O exercito bloqueia os principais acessos, interdita o Paço Municipal e o Estádio da Vila Euclides. A manifestação começa na Praça da Igreja Matriz e após um ato ecumênico, sai em passeata rumo ao Paço Municipal que estava ocupado pelo exército. Como tinha muita gente, o exército recuou desocupou o Paço Municipal e depois o Estádio da Vila Euclides e cerca de 150.000 pessoas realizaram o Primeiro de Maio de 1980 exigindo a libertação de Lula e dos demais sindicalistas preso no DOPS. Foi sem dúvida uma grande vitória, e o ponto alto do movimento. No entanto no dia seguinte, a repressão aumenta e a justiça nega o pedido de habeas corpus do Lula e no dia 11 de maio os metalúrgicos reunidos em assembleia decidem terminar a greve. Alguns dias depois, Lula é solto, o como o sindicato continuava sob intervenção e ele continua comandando os metalúrgicos, através do Fundo de Greve. A luta continua agora pela retomada do sindicato, que aconteceria alguns meses depois. Em termos econômicos os trabalhadores não ganharam absolutamente nada, muitos perderam o emprego e a maioria dos ativistas entra numa lista negra, são perseguidos e alijados do mercado de trabalho. Mas em termos políticos, foi sem dúvida uma vitória extraordinária e uma grande contribuição dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, no processo de redemocratização do país, e nas lutas que os trabalhadores fariam a partir da experiência adquirida e do seu empoderamento como protagonista da história e que iria duas décadas depois eleger Lula Presidente da República.

Não sei o que vai acontecer em Curitiba na próxima terça-feira, minha bola de cristal não tem funcionado bem ultimamente, mas arriscaria a dizer irão fazer tudo para impedir que as pessoas cheguem lá. Hoje de madrugada já começou o processo de intimidação quando um grupo de extrema direita faz um atentado à bala, ferindo duas pessoas no Acampamento de Resistência Marisa Letícia. Deve ter repressão e talvez confronto físico da nossa militância com as forças de seguranças e com grupos de direita. Acredito que haverá mais de 100.000 pessoas, mas ainda não será suficiente para tirar Lula da prisão, mas um passo importante para uma grande mobilização popular. Reconquistar a democracia passa necessariamente pela libertação do Lula e eleições para presidente da república. Só para lembrar a última grande mobilização no pais aconteceu em 1984, com a campanhas das Diretas Já. Começou com um ato em São Paulo na Praça da Sé com 300.000 pessoas, depois no Rio de Janeiro com 1.000.000 e em seguida em São Paulo com 1.700.000 pessoas. Mesmo com essa mobilização nós perdemos e o Tancredo Neves foi eleito pelo colégio eleitoral. Eu costumo dizer que a ditadura civil/militar não durou 21 anos e sim 25 anos, pois efetivamente só conseguimos eleger diretamente um presidente da república em 1989.

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Temos que aproveitar esse momento histórico em que o golpe está fragilizado e a direita se encontra numa sinuca de bico e não sabe o que fazer. Se mantiverem o Lula preso, e mantiverem as eleições em outubro, as pesquisas apontam que Lula seria eleito. Aí teriam que impedir a posse e seria mais um golpe. Se soltarem o Lula, vão ter que cancelar as eleições. Em qualquer uma dessas hipóteses, se acontecer o morro vai descer e não será carnaval.

As arbitrariedades cometidas pelo golpe, através de ações da operação lava-jato, com a conivência do judiciário, as medidas contra o país executadas por esse governo ilegítimo comandado por uma quadrilha de ladrões, conseguiram de fato resolver aquilo que mencionei acima, sobre as condições subjetivas para derrubar o golpe. Hoje a esquerda, a centro esquerda, os movimentos sociais, o movimento sindical, a igreja progressista, os nacionalistas, os intelectuais, os artistas etc., unidos na campanha LULA LIVRE.

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Por fim gostaria de dizer que seria muito importante que este Primeiro de Maio, terminasse com a convocação de grandes mobilizações nas capitais e grandes cidade do país, na preparação de grande mobilização em Brasília e com as centrais sindicais iniciassem várias greves pelas categorias mais organizadas na preparação de uma greve geral.

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