Todo dia é uma Nakba em Gaza

A morte de 60 manifestantes em um único dia mostra toda a tragédia da questão palestina e da incapacidade dos atores responsáveis pela atual situação, de encontrarem uma solução pacífica

A morte de 60 manifestantes em um único dia mostra toda a tragédia da questão palestina e da incapacidade dos atores responsáveis pela atual situação, de encontrarem uma solução pacífica
A morte de 60 manifestantes em um único dia mostra toda a tragédia da questão palestina e da incapacidade dos atores responsáveis pela atual situação, de encontrarem uma solução pacífica (Foto: Mauro Nadvorny)


✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Como tanta gente, eu também me senti extremamente triste com os últimos acontecimentos em Gaza. A morte de 60 manifestantes em um único dia mostra toda a tragédia da questão palestina e da incapacidade dos atores responsáveis pela atual situação, de encontrarem uma solução pacífica.

O mote das manifestações foi a "Caminhada para casa", uma forma do Hamas mostrar que os palestinos não esqueceram de onde vieram, e para onde desejam retornar. Há cerca de um mês, em todas as sexta-feiras vem ocorrendo manifestações que invariavelmente terminaram em violência e consequentemente em mortes de manifestantes.

O dia escolhido para a troca de placas no consulado americano, para embaixada em Jerusalém teve a insensibilidade de ocorrer próximo da Nakba (catástrofe em árabe), que marca o dia da independência de Israel.

continua após o anúncio

Não se pode falar da questão palestina, sem falar na Nakba, e para isso precisamos voltar em 1945, quando a Palestina ainda era território administrado pela Grã-Bretanha e era criada a ONU. Entre as questões prioritárias a serem tratadas pela Organização estava a da criação de um "lar nacional judeu". O crescimento da imigração judaica para a Palestina encontrava forte objeção por parte da população árabe local, que em meados da década de 1940 representava aproximadamente 2/3 dos habitantes do território - cerca de dois milhões de pessoas. Quando a Grâ-Bretanha já em meio à violência entre judeus e palestinos decidiu, em fevereiro de 1947, levar a questão à ONU, a Palestina já tinha uma população de 1 milhão e 300 mil palestinos e 600 mil judeus.

Ao final de 1947, logo após a aprovação do Plano da Partilha pela ONU, a Haganah, uma organização paramilitar judia, entrou em confronto com a população civil árabe. Em dezembro a Liga Árabe organizou o chamado Exército de Liberação Árabe, uma força de voluntários palestinos, sob a liderança de Fawzi al-Qawuqji para resistir a partilha enquanto os britânicos, até então responsáveis pela administração do território, retiravam-se. As forças palestinas foram derrotadas, e várias cidades mistas, à exceção de Jerusalém, passaram ao controle das forças judias. Entre 350.000 a 400.000 palestinos iniciaram o caminho do êxodo. Mas isto não foi o fim.

continua após o anúncio

Em 14 de maio de 1948, à meia-noite, em meio à guerra civil na Palestina, ao término oficial do mandato britânico da Palestina, David Ben-Gurion declara a Independência do Estado de Israel.

Ao longo do dia, ainda festejando em várias partes do território Israel sofre o ataque dos países árabes vizinhos que contestam a criação do estado judeu e decidem intervir. Os exércitos do Egito, Iraque, Líbano, Síria e Transjordânia - aos quais se incorporam as forças árabes palestinas remanescentes -, com apoio político de outros países invadem a Palestina. Começa então a primeira de uma série de guerras que iriam constituir o longo conflito árabe-israelense.

continua após o anúncio

A guerra de 1948-1949, como todas que seguiram em 1956, 1967 e 1973, foi vencida pelos israelenses, que ampliaram o seu domínio por uma área de 20 mil km² (75% da superfície da Palestina). No entanto, o território restante foi ocupado pela Jordânia, que anexou a Cisjordânia, e pelo Egito, que ocupou a Faixa de Gaza. Estes países nunca ofereceram estes territórios para uma pátria palestina, tampouco deram a seus habitantes a respectiva cidadania.

O resultado final de todo este primeiro grande conflito foi o deslocamento de aproximadamente 900 mil palestinos, que deixaram as áreas incorporadas por Israel. A grande maioria destes deslocados se constituiu em um imenso contingente de refugiados que se dispersou em campos do Oriente Médio dando inicio a "a questão palestina" - que permanece sem solução até nossos dias.

continua após o anúncio

Como se sabe, os territórios de Gaza e da Cisjordânia foram conquistados por Israel durante a guerra dos 6 dias em 1967. Também o Sinai foi conquistado e as colinas do Golã que Israel anexou ao seu território.

Depois da Guerra do Dia do Perdão em 1973, em um acordo de paz com o Egito, o Sinai foi paulatinamente devolvido. Mas nem eles quiseram receber de volta Gaza, tampouco a Jordânia quis de volta a Cisjordânia, mesmo depois de assinar um acordo de paz com Israel.

continua após o anúncio

Hoje os dois territórios estão divididos politicamente entre o Hamas em Gaza e a Autoridade Palestina na Cisjordânia, mas é em Gaza que estão os maiores problemas. Israel se retirou unilateralmente do território em 2005, e dois anos depois o Hamas tomou o poder. Gaza começava a se tornar uma prisão a céu aberto.

Apesar de ter sua maior fronteira com Israel, o Egito também tem uma fronteira com Gaza e tampouco ele permite atualmente a passagem de palestinos, salvo em raras ocasiões. Todas as mercadorias que entram no território vêm de Israel e ao contrário do que se propaga, é a Autoridade Palestina que permite o fornecimento de eletricidade apenas durante 3 horas do dia.

continua após o anúncio

Voltando as trágicas manifestações, não posso deixar de ressaltar a enorme irresponsabilidade do Hamas em permitir que manifestantes de todas as idades, homens e mulheres fossem para a fronteira confrontar o exército israelense e, em muitos casos, tentar romper a cerca que delimita os territórios. Isso em nada justifica o uso de força letal para contenção dos manifestantes e cabe a Israel sua responsabilidade pelo uso de força letal.

Em meio a isso tudo temos uma população servindo de bucha para canhão em uma Nakba diária por dois governos que parecem não se importar muito com a vida humana. A grande maioria destas mortes poderia ser evitada e bastava um pouco de bom senso de ambos os lados. Não basta agora apontar culpados, é preciso buscar uma solução que traga um fim a questão palestina com a criação de seu Estado independente.

continua após o anúncio

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247