O Processo, um documentário histórico fundamental

Impressiona a intimidade que conseguiu ter, a diretora do filme, no espaço do Congresso Nacional brasileiro, junto àqueles personagens e com essa historia tão difícil de contar

Impressiona a intimidade que conseguiu ter, a diretora do filme, no espaço do Congresso Nacional brasileiro, junto àqueles personagens e com essa historia tão difícil de contar
Impressiona a intimidade que conseguiu ter, a diretora do filme, no espaço do Congresso Nacional brasileiro, junto àqueles personagens e com essa historia tão difícil de contar (Foto: Celso Maldos)


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Assisti ontem ao filme da Maria Augusta Ramos, “O Processo”, marco na cinematografia documental brasileira.

Durante o filme, muitas idéias e questões me passaram pela cabeça.

Perguntei-me, à que público ele é voltado?

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Seria à classe média frequentadora de festivais? À classe média frequentadora das salas de cinema alternativo?

Porque essa duração (2:15 hs)?

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Porque os “tempos mortos” (onde nada acontece), apenas para ter duração de cinema?

Impressiona a intimidade que conseguiu ter, a diretora do filme, no espaço do Congresso Nacional brasileiro, junto àqueles personagens e com essa historia tão difícil de contar.

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Lembrei-me de Eisenstein, da sua Teoria da Montagem, de Dziga Vertov, do Cine Olho, das idéias do cinema revolucionário e ao mesmo tempo remeteu-me à imagética contemporânea das redes sociais, da espetacularização da realidade, da ambiguidade, da representação para a câmera e dos registros não percebidos pelos personagens, que às vezes são eles mesmos e outras, representam teatralmente.

Pensava, que todo filme são as escolhas do realizador, desde o recorte da realidade até a forma de apresentação da história. Mas mesmo assim não podia deixar de observar alguns detalhes da narrativa: os textos escritos amarrando a narração, sem locução, certamente eram voltados para um público leitor e intelectualmente capacitado para a compreensão de historia tão complexa.

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Nesse ponto me ocorreu que se esse filme fosse voltado a cumprir um papel político mais amplo, se fosse cinema revolucionário, como poderia ser?

Imaginei o trabalho imenso e complexo para chegar à forma que tem.

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Imaginei alternativas, possibilidades, formas.

Imaginei como seria se o filme fosse contar essa história para o brasileiro comum, para um público pouco letrado.

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Que desafio imenso tentar dar conta de explicar, que a parte mais conservadora e reacionária do Congresso Nacional, com o apoio do Supremo Tribunal Federal legitimando com seu presidente, utilizando-se de interpretações da Constituição Federal para romper com a própria Constituição passou para o conjunto da sociedade a falsa ideia de legalidade, apenas focando na observância do rito, mas na realidade, agiu mastigando, engolindo e distorcendo a verdade, com ajuda da mídia conservadora e inescrupulosa.

E me ocorreu que o filme precisava ter no máximo, a metade da duração que tem!

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Em tempos de redes sociais, com a informação cada vez mais rápida, cada vez mais sintética, sequências como a do José Eduardo Cardoso conversando com a filha, a Janaina Paschoal fazendo fotos com admiradores, ainda que ilustrem aspectos da história e dos personagens, isoladamente são um luxo narrativo.

Talvez, numa narrativa sintetizada essas mesmas cenas poderiam estar em paralelo numa tela dividida em 3, 4 partes e assim apresentadas poderiam explorar aspectos contraditórios, tanto dos personagens como da própria história.

Talvez, ao invés de deixar a história ser contada pela quase incompreensível  argumentação jurídica, da acusação e da defesa sobre as pedaladas fiscais e decretos presidenciais, poder-se-ia explicitar o absurdo das acusações, acelerando as falas, contrapondo-as na montagem, sintetizando e demonstrando o golpe, o lawfare.

Chegou a incomodar a generosidade do tratamento dado a personagens como Cássio Cunha Lima, Anastasia e mesmo à Janaina Paschoal.

Quem sabe se os textos fossem além de contextualizadores, também explicativos, ou irônicos, pudessem explicitar os absurdos, até mesmo a comicidade, o maniqueísmo. Se fossem acompanhados de voz off ao invés do puro silêncio, que certamente tem sua carga dramática, talvez a narrativa pudesse ter um ritmo mais denso.

Diante da gravidade do momento do país, a potência do filme como instrumento político, poderia ser a de um coquetel molotov na farsa urdida no Congresso Nacional, no STF, na Globo e no meio da Ponte para o Futuro do Temer e seus comparsas.

“O processo” é um filme imprescindível, que precisa estar disponibilizado na internet, ser visto e debatido nas escolas, universidades, sindicatos, enfim, em todos os espaços onde haja a possibilidade de politização, esclarecimento e conscientização da sociedade brasileira.

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