A América do Sul no mapa das “guerras do futuro”

A aproximação colombiana com a OTAN ocorre no mesmo momento em que o Brasil, sob um golpe de Estado, redireciona as relações internacionais para um alinhamento irrestrito (aos moldes dos entreguistas dos tempos de Guerra Fria) aos EUA

A América do Sul no mapa das “guerras do futuro”
A América do Sul no mapa das “guerras do futuro” (Foto: Vladimir Platonow/Agência Brasi)


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Lê-se na grande mídia que o Brasil retomou as negociações com os Estados Unidos para o uso da Base de Alcântara (MA). Conforme O Globo (03 de junho) e Folha de São Paulo (04 de junho), a informação foi confirmada pelo Ministro de Relações Exteriores, Aloysio Nunes em entrevista a jornalistas em Washington.

Aos que se não se recordam, não custa lembrar que um acordo para a cessão da base aos estadunidenses estava em curso em 2002, final do governo de FHC. O acordo da época não foi adiante porque o Congresso Nacional refutou-o, em razão dos termos escandalosos. O texto da época permitia aos EUA não apenas o uso da base para equipamentos militares e de tecnologia espacial (satélites etc.), mas garantia o absoluto sigilo sobre equipamentos e atividades lá desenvolvidas. O governo Lula, iniciado em 2003, enterrou de vez as expectativas dos EUA de retomar negociações para o uso da base. Foi também em 2003 que uma explosão, que deixou 21 mortos e destruiu completamente os equipamentos, pôs termo a anos de trabalho de pesquisadores brasileiros. Pouco se sabe sobre as causas desse desastre, mas quando se analisa o tamanho da perda para a ciência brasileira (e não falo dos equipamentos, que podem ser refeitos, mas dos profissionais que o país perdeu, donos de um conhecimento técnico e científico inestimável) não se pode deixar de pensar em sabotagem.

O golpe de Estado de 2016, que colocou na direção do país um grupo ligado aos interesses da alta finança e dos oligopólios internacionais, encarregou-se de desengavetar a antiga proposta entreguista. No discurso, os altos funcionários encarregados das negociações afirmam que procurarão "melhores termos" para o acordo, visando algum tipo de transferência de tecnologia. Contudo, o que temos é, objetivamente, um processo de negociação para cessão de um ponto estratégico do território nacional ao controle militar estadunidense. Isto, somado ao desmonte da Petrobrás e da Eletrobrás, à venda de terras a estrangeiros e à abertura dos fundos públicos e previdenciários ao capital bancário privado (e internacional) e o encerramento da cooperação militar no âmbito da UNASUL é o realinhamento irrestrito do Brasil às orientações neoliberais emanadas das instituições financeiras e à doutrina militar e internacional dos Estados Unidos da América. Os dois alinhamentos são complementares, e não apenas coincidentes.

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Concomitantemente, Juan Manuel Santos, presidente da Colômbia, anuncia as tratativas do país para incorporar-se à OTAN, trazendo para a América Latina, região que historicamente procura constituir-se como território de paz, um organismo cuja história é marcada por agressões, ameaças e invasões a países que não se alinham com os "consensos" emanados de Washington e seus aliados.

O chefe do Comando Militar Sul (U.S. Southern Command), Kurt Tidd, tem afirmado em todas as ocasiões em que tem a oportunidade de falar, que 1) É da "América do Sul que virão os mais complexos desafios dos próximos anos"; 2) Rússia e China têm crescido sua influência na América Latina e Caribe e é preciso articular estratégias efetivas para retomar a hegemonia dos EUA na região; 3) o maior perigo, em termos de segurança, vem do narcotráfico e do crime organizado e 4) é preciso articular com os países da OEA uma solução imediata para a "crise" Venezuelana .

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Todos esses pontos elencados por este que é o mais alto funcionário responsável por "acompanhar" a América do Sul, em termos político-militares, fornecem-nos linhas de articulação das informações que chegam propositadamente desconectadas por meio da mídia empresarial.

A aproximação colombiana com a OTAN ocorre no mesmo momento em que o Brasil, sob um golpe de Estado, redireciona as relações internacionais para um alinhamento irrestrito (aos moldes dos entreguistas dos tempos de Guerra Fria) aos EUA. No mesmo momento, Brasil, Argentina, Colômbia, Chile, Peru e Paraguai (outra vítima de um golpe de Estado) paralisam sua participação na UNASUL, entidade que vinha possibilitando articulações no âmbito militar entre os países sul-americanos.

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Não por acaso, também os seis países recusam-se a reconhecer o resultado eleitoral na Venezuela (somando-se às pressões feitas pelos EUA desde antes da realização das eleições) e pressionam a OEA a interferir no processo venezuelano, aos moldes das já declaradas intenções do departamento de Estado dos EUA de interferir na política do país. Uma vez que os movimentos de desestabilização, por meio de agitadores e sabotagens, não teve o sucesso esperado, as declarações do já mencionado almirante Kurt Tidd em defesa de "um plano de intervenção direta na Venezuela empregando uma força multinacional liderada pela Colômbia e assessorada e monitorada logisticamente pelo Comando Sul " revelam que a retomada da "liderança" dos EUA na região será realizada a qualquer preço. A militarização do continente caminha a passos largos, desde a "guerra às drogas" (de que já falamos em artigo anterior), que não cessará de servir como porta de entrada para duvidosas ações de cooperação militar e implantação de bases estadunidenses até a mais recente faceta da ação dos EUA: a garantia da ordem constitucional, a "pacificação de conflitos" e a "cooperação" em assuntos estratégicos, como orçamento, órgãos judiciários, diplomacia e tecnologia.

Kurt Tidd tem razão . Os conflitos do futuro próximo não terão a mesma aparência das guerras do passado. Os conflitos do futuro articulam guerra de informação, tecnologia e métodos variados de manipulação da opinião pública. Os movimentos recentes no Brasil e nos países vizinhos já são o "futuro".

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