França: campeã multiétnica em campo, controversa na política externa e migratória
Apesar dos jogadores da atual geração francesa pouco se envolverem em declarações políticas, na comemoração do título mundial o meio-campista Paul Pogba fez um gesto forte e significativo, deixou com que sua mãe imigrante de Guiné, levantasse a taça da Copa do Mundo
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Grande campeã da Copa do Mundo de 2018, a França possui jogadores com origens em 17 países, entre eles a maioria africanos. Em campo a seleção esbanja uma multiplicidade étnica e uma harmonia entre os povos, assim como em 1998 e o conceito Black-Blanc-Beur (Pretos-Brancos-Árabes), porém 20 anos se passaram e a condução da política externa e migratória pouco mudou.
Voltamos ao início do Sec XX e a democracia liberal ganhou dos nazistas, menos mal, a democracia possibilita uma seleção africana/francesa mas o liberalismo continua cínico, no campo pode africanos mas no território europeu não.
Além da xenofobia, a França juntamente com outros países imperialistas conduz uma política externa de exploração socioeconômica dos países africanos e do oriente médio, gerando tensões e conflitos nessas regiões que resultam no movimento crescente de refugiados que buscam na Europa fugir do caos causado pelos próprios europeus em suas nações originárias.
Política e futebol nunca foram dissociados na seleção francesa, na Copa de 2014 o atacante Karim Benzema de origem argelina não cantava o hino francês em campo, assim como o grande ídolo Zidane em 1998, também de origem argelina, como forma de protesto contra a xenofobia explícita em uma parte da Marselhesa "Às armas, cidadãos/ formai vossos batalhões/ marchemos, marchemos! / Que um sangue impuro / banhe o nosso solo".
Benzema inclusive ficou fora da Copa de 2018, e culpa a pressão da ultra direita francesa, que através de sua líder Le Pen, pediu para que o atacante não fosse mais convocado por não cantar o hino francês.
Apesar dos jogadores da atual geração francesa pouco se envolverem em declarações políticas, na comemoração do título mundial o meio-campista Paul Pogba fez um gesto forte e significativo, deixou com que sua mãe imigrante de Guiné, levantasse a taça da Copa do Mundo.
É amplamente conhecido que as únicas pessoas que podem tocar na taça são os campeões mundiais e chefes de Estado, porém Pogba foi as favas com as regras e mostrou ao mundo que a África é responsável por um pedaço dessa conquista.
A luta de classes, a luta da emancipação dos povos, os conflitos sociais oriundos da dinâmica capitalista são como o futebol, com sangue, suor e lágrimas conquistaremos a tão sonhada e necessária igualdade, liberdade e fraternidade.
Que o lema da revolução francesa não seja apenas slogan para ser usado por governos, que seja na prática a integração dos povos e a solidariedade entre as nações, que o futebol possa trazer ao debate mais uma vez as contradições da política imperialista e as suas graves consequências ao mundo.
Que os milhões de franceses que torceram para os jogadores de diferentes etnias jogando com as cores de sua bandeira, possam ser os mesmos a respeitarem os imigrantes e refugiados em seu território, possam acolher as suas culturas e costumes, possam construir juntos uma mesma nação.
*Com colaboração de Bernardo Gomes - estudante de Gestão Pública, FAFICH/UFMG
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