O PT e os bancos

Lula quer retomar sua política de crescimento econômico apoiada no fortalecimento do consumo das famílias, via crédito bancário, que se provou eficaz quando o Brasil superou a crise econômica mundial de 2009. No Brasil, o spread bancário sempre foi um dos maiores do mundo. Lula e sua equipe econômica irão, novamente, comprar briga com os banqueiros

O PT e os bancos
O PT e os bancos (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino)


✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

A Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) apresentou na sexta-feira (20), o Plano Lula de Governo 2018 – Brasil Feliz de Novo com "cinco eixos temáticos e ideias-força", entre os quais "Promover um novo modelo de desenvolvimento" com "Reforma Bancária para aumentar o crédito barato às famílias e empresas de desenvolvimento.".

Lula quer retomar sua política de crescimento econômico apoiada no fortalecimento do consumo das famílias, via crédito bancário, que se provou eficaz quando o Brasil superou a crise econômica mundial de 2009. Acontece que, no Brasil, o spread bancário sempre foi um dos maiores do mundo e para conseguir reduzir o custo financeiro, Lula e sua equipe econômica irão, novamente, comprar briga com os banqueiros.

continua após o anúncio

Lula, ao ordenar, pela primeira vez, a redução dos juros sobre o empréstimo bancário pelos bancos públicos, forçou as instituições financeiras privadas a fazerem o mesmo sob pena de perderem clientes.

De acordo com matéria veiculada em 2009 no portal de notícias G1: "Os bancos públicos terão que liderar a redução do custo financeiro no país, segundo determinou (...) o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Lula também pediu que eles 'sejam mais rápidos' na liberação de crédito e que aumentem a oferta ao setor produtivo.". Ainda de acordo com a matéria, o então ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que "o spread (diferença entre o custo de captação e o de aplicação dos bancos) 'subiu a patamares inimagináveis e inadmissíveis para um país que precisa de crédito para crescer'." (RODRIGUES, 2009).

continua após o anúncio

Apenas seis famílias controlam os quatro maiores bancos privados

No Brasil temos um cartel de somente seis famílias a comandar os quatro maiores bancos privados do país. São elas as famílias Setúbal, Villela e Moreira Salles, no Itaú; Denise Aguiar Alvarez, no Bradesco; Ana Botin à frente do Santander e os Safra, do Banco Safra.

continua após o anúncio

Esse cartel ou essa, “concentração bancária”, como se referiu a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) durante audiência pública realizada em março deste ano no Senado Federal, foi justamente um dos fatores apontados, na própria audiência, como responsáveis pelo spread bancário no Brasil ser um dos maiores do mundo. 

"O presidente da União Nacional de Entidades do Comércio e Serviços (Unecs), Paulo Solmucci, afirmou que só dois países têm spread acima de 20% no mundo: Brasil, em torno de 39%, e Madagascar, que chega aos 45%.

continua após o anúncio

- É indecente. Uma questão de lesa-pátria, que provoca a mortandade de empresas. Basta comparar a mortalidade das empresas aqui e lá fora e comparar o lucro dos bancos brasileiros com a média no mundo. Em 2016, o spread brasileiro era sete veze maior do que o da média mundial. É quase impossível empreender nesse cenário. Na nossa visão, a baixa concorrência é uma das responsáveis por isso. O sistema não é só concentrado, mas vertical - afirmou.". (SENADO NOTÍCIAS, 2018).

O banco nunca perde

continua após o anúncio

Estamos acostumados em, ano após ano, esteja a economia indo bem ou mal, ler notícias sobre recordes no lucro dos banqueiros. Mas “por que os bancos brasileiros lucram tanto? (...) afinal, o que faz os bancos terem resultados financeiros tão positivos no Brasil mesmo em meio a desaceleração econômica? E se o seu negócio principal é emprestar dinheiro não seria natural esperar resultados menos robustos em tempos de retração do crédito?” essa pergunta foi feita pela jornalista Ruth Costa em matéria da BBC Brasil de 2015.

Em poucas palavras a resposta encontrada foi a elevada taxa de juros e do spread bancário. Segundo o economista e professor da USP, Fernando Rugitsky, “‘Parte dos retornos dos bancos é garantida com aplicações financeiras que não são empréstimos a pessoas físicas ou empresas’ (...). ‘Se a Selic (taxa de juros básicas da economia) sobe, como tem acontecido, temos um aumento do piso de rendimento do mercado financeiro. Em última instância, se os bancos não conseguem emprestar seus recursos, podem aplicá-los em títulos do tesouro. Então quanto maior os juros pagos por esses títulos, mais os bancos ganham nesse tipo de operação.’” (COSTA, 2015).

continua após o anúncio

No Brasil pagamos juros até em compras à vista

“Não é novidade que o Brasil possui uma das maiores taxas de juros reais do mundo, (...). Para completar, também somos o único país do planeta onde – na teoria – não há diferenciação entre o preço à vista e a prazo. Na prática, porém, a realidade é outra e os juros costumam vir embutidos – e bem disfarçados – nas compras à vista e nos parcelamentos longos, anunciados à exaustão como juro zero.”. (JUNGES, 2012).

continua após o anúncio

Não adianta querer fugir dos juros comprando à vista. Os estabelecimentos varejistas lesam os consumidores ao mentirem anunciando compras parceladas sem juros. E mesmo quando os clientes pedem para tirar os juros embutidos na mercadoria os vendedores insistem na prática abusiva. 

O resultado: “Em 2017, as famílias brasileiras gastaram R$ 354 bilhões com o pagamento de juros - o equivalente a 10% de tudo o que ganharam. O levantamento mostra que, no geral, gastamos mais com juros do que com alimentação fora de casa, roupa, educação, plano de saúde e energia elétrica.” (G1, 2018).

Honrados os agiotas que nos empobrecem

“Para quase 80% dos brasileiros honrar a dívida com o banco é prioridade. Pesquisa de Envidamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) divulgada (...) pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) (...) aponta o cartão de crédito como o principal compromisso financeiro para 76,4% das famílias individadas.”. (OLIVEIRA, 2018).

Enquanto de um lado a inflação aumenta, o custo de vida sobe, e a taxa Selic (usada para o cálculo do rendimento da poupança) diminui; do outro, os juros cobrados pelos bancos por empréstimos só aumentam. 

“Essa dinâmica foi altamente perversa para as famílias brasileiras, que, sob a pressão combinada da recessão, com o desemprego e os juros elevados tiveram encolhimento de 7,6% na renda. O cenário desigual agravou o comprometimento da renda com dívidas bancárias, que atingiu 60,8% em 2017, de acordo com estudos da Confederação Nacional do Comércio (CNC). A parcela de famílias com contas ou dívidas em atraso aumentou atingiu 25,4% em 2017, com aumento frente aos 24,2% de 2016.”. (CORTÊS, 2018).

Segundo apurou o Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas (FGV), 13,3% dos brasileiros estão usando a poupança  para pagar as contas do dia a dia. Estamos queimando nossas economias para, dentre outras dívidas, pagar o mais caro juro rotativo do mundo, por exemplo.

De acordo com a PROTESTE, Associação Brasileira de Defesa do Consumidor, antes da mudança, a taxa de juros média do rotativo (valor cobrado quando o consumidor não paga o total da fatura do cartão de crédito) no Brasil é 305% maior que o cobrado na Argentina segunda colocada no ranking dessa extorsão bancária. Afinal, melhor sacrificar o “espetacular” rendimento da poupança e quitar uma dívida que pode virar uma bola de neve impagável.

Qualquer trocado

Estamos trabalhando para pagar e sustentar o golpe, enquanto vendem nossas estatais a preço de banana e cortam investimentos em áreas críticas como saúde e educação.

Temer, para pôr fim à greve dos caminhoneiros, cortou R$ 55,1 milhões do Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento das Instituições de Ensino Superior (Proies) e R$ 135 milhões do programa de fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS). 

Outras áreas, como a reserva para capitalização de empresas estatais federais, que perdeu a maior quantia, R$ 1,667 bilhão, também foram afetadas para que o diesel tivesse uma redução de 46 centavos e o preço congelado por dois meses.

O capital estrangeiro está cobrando o investimento no golpe. O Brasil está sendo vendido por qualquer trocado e nossa gente virando burro de carga pra manter o patronato.

Jorge Paulo Lemann, dono da Ambev e golpista financiador do movimento Vem pra Rua, comprou, em lance único, a Companhia de Energia do Piauí (Cepisa), distribuidora de energia elétrica da Eletrobras no Piauí, por míseros R$ 50 mil.

Referências: 

BETIM, Felipe. Cortes em saúde e educação ajudarão a pagar diesel mais barato para caminhoneiros. Disponível aqui. Acesso em: 27 jul. 2018.

CÔRTES, Gilberto Menezes. Os donos do crédito no Brasil. Disponível aqui. Acesso em: 27 jul. 2018.

COSTA, Ruth. Por que os bancos brasileiros lucram tanto? Disponível aqui. Acesso em: 28 jul. 2018.

G1. Famílias gastam mais com juros do que com educação e plano de saúde. Disponível aqui. Acesso em: 27 jul. 2018.

JORNAL DO BRASIL. Fiesp: famílias pagam R$ 1 trilhão de juros. Disponível aqui. Acesso em: 26 jul. 2018.

JUNGES, Cíntia. À vista com juros, só no Brasil. Disponível aqui: Acesso em: 29 jul. 2018.

OLIVEIRA, Nielmar de. Percentual de famílias endividadas sobe pela primeira vez no ano. Disponível aqui. Acesso em: 26 jul. 2018.

SENADO NOTÍCIAS. Falta de concorrência causa alto 'spread' bancário no Brasil, apontam debatedores. Disponível aqui. Acesso em: 28 jul. 2018.

RODRIGUES, Azelma. Bancos públicos terão que liderar redução de juros, determina Lula. Disponível aqui. Acesso em: 28 jul. 2018.

 

 

 

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247