Bolsonaro e suas contradições: um neototalitarismo?

Engana-se (ou deseja enganar outros) quem sustenta uma suposta guinada à direita liberal ou mesmo ao conservadorismo a ascensão de Bolsonaro nas urnas. A candidatura de Bolsonaro ultrapassa esse espectro ideológico, que corresponde ao totalitarismo existente no fascismo de Mussolini ou no nazismo de Hitler

Bolsonaro e suas contradições: um neototalitarismo?
Bolsonaro e suas contradições: um neototalitarismo? (Foto: Antonio Augusto/Agência Câmara)


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Engana-se (ou deseja enganar outros) quem sustenta uma suposta guinada à direita liberal ou mesmo ao conservadorismo a ascensão de Bolsonaro nas urnas. A candidatura de Bolsonaro ultrapassa esse espectro ideológico, que corresponde ao totalitarismo existente no fascismo de Mussolini ou no nazismo de Hitler.

Provavelmente algum leitor haverá de cobrar-me condenação à União Soviética e, precavido, tento antecipar-me: a figura de Stálin valeu-se de métodos totalitários semelhantes ou iguais aos de Mussolini ou de Hitler.

A principal diferença é que nazismo e fascismo, supostamente, foram derrotados na 2ª Guerra Mundial e, a partir daí, o mundo restou bipolarizado entre capitalismo e socialismo. Ambos se valeram de métodos totalitários para permanecer com o poder nas mãos, e penso que ninguém discorde do abismo social e das mortes por fome causadas pelo capitalismo, nem pela ausência de liberdades civis em ambos os sistemas: sabemos bem que a ditadura civil-empresarial-militar brasileira (1964-1985) foi, em larga medida, mantida com dinheiro oriundo dos Estados Unidos. E se "não existe almoço grátis", como alguns liberais corretamente apregoam, é porque os norte-americanos tinham algum interesse no Brasil.

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A candidatura Capitão Bolsonaro/General Mourão possui características que não permitem qualificá-la como de direita pelo próprio conceito de democracia. É certo que, em regimes democráticos, a maioria governa, mas respeita e promove direitos às minorias; Bolsonaro, por sua vez, afirma que "as minorias têm que se curvar às maiorias"; caso assim não procedam, que "desapareçam". Estas declarações do presidenciável, várias vezes repetidas, já não permitem quaisquer dúvidas quanto ao caráter totalitário da campanha.

Não se pode parar por aí: em que pese minha pequena identificação política com o PSDB, reconheço-os como força democrática legítima (ao menos quanto aos seus fundadores). Nunca vi algum tucano afirmar que a ditadura militar não torturou ninguém, ou ironizar a guerrilha do Araguaia, falando que "quem gosta de osso é cachorro".

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Da mesma forma, nenhum tucano falou coisa semelhante às afirmações de Bolsonaro, como a de que "sou favorável à tortura" (que é crime no Brasil e em todo o mundo), que "fecharia o Congresso" ou que "a ditadura devia ter matado mais uns 30 mil, começando com FHC. E se vão morrer alguns inocentes, tudo bem".

Jair Bolsonaro não falou isso como um "lapso" ou "em outro contexto histórico": sua vida parlamentar INTEIRA – há trinta anos ou recentemente – foi dedicada a esse tipo de discurso.

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Votar em Jair Bolsonaro significa, portanto, romper com o mínimo patamar de civilidade existente entre as pessoas. Sem qualquer exagero, cada voto conferido à chapa Capitão Bolsonaro/General Mourão é um prego no caixão da democracia.

Causa muito espanto a toda a sociedade que o antipetismo, apregoado e disseminado pela mídia e por vários atores sociais, agora seja substituído pelo discurso totalitário e, mesmo assim, partidos como o PSDB decidam manter-se neutros. A própria jornalista Mirian Leitão, que por quase dezesseis anos dedicou-se a criticar a política econômica do PT, sentiu a ira dos bolsonaristas em sua própria pele. E o que fez Miriam Leitão?

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A jornalista da Globo disse um fato real: não há como tratar o PT e Bolsonaro como "extremos" ou "equivalentes". Segundo ela mesma, "o PT é um partido que nasceu e cresceu na democracia, sempre jogou o jogo democrático e governou sempre respeitando as Instituições democráticas"; Bolsonaro, por sua vez, "sempre defendeu autoritarismo e tortura". Linchada nas redes sociais por eleitores de Bolsonaro, Miriam Leitão recebeu a solidariedade de... Fernando Haddad, a quem sempre buscou criticar!

Pois bem: se por questões de "eleições regionais" ou compromissos financeiros alguns se omitem, como o PSDB e até mesmo – pasmem! – aparenta fazer o candidato Ciro Gomes, a quem sempre admiramos, teremos de gastar muita saliva e sola de sapato para ir à periferia e conversar diretamente com o povo.

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Os eleitores de Bolsonaro, especialmente aqueles que vivem em periferias, merecem de cada uma e de cada um de nós algumas palavras: o pecado que Cristo mais condenou em todo o Novo Testamento foi o da hipocrisia. Bolsonaro diz-se cristão, mas pregar mortes e aniquilamentos é algo defensável por qualquer religião?

Sonegação fiscal é crime, e crime é coisa de bandido. Logo... se "bandido bom é bandido morto", Bolsonaro, em tese, mereceria ser morto, já que confessou publicamente não apenas praticar sonegação fiscal: recomendou a todos que o façam. Os pobres e a classe média, porém, não conseguem sonegar impostos.

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A grande questão que se põe quando existe uma dúvida é: a quem interessa a defesa de uma ideia? Sonegação fiscal somente pode interessar às classes mais ricas. Quando se fala em "matar bandidos", Bolsonaro parece referir-se apenas a pobres, e não àqueles que mandam imensas fortunas para o exterior, obtidas por meio de corrupção – basta lembrar que, além de Ustra, o Capitão elogiou publicamente Eduardo Cunha durante a votação do impeachment de Dilma Rousseff.

Quando Bolsonaro se coloca como "defensor da família", a pergunta a ser feita é se ele defende sua própria família – além da ex-mulher, de parentes desta e até o emprego de seu irmão como funcionário-fantasma, quais de suas três famílias Bolsonaro defende? Somente em 2.018 aproximou-se do filho Jair Renan, nascido fora do casamento, e pretende também lançá-lo para a política.

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Para quem se diz conservador, três casamentos diferentes e ao menos um filho fora destes é estranho. Fosse outro, Silas Malafaia, R. R. Soares, Apóstolo Valdomiro e Magno Malta já condenariam de imediato!
Infelizmente, para atingir Bolsonaro, é preciso trazer a discussão para casos ridículos. Impossível tratar sem chistes alguém que se fez famoso por meio de discursos moralistas e conservadores. Não dá para ignorar o nível da linguagem com que bolsonaristas tergiversam e enganam a população, assim como a fuga planejada de Jair Bolsonaro aos debates.

É preciso que Bolsonaro debata com Haddad, por exemplo, por qual motivo pretende revogar a PEC 81, que expropria terras onde se encontra trabalho escravo e plantio de drogas, para não as destinar a programas de habitação popular. Esse tipo de bandido Bolsonaro deseja proteger? Mais ainda: como explicar a indústria do ensino à distância (EAD) como regra a ser seguida nos Ensinos Médio e Fundamental? Isso é o "escola sem partido" ou a defesa de seu futuro Ministro da Educação, empresário na área de ensino à distância?

Bolsonaro deve deixar bastante claro em debates por qual razão seu "guru" Paulo Guedes, envolvido em escândalos de fundos de pensão, deseja não apenas flexibilizar, mas DESREGULAMENTAR direitos trabalhistas? Não adianta sequer apelar ao artigo 7º da Constituição, já que o General Mourão propôs novo texto constitucional baseado em um grupo de "notáveis juristas". Não seria mais honesto dizem QUEM SÃO estes juristas ou, ao menos, quais seriam os critérios para considerar algum jurista como "notável"?

Uma das primeiras declarações de Bolsonaro à TV já parece perigosa: "o Mourão é General e eu sou Capitão, mas na Presidência quem manda sou eu". Nem mesmo parece o Bolsonaro de sempre, que em tudo dizia depender de Paulo Guedes e outros especialistas, e que "não tomaria atitudes sozinho".

Qualquer um que conheça minimamente o Exército sabe o que mais se aprende por lá: respeito à hierarquia. Ainda que ocupem o poder civil, até que ponto o General não mandará no Capitão? Não parece nada seguro arriscar.

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