Meu partido é a escola

O partido da escola regular é a escola plural, integral, miscigenada, contraditória, crítico-pensante dos conteúdos, inclusiva de negros, índios, pobres, velhos, portadores de todos os tipos de necessidades especiais, é uma escola adaptada física e moralmente para receber todos e todas

Meu partido é a escola
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Aqueles que defendem o propalado escola sem partido estão no fundo tentado tirar o divergente e o contraditório da educação. Analisando seus proponentes e defensores estes possuem perfis dogmáticos e antissociais, além de serem fundamentalistas cristãos, pegando aqui alguns casos concretos a começar pelo autor do projeto que é um bacharel em direito, logo, nunca leu um educador, nunca fez práticas pedagógicas, ignora as teorias da aprendizagem e nunca pisou no chão de uma sala de aula na educação básica, é um leigo no assunto. Outro que defende a proposta é o Frota, também nunca leu um educador, ou qualquer teoria da educação, muito menos frequentou escola no sentido de nela aprender a conviver e respeitar o outro em suas diferenças.

Outra pessoa que defende o plano do escola sem partido é o futuro presidente; esse também nunca estudou em escola regular; desconhece o controverso, o debate, as diferenças e o livre pensar. Esse indivíduo foi internado numa caserna convivendo apenas com machos adultos, brancos, heteros, sem deficiência física, pessoas tidas como iguais, até no corte de cabelo, no uniforme e no medo das punições disciplinares, foi um recruta da ditadura militar. Ele só entende de disciplina violenta, foi treinado para ser violento e confunde reflexão com flexão de braços. Muito embora, seja, ele mesmo, um indisciplinado ao colocar bomba no quartel e ser expulso. Talvez isso explique a sua ojeriza por educação. Ademais, tenho sérias duvidas se esse sujeito pisou em uma escola nos últimos 30 anos.

Como alguém com esse perfil pode ter competência para refletir acerca do sistema educacional brasileiro e para a educação inclusiva do século XXI. Seu convívio e sociabilidade foram realizados entre seus iguais, primeiro no exército, depois numa igreja fundamentalista, logo, é incapaz de conhecer a realidade do mundo da educação formal, dessa feita, a julgar conforme seus valores bem precários e limitados, às vezes, parece até que ele tem déficit de cognição por não ter passado pela escola normal e ter vivido suas divergências, contradições, pluralidades, multiplicidades, etnicidades. Quiçá isso explique o pânico do futuro presidente ao diferente e o seu desejo de exterminar essa instituição social milenar. Um dia desses ele disse que o Brasil bom era o de 50 anos atrás, época de ditadura militar, em que a concepção de educação era propedêutica, tecnicista, burocrática, violenta, excluídora dos diferentes e conteudista decoreba com professor leigo e militar sem formação universitária ou preparo didático e pedagógico. Em geral os apoiadores, proponentes e fãs do escola sem partido tentam construir uma escola de obediência, punição e rigidez nas ideias e da flexão no lugar da reflexão.

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E por um último o Olavo de Carvalho que pisou numa escola, mas nunca passou do antigo terceiro ano primário, ele não conseguiu, sua cabeça não aguentou! Pasmem! Esse senhor é analfabeto formal; o que leva ele a ser também analfabeto político e funcional. Seu autodidatismo não conseguiu lhe dar empatia humana, sociabilidade, raciocínio emocional. Olavo de Carvalho se tornou um sociopata, pregando o ódio, violência e o extermínio ao contraditório. Como ele não conviveu, não conseguiu se adaptar à educação, nunca viveu em grupo diverso, em comunidade pensante. Por isso entende-se sua ira contra a escola, sua raiva, sua magoa, seu ódio e seu fracasso e ele catalisa a raiva de outros fracassados. Ele tem mágoa da USP, porque nunca entrou lá! E por isso tem raiva também do Paulo Freire, porque esse educador ensinou a empatia, pregou o ombreamento com o aluno, tratou o aluno como aquele que também ensina o professor, ensina coisas diferentes. Freire ensina que a relação pedagógica é uma coisa amorosa no sentido de fornecer ferramentas que o aluno não tem numa relação de mão dupla, pois ao fornecer instrumentos ao aluno este também te fornece os instrumentos dele assim a educação se dá na fraternidade, na solidariedade, oprimido se sente forte, empoderado, detentor de conhecimentos ao ajudar o professor a raciocinar. Por isso os fãs do escola sem partido têm tem medo do Paulo Freire. Paulo Freire representa o amor à escola, esse grupo do escola sem partido representa o ódio à escola. Têm ódio porque não conhece, não conhece porque não tiveram inteligência emocional para conviver com ela.

A Escola é local constitucional de segurança, paz e tranquilidade das pessoas humanas. É o lugar onde as crianças, jovens, adolescentes e mais recentemente velhos se sentem seguros dentro dos seus muros. A Escola é o lugar das pluralidades e do confronto de culturas e valores, sobretudo moral. É lugar onde se faz amigos, é o lugar de construção de laços afetivos. É na escola onde as pessoas humanas convivem e ali expõe seus problemas, suas fraquezas e fortalezas. Numa sala de aula acontece a simbiose entre os estudantes, eles se conhecem, se gostam, se comparam, se retroalimentam no outro, copia e são copiados em suas maneiras, manias e jeitos de ser. E essa simbiose se dá também entre o educador e seus educandos. É natural que o educador seja influenciado pelos seus educandos, aprenda com e como eles.

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O professor não nasce pronto, nenhum professor sai da licenciatura acabado e feito professor, o professor se faz na profissão, ser professor é se tornar um. Diante dessas constatações o professor, a princípio, vai apreendendo a cultura escolar, aprendendo com o sistema educacional, mas principalmente, aprende com seus alunos e dessa maneira absorve o convívio humano do controverso, das diferenças, ele também é moldado, se vê num contexto profissional em que seus valores, suas regras, suas ideologias não podem e nem tampouco conseguem ser impostas nos alunos como se esses fossem fábulas rasas. Talvez isso acontecesse na ditadura militar em que o professor era aquela figura violenta. Nos dias de hoje o aluno tem amplas liberdades asseguradas pela CF, LDB, ECA e demais leis que asseguram os seus direitos e deveres do controverso e do debate. A educação do século XXI inclusiva e multicultural, feita por e para estudantes críticos e pensantes não comporta professores dogmáticos, porque esse tipo logo é rechaçado no sentido de um redirecionamento ao respeito integral pelos alunos e pelos colegas. Ainda que exista algum professor dogmático, este vai aos poucos se adaptando à cultura escolar como ensina, os mestres em educação Demerval Saviani, Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro, Maria Nilde Mascellani, Florestan Fernandes, Miguel Arroyo, Jaqueline Moll e Paulo Freire.

Escola é lugar de conviver com as diferenças, lugar de tolerância, espaço de sociabilidade, é essencialmente o local onde a pessoa faz a transmutação, a passagem e o acúmulo de conhecimento. É na escola e exclusivamente nela que as pessoas saem ou rompem com as visões de mundo do senso comum e religioso. Na escola se soma, escola é lugar de somar os conhecimentos que foram adquiridos do mundo familiar, dos amigos, da religião e da rua. Ali se dá a transmutação dos saberes ditos formais em científicos. Tais conhecimentos científicos que os professores aprendem na universidade em cursos de licenciatura plena, fazendo pesquisa, expondo resultados, comunicando, sendo avaliados, fazendo TCC com rigor, teoria, métodos, disciplina acadêmica e leitura, muita leitura. Apreensão de muitos autores e suas diversas teorias. Depois disso o professor, após 4, 5 ou 6 anos dentro de uma universidade vai para a escola compartilhar seus estudos, realizado em nível de graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado. Ali na escola vai ensinar o que os Referenciais Curriculares mandam. Suas aulas são preparadas seguindo orientações política e pedagógica expressas em Regimentos internos elaborados pelo Município, Estado ou União. O professor tem que seguir o seu Plano de Aula, devidamente elaborado mensalmente e aprovado pela coordenação escolar.

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Educação é burocrática, instrumentalizada, racional, rigorosa, formal, metódica e muito séria. Portanto, esse povo que fala por ai sobre um negócio chamado escola sem partido é no mínimo incauto da complexidade do fazer educacional. Essa gente é despreparada ou mal intencionada em relação à educação humana do século XXI. Eles desconhecem os 4 pilares para a Educação da ONU: aprender a conhecer (adquirir instrumentos de da compreensão), aprender a fazer (para poder agir sobre o meio envolvente), aprender a viver juntos (cooperação com os outros em todas as atividades humana), e finalmente aprender a ser (conceito principal que integra todos os anteriores).

Os defensores do escola sem partido são pessoas desqualificadas para falar sobre a educação, não entendem nenhuma vírgula da complexidade administrativa, burocrática, legislativa, mas o pior é que não entendem nada de sociabilidade, é um tipo de gente que propõe publicamente eliminar, exterminar, prender e torturar o outro, pelo simples fato de não saber conviver com pessoas e ideias contraditórias. Diante dessas constatações sobre essa gente incauta e ignóbil, só resta afirmar e defender com força a escola normal contra esses ataques irracionais por eles promovidos. Nós educadores, temos a missão de resistir com todas as nossas forças, táticas, ferramentas e armas conjuntamente com nossos estimados alunos e alunas e seus pais e responsáveis pela manutenção da escola sem mordaça, sem autoritarismo, sem idiotia e sem delações.

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Meu partido é a escola porque nela trabalho há mais de 20 anos, aprendo a cada dia algo novo, sou aprendiz das diferenças e das divergências, tenho minhas emoções sempre renovadas. Meu partido é a escola porque ela nunca é a mesma, a cada ano se renova em suas teorias, metodologias, mas principalmente, entram pessoas novas em minha vida e com elas tenho acesso a outras formas de vida, de valores, conhecimentos e subjetividades que vou interiorizando, vou me humanizando. Convivi com todos os tipos de estudantes nesse tempo, incluindo evangélicos bem dogmáticos, ateus, agnósticos, punks, playboys, superdotados e mais limitados por uma série de razões, convivi com conservadores, radicais e com eles mais aprendi do que ensinei. Meu partido é a escola porque somente nela é possível a sociabilidade, a fraternidade, a alteridade e o outrar-se. Somente nela é possível se colocar no lugar do outro e tentar ver o mundo a partir da visão de mundo dele, do sofrimento e da angústia dele e a partir dessa compaixão resolver os problemas existentes entre as pessoas humanas.

O partido da escola regular é a escola plural, integral, miscigenada, contraditória, crítico-pensante dos conteúdos, inclusiva de negros, índios, pobres, velhos, portadores de todos os tipos de necessidades especiais, é uma escola adaptada física e moralmente para receber todos e todas. O partido da escola é definido pelo conjunto de leis que a rege em âmbito federal, estadual e municipal, com planos elaborados dentro das respectivas Secretarias de Educação composta por educadores. Por fim, o novo governo e seus asseclas defendem o fim desse tipo de escola, para implantar o caos, o autoritarismo e a volta da ditadura. Isso jamais iremos aceitar.

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