Damares Alves e a insistência no padrão feminino

Damares representa o retrocesso. É preocupante que a futura ministra indicada para criar e fortalecer projetos para a defesa da mulher compartilhe dessas ideias e propague tantas outras inaceitáveis. Ela apresenta dados muitas vezes equivocados em suas falas e faz análises descoladas da realidade

Damares Alves e a insistência no padrão feminino
Damares Alves e a insistência no padrão feminino (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)


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“É preciso que o rapaz tenha qualidades que o credenciem como bom esposo: lealdade, capacidade de trabalho, iniciativa (...) e que a moça se encaminhe para a vida de casada consciente das responsabilidades que a esperam [as tarefas domésticas e a maternidade]”. Essa frase que muito bem poderia ter sido proferida pela futura Ministra da "Mulher, Família e Direitos Humanos", na verdade é um trecho do Jornal das Moças de Agosto de 1860, que tinha como finalidade dar dicas e impor normas comportamentais para mulheres no século XIX.  

Em entrevista recente Damares Alves disse o seguinte: “Eu gostaria de estar em casa toda a tarde, numa rede, balançando, e meu marido ralando muito, muito para me sustentar e me encher de joias e presentes. Esse seria o padrão ideal de sociedade”. Em seguida ela continua “dá para a gente ser mãe, ser mulher e seguir o padrão cristão”. Essas frases estão carregadas de um ideal de vida para a mulher em que o homem assume a função de provedor do lar e a mulher está voltada para o âmbito doméstico. Ideais que nos remetem a séculos de história das mulheres que tiveram de se submeter e depender dos maridos.

Durante toda década de 1980, Damares Alves trabalhou na defesa e proteção de crianças que moravam nas ruas, foi uma das fundadoras do comitê estadual, no Sergipe, do Movimento Nacional Meninas e Meninos. A futura ministra atribui sua atuação em defesa das crianças por ter sido vitima de abuso sexual praticado por pastores durante sua infância conforme se verifica através de seu próprio discurso: “sou sobrevivente da pedofilia. Só quem passou por esse calvário é que sabe o que querem fazer com as nossas crianças”.

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Porém, apesar de todo o histórico de luta pelo direito das crianças e o alerta que faz a respeito da violência contra a mulher, por muitas vezes em seus discursos a futura ministra desqualifica a mulher e reforça estereótipos que a tempos a militância feminina tenta desconstruir. Afirmações recentes como: “a gravidez é um problema que só dura nove meses”, ou ainda sua afirmativa de que “homens e mulheres não são iguais” são extremamente problemáticas. A bolsonarista não leva em conta a desigualdade salarial de homens e mulheres e também desconsidera as dificuldades enfrentadas por mães para cuidar de seus filhos após o nascimento.

Para completar os impropérios, na última terça-feira, Damares propôs a continuidade da discussão do projeto sobre o estatuto do nascituro. Na proposta, a nova ministra indica a necessidade de uma bolsa para mulheres vítimas de estupro que decidiram manter a gravidez. Uma espécie de bônus contra o aborto, mesmo em casos de extrema violência.  

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A proposta ainda prevê que depois de identificado, o agressor se torne o responsável pelos pagamentos, o que faz com que a vítima tenha de manter algum com ele mesmo depois do trauma. Seria então uma espécie de pensão do agressor que em nada agrega, a não ser financeiramente, na reparação da vítima do estupro. Na verdade as mulheres vítimas dessa agressão monstruosa devem contar com políticas publicas que priorizem o cuidado do seu bem estar físico e mental muito para além da necessidade monetária.   

Damares representa o retrocesso. É preocupante que a futura ministra indicada para criar e fortalecer projetos para a defesa da mulher compartilhe dessas ideias e propague tantas outras inaceitáveis. Ela apresenta dados muitas vezes equivocados em suas falas e faz análises descoladas da realidade. Enquanto, na verdade, deveria refletir sobre a realidade social da mulher e deixar de pensar em padrões esteriotipados, só assim poderá criar políticas realmente necessárias.

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Será que ainda é preciso pautar um padrão para as mulheres? Já o fizeram durante anos a fio! Precisamos de mulheres que nos representem efetivamente e nos beneficiem em nossas pluralidades e escolhas. Não é hora voltar. Nenhum direito a menos!

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