Toda nudez será castigada?

Foi com absoluta estupefação que acompanhei, pela internet, os absurdos ocorridos em algumas sessões que marcaram o início do ano legislativo em várias casas legislativas, espalhadas pelo Brasil

Toda nudez será castigada?
Toda nudez será castigada? (Foto: Wilson Dias/Agência Brasil)


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Foi com absoluta estupefação que acompanhei, pela internet, os absurdos ocorridos em algumas sessões que marcaram o início do ano legislativo em várias casas legislativas, espalhadas pelo Brasil.

Gostaria de falar sobre dois casos, pontuais e específicos.

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No primeiro deles o deputado Amauri Ribeiro (PRP) eleito pelo Estado de Goiás, protagonizou uma cena no mínimo grotesca.

Na cerimônia de posse o parlamentar compareceu usando um chapéu de boiadeiro e, não satisfeito com o impacto que o adereço, símbolo de sua hipotética masculinidade pudesse causar na audiência, acomodou sua esposa sentada em seu colo, como se ela fosse sua propriedade.

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Uma cena melancólica, que certamente rodou o mundo civilizado, tornando o nome do Brasil mais uma vez como piada do momento.

O segundo episódio foi protagonizado pela deputada eleita por Santa Catarina, Ana Paula da Silva, a Deputada Paulinha (PDT) que usou na cerimônia de posse um vestido que permitia ver, através de um generoso decote, parte de seus seios.

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Gostaria de estabelecer um paralelo entre esses casos.

Primeiramente devemos levar em consideração que ambas as casas legislativas, tanto a de Goiás quanto a de Santa Catarina, aliás todas as casas legislativas do Brasil, contam com um regimento interno, com um códigos, posturas e protocolos que os parlamentares devem seguir.

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A direção da Assembleia Legislativa de Goiás, por exemplo, informou que enviou aos novos parlamentares na semana passada um documento intitulado "Informações Regimentais", com orientações sobre todas as regras.

Suponho que a Assembleia Catarinense deve ter procedido da mesma maneira, ou seu Cerimonial, pelo menos.

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Isso dito, devo reputar como absolutamente ridículo o comportamento do deputado goiano, um verdadeiro troglodita, infelizmente alçado ao poder pelo voto popular.

Esse "representante do povo" tem um histórico de barbaridades cometidas ao longo de sua vida pública, como por exemplo enquanto prefeito da cidade de Piracanjuba, ter espancado a própria filha, deixando-a com vários hematomas.

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Fotos da adolescente de 16 anos, com lesões nas costas e na boca, foram divulgadas nas redes sociais.

Posteriormente a menina desabafou:

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"Se ele tivesse me batido sem deixar marcas e conversado, tudo bem. Mas ele deixou marcas em mim por dentro e por fora. [Apesar disso] já perdoei ele. Não tenho raiva, não tenho nada, porque ele é meu pai".

"Eu fico com a pureza da resposta das crianças", diria eu, parafraseando Gonzaguinha.

Pois bem.

Em outra oportunidade o então prefeito, e agora deputado estadual eleito discutiu, e por pouco não chegou às vias de fato, contra o vereador Reinaldo Celestino, (PSC) que é deficiente físico, durante uma sessão na Câmara Municipal de Piracanjuba.

Já o histórico da deputada estadual catarinense, Ana Paula da Silva, a Deputada Paulinha, é totalmente o oposto do histórico do espancador supra citado.

Tida como excelente administradora, não há notícia que desabone sua conduta como pessoa.

Teve aprovação expressiva do povo de Santa Catarina, sendo coroada com a quinta maior votação naquele Estado.

O paralelo que estabeleço entre suas condutas é o desprezo que ambos demostraram pelos protocolos estabelecidos pelas Casas Legislativas as quais frequentarão.

No caso da deputada vi defesas apaixonadas justificando sua conduta.
"Mulher usa a roupa que quer, onde quiser", disseram algumas
"Meu corpo, minhas regras", ouvi de outras.
"Linda! Muito empoderada, muito bonita e elegante", também ouvi.

Ora, não se trata de falso moralismo, nem de machismo, nem tampouco de juízo estético.

Tenho para mim que a escolha da roupa usada pela Deputada Paulinha infelizmente meio que justifica um pouco a conduta do grotesco deputado Amauri Ribeiro, com todo o seu machismo, representante de uma sociedade heteronormativa machista composta por homens e mulheres, inclusive mulheres que reproduzem e corroboram discursos e condutas machistas, como a esposa do deputado, sentada em seu colo.

A Assembleia Catarinense tem regras sobre vestimentas, e o bom senso, que ao que tudo indica sempre norteou a vida pública da Deputada Paulinha, também aconselha certo decoro.

Não me refiro ao recato.

Longe de mim ditar regras, determinar que alguém seja "bela, recatada e do lar" para ser aceita em nossa sociedade que, reitero, é heteronormativa e absolutamente machista.
Não se trata disso.

Acredito que a escolha do traje, feita pela deputada, foi uma escolha política, mas equivocada enquanto gesto político.

Não ousarei afirmar, embora seja minha opinião particular, que o feminismo não avançou em nada com tal gesto, mas ouso dizer que doravante a Deputada Paulinha enfrentará uma série de piadas, será desrespeitada por seus pares naquela Casa e diante da primeira oportunidade que a direita tiver às mãos lançará em seu rosto, por um viés falso moralista e tacanho, a questão da escolha do traje e dos seios semi expostos.

Temo que a vida pública da deputada fique estigmatizada.

Resta a pergunta: valeu a pena?

Quanto ao troglodita eleito por Goiás sua trajetória política fala por si mesma.

Portanto não se faz necessário perguntar se "valeu a pena" fazer papel de palhaço na Assembleia Legislativa de Goiás.

Diferentemente da Deputada Paulinha, que terá sim, infelizmente, sua "nudez", fruto de uma escolha apenas equivocada, castigada, o machão Amauri Ribeiro não terá sua nudez moral e ética castigada.

Sua conduta sequer será questionada.

Para ele atuação grotesca e caricatural certamente valeu a pena, possuidor que é de uma alma minúscula.

Absolutamente insignificante.

Uma alma pequena.

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