O “Macartismo” de viés ideológico do bolsonarismo

O Brasil bolsonarista está presenciando, uns com naturalidade e aprovação e outros com perplexidade, um cenário que antecede a caça às bruxas que virá, com certeza. Para fazer essa afirmação basta ler os sinais que o governo vem apresentando nas medidas que vem implantando e também nas declarações dos ministérios, estrategicamente escolhidos

O “Macartismo” de viés ideológico do bolsonarismo
O “Macartismo” de viés ideológico do bolsonarismo (Foto: Alan Santos - PR)


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O bolsonarismo do pós eleições, reflexo imediato e preciso do conservadorismo que ressuscitou no Brasil nos últimos anos dos governos petistas, acende a chama do macartismo que a esquerda, em geral, julgava extinta junto com o fim da guerra fria, no episódio da queda do muro de Berlim. O Brasil bolsonarista está presenciando, uns com naturalidade e aprovação e outros com perplexidade, um cenário que antecede a caça às bruxas que virá, com certeza. Para fazer essa afirmação basta ler os sinais que o governo vem apresentando nas medidas que vem implantando e também nas declarações dos ministérios, estrategicamente escolhidos.

O chanceler em discurso inaugural aponta para a "guerra santa" contra o que ele chamou de marxismo cultural. Nesta categoria inclui-se professores da rede básica e do ensino superior, reitores e outros funcionários públicos de baixo escalão. Destaca-se neste contexto a medida espalhafatosa e também perigosa tomada pelo ministro da casa civil, Onix Lorenzoni, de demitir todos os funcionários do ministério com a iniciativa que foi chamada por ele de "despetização". Medidas que no médio prazo, além de paralisar o governo, também tem consequências muito negativas, pois legitimam e justificam a punição pelo suposto posicionamento político ideológico.

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No ministério da educação temos um ministro que tem demonstrado claros sinais de que não entende de educação e ao que parece também não tem educação. Em entrevista à revista Veja escancara todo o seu despreparo para o cargo ao afirmar que os brasileiros são ladrões. Na mesma entrevista dá declarações ainda piores envolvendo sua pasta, que é tão importante para o Brasil e para qualquer democracia no planeta. Defende o fim das cotas, defende a cobrança de mensalidade nas universidades públicas, defende colocar Paulo Freire, nosso maior educador, em ostracismo e substituí-lo por Olavo de Carvalho.

Mas o pior é que também defende a aprovação do projeto de lei, em tramitação no congresso, chamado Escola Sem Partido, carinhosamente apelidado pelos educadores de Lei da Mordaça. Esse projeto é a materialização, revista e atualizada, do macartismo norte americano que pairava no mundo, mas principalmente no Brasil da ditadura militar. Como é possível existir pessoas que defendam que os professores sejam denunciados por apresentarem seu posicionamento político ideológico aos seus alunos? Para além da liberdade de cátedra que está ameaçada com esse projeto, é o direito do estudante de conhecer as diferentes opiniões sobre o assunto que corre sério risco.

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Há um clima propício para manter as pessoas alienadas da realidade ao apresentar uma grande teoria da conspiração comunista, entenda-se por comunista o petismo dos últimos anos no Brasil. Nesse ponto destaca-se a atuação da classe empresarial que prega com muita ênfase esse discurso que o Brasil precisa eliminar, com o governo Bolsonaro, as raízes do comunismo/petismo da administração pública e com isso liberar os empreendedores para que façam o que eles sabem fazer, ou seja, gerar riqueza e desenvolvimento ao país. No específico temos a figura do dono da rede de lojas de departamento Havan que tem usado suas redes sociais com um discurso que beira o delírio ao afirmar que o governo brasileiro está contaminado por agentes comunistas dificultando o trabalho do atual governo.

O bolsonarismo chegou ao cúmulo de espionar, através da agencia brasileira de inteligência, a ABIN, a igreja católica, com ilações sobre a possibilidade da igreja estar fazendo oposição ao governo. É um completo absurdo chegarmos a esse ponto. É um filme repetido e de muito mal gosto a perseguição ao catolocismo, numa clara alusão às políticas persecutórias do período ditatorial brasileiro e que ninguém deseja que retorne a não ser alguns desavisados iludidos com a honestidade e retidão dos militares.

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De um lado temos as igrejas evangélicas, importantíssimas na eleição de Bolsonaro, que não representam perigo, já que em sua ampla maioria foram base de apoio e ainda são do bolsonarismo. Do outro a igreja católica, com seus bispos, organizados na CNBB, debatendo dogmas cristãos como a defesa dos direitos dos indígenas, ribeirinhos, negros, mulheres. Qual é o problema com isso? Em que esses debates no seio da igreja pode prejudicar o governo?

É impossível não citar também os devaneios da ministra da família e dos direitos humanos e todos os seus posicionamentos públicos nos últimos 45 dias.

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Caça às bruxas talvez não dê conta de conceituar o momento em que o Brasil vive e que poderá viver nos próximos anos. É preciso prestar atenção no movimento das peças desse complicado xadrez, pois também é público que há muita intencionalidade nesses posicionamentos todos e está claro que é manter a população brasileira envolta na névoa da alienação para que as verdadeiras medidas do bolsonarismo sejam tomadas livremente, sem oposição.

Lembremos que os brasileiros já tiveram muitos prejuízos com as primeiras políticas de bolsonaro, mas o cataclisma virá com a Reforma da Previdência. Fiquemos atentos e dispostos a lutar.

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