Brasil às portas de uma guerra interna. A indústria bélica sorri e agradece

O jornalista Gilvandro Filho, do Jornalistas Pela Democracia, afirma que o desvario de Bolsonaro em liberar armas para toda a população pode acabar com o poder da justiça e da polícia; ele diz: "o caminho, se nada for feito, é o confronto, em campo aberto, entre os cidadãos 'do bem' e os 'do mal'. Finda o poder da polícia e da Justiça"

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Reflita e não pense que se trata de exagero: estamos às portas de uma guerra interna de proporções inimagináveis. A tara do presidente Jair Bolsonaro em transformar o País em uma terra sem lei, onde cada um resolve suas pendengas na bala, está a um passo de virar uma hedionda realidade. Ao assinar o Decreto 9.785/19, que "flexibiliza" a posse e o uso de arma para 75% dos brasileiros tidos como "habilitados", Bolsonaro extrapola os limites da irresponsabilidade.

Já chamá-lo de inconsequente, nem seria o caso: há lógica em sua iniciativa e existe uma força pesada por detrás dessa sanha armamentista, uma indústria bélica financeiramente poderosa. Um setor que sempre financiou mandatos de presidentes governadores, prefeitos, senadores, deputados federais e estaduais e vereadores. Isto até 2014, quando acabou o financiamento privado de campanha, pelo menos oficialmente. A Taurus é um exemplo de força política e financeira tão presente junto aos governantes, incluindo o atual.

O decreto de Bolsonaro – assinado sob aplausos e mãos em forma de "arminhas", de insanos parlamentares que se julgam senhores da vida e da morte – amplia, em níveis assustadores, a permissividade dos armamentistas. Foi concebido para que cada brasileiro considerado apto possa ter em casa até quatro armas de fogo. Estão, agora, sob o manto do decreto políticos, jornalistas, desportistas e até conselheiros tutelares. Nos lares, a briga doméstica, hoje marcada pelos índices alarmantes de feminicídios, passará a ser resolvida na base da bala e ninguém mais vai segurar os brabos e machões.

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Até crianças e adolescentes poderão ter sua arma, desde que sejam atiradores esportivos e tenham autorização não mais da Justiça, mas do "responsável" legal. Como o decreto permite que esses atiradores possam circular por aí com suas armas carregadas, teremos menores de idade nas ruas, armados e municiados.

Foi o próprio Bolsonaro quem acenou com o caos, em pronunciamentos e tuitadas. Ele prometeu, por exemplo, estender aos ruralistas e aos seus capangas o "excludente de ilicitude". Ou seja, os seguranças dos proprietários, ou os próprios senhores de terras, podem matar "invasores" que não serão atingidos pelos "rigores da lei". Em português claro, a mensagem é dirigida aos sem-terra, "esses terroristas", como costuma bradar a extrema-direita que já atira e mata, impunemente, embora contra a lei atual.

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O excludente de ilicitude, instrumento legal que hoje abrange forças de segurança em situações bastante específicas, também pode alcançar até mesmo o cidadão comum. É o que pensam e bradam, em uníssono Bolsonaro e mais os seus três filhos, que se revezam na tarefa de condenar o Estatuto do Desarmamento e jogar gasolina na fogueira das insanidades que caracteriza o governo do pai.

Um dos "garotos" não poderia ter escolhido palco mais apropriado para expelir o mais recente dos absurdos envolvendo o tema. Foi na vetusta e extemporânea Tradição, Família e Propriedade, que ainda existe, acredite, personificada no Instituto que leva o nome do fundador da entidade, Plínio Correia de Oliveira. A cerca de 600 defensores da monarquia e da "preservação da Civilização Cristã", o deputado federal e chanceler informal Eduardo Bolsonaro, pregou liberar geral o excludente de ilicitude aos "cidadãos de bem" que tiverem suas casas invadidas. Na cabeça do líder do fã-clube de Donald Trump no Brasil, a função da polícia deixa de existe e salve-se quem puder.

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O caminho, se nada for feito, é o confronto, em campo aberto, entre os cidadãos "do bem" e os "do mal". Finda o poder da polícia e da Justiça. Para que essas duas instituições se cada brasileiro vai estar de trabuco na cintura, pronto para enfrentar, "de igual para igual", os criminosos? Como se essa "igualdade" de poder de fogo passasse a existir com o Decreto. Como se a professora abordada por um ladrão, na saída da faculdade, agora estivesse segura e livre de levar uma bala, já que o meliante "irá pensar duas vezes" antes de agir.

Não é nada disso. O fim do Estatuto do Desarmamento deixa o país vulnerável e os brasileiros com uma estúpida impressão de força, sentimento falso plantado pelos armamentistas, financiados e financiadores. Quem vive no crime continuará com sua expertise de crime e a ampliará. Quem "conquistou" o acesso às armas, não passou a ter, de uma hora para outra, o poder de fogo dos seus oponentes. Pelo contrário, a tendência é que, via assalto e furto, grande parte dessas armas legais que entrarão no mercado, a partir do decreto, migrem para as mãos dos criminosos.

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Com o "decreto da morte", não dá para se ter ideia de para onde vai o Brasil. Certeza, mesmo, só a de que a indústria de armas vai multiplicar seus ganhos e verá subir às alturas o valor de suas ações. Como em toda guerra, será o único lado vencedor. Cobra a fatura. Nada é de graça.

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