Governo evangélico abre guerra contra a igreja católica

"A guerra deflagrada pelo governo contra os católicos lembra tempos passados e serve de alerta para os dias de hoje, quando temos um governo que grita contra a ideologia para implantar a sua, prega autodeterminação aqui e agride países vizinhos lá fora e reclama da interferência de uma religião ao mesmo tempo que outra dá as cartas nesse mesmo governo", diz o colunista Gilvandro Filho, da rede de Jornalistas pela Democracia

Governo evangélico abre guerra contra a igreja católica
Governo evangélico abre guerra contra a igreja católica (Foto: IGO ESTRELA)


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Por Gilvandro Filho, para os Jornalistas pela Democracia É extremamente preocupante a notícia de que o governo federal, através da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), estaria "monitorando" as ações da Igreja Católica, tida pelo órgão como "inimiga potencial" dos que estão hoje no poder. Traz, de imediato, a lembrança nefasta da ditadura militar, quando a igreja foi vítima de uma guerra sem trégua deflagrada pelos militares. Eram os chamados tempos de chumbo, período que deixou um saldo dramático de mortos e desaparecidos políticos. Dentre estes, muitos eram padres ou líderes católicos.

O fantasma daquela era volta com tudo por conta de matéria publicada neste final de semana pelo Estado de São Paulo em que a ABIN e seu órgão superior o Gabinete de Segurança Institucional colocam a Igreja Católica como uma inimiga potencialmente perigosa, até por ser "aliada histórica do PT". Os bolsonautas querem frear o que eles entendem como ação de vanguarda dos católicos na oposição ao governo.

O ponto que provocou a revolta do governo, na matéria do Estadão, foi o encontro que o Vaticano promoverá para discutir a questão amazônica. Uma absurda intromissão, no entender do general Augusto Heleno, ministro chefe do GSI e o "patrão" da ABIN. Heleno lançou mão do velho chavão da soberania para desancar a iniciativa católica. "É interferência em assunto interno do Brasil", disse o principal auxiliar, na seara militar, de um governo que não está nem aí na hora de interferir em assuntos internos da Venezuela, por exemplo.

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O debate a ser promovido pela Igreja pretende mapear questões referentes à situação dos povos da floresta, indígenas e quilombolas, além de mudanças climáticas provocadas por desmatamento. Todos temas que deixam de cabelos em pé o presidente e seus teóricos, para quem todos esses quesitos são perigosas bombas terroristas que a esquerda tem para detonar e instalar em nosso país o comunismo ateu e desagregador. Informes da Abin dão conta de que o encontro será amplamente explorado para falar mal do governo Bolsonaro pelo mundo afora. Como se precisasse.

A guerra deflagrada pelo governo contra os católicos lembra tempos passados e serve de alerta para os dias de hoje, quando temos um governo que grita contra a ideologia para implantar a sua, prega autodeterminação aqui e agride países vizinhos lá fora e reclama da interferência de uma religião ao mesmo tempo que outra dá as cartas nesse mesmo governo.

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Na ditadura militar (1964-1985), a Igreja Católica esteve na alça de mira, desde o nascedouro. Tradicionalmente aliada dos governos, em tempos passados, ela começava a se desligar do poder e se aproximar do povo. O papado de Dom João XXIII marcou o começo desse posicionamento. Na década de 1960, no Brasil, a Igreja liderou vários movimentos de resistência ao golpe militar. As conferências episcopais de Medellín (Colômbia, 1968) e Puebla (México, 1979) amarraram a Teologia da Libertação e demarcaram a igreja de Dom Helder Câmara, Dom Paulo Evaristo Arns, do Padre José Comblím, de Frei Leonardo Boff, de Frei Beto.

A reação dos militares foi dura. E deixou uma relação de vítimas que inclui dezenas de sacerdotes presos, torturados e mortos. Vítimas de homicídios, como o padre Antônio Henrique Pereira Neto, auxiliar direto de Dom Helder, torturado e morto por policiais do DOPS de Pernambuco, em maio de 1969. Ou de suicídios, como foi o caso do frade dominicano cearense Tito Alencar Lima, que passou os últimos anos de vida ouvindo as vozes de seus torturadores até que não aguentou mais e tirou a própria vida, em agosto de 1974, em Eveux, França, onde vivia exilado.

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É difícil assistir escaramuças como essa da Abin em cima da Igreja Católica sem lembrar de tudo isso. Aliás, é necessário lembrar de tudo isso quando acontecem ameaças desse tipo. Ainda mais se tais reações vêm de um de um governo que tem na seara religiosa um componente forte e influente.

A bancada evangélica foi um dos principais alicerces da candidatura de Bolsonaro. E hoje é um dos maiores pilares do governo que ajudou a eleger. A ponto de operar situações aparentemente inexplicáveis, como a presença da pastora Damares Alves à frente do ministério da Mulher, da Família e dos Direitos. Vem dos evangélicos também temas polêmicos do governo, a exemplo da mudança da embaixada brasileira em Israel, de Tel Aviv para Jerusalém.

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O general Heleno, além de integrar a majoritária ala militar do governo Bolsonaro, é tido como um dos mais ardorosos quadros da ala evangélica. É personagem central na notícia que hoje inquieta o País.

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