Defesa de ditadores é risco à democracia

"Como presidente da República, cargo que assumiu prometendo obedecer e zelar pela Constituição, ao defender torturadores como Ustra e governos ditatoriais latino-americanas dos anos 1960/80, entre as quais o Paraguai de Alfredo Stroessner foi uma estrela de primeira grandeza, Jair Bolsonaro deixa uma dúvida muito grande sobre o que pensa e o quer em relação à democracia brasileira", diz o jornalista Gilvandro Filho, da rede de Jornalistas pela Democracia

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Ao participar de uma cerimônia oficial internacional, na teórica condição de representante maior do Brasil, e abrir a boca para defender ditadores e torturadores, o presidente Jair Bolsonaro manda uma imagem preocupante para fora do país. E pratica o mesmo tipo de violência política e institucional que comete aqui dentro.

Aqui, ele não se cansa de saudar e expelir loas a torturadores assassinos como o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, único brasileiro, até agora, condenado por tortura. E de apontar como exemplos de governantes ditadores como o simplório Costa e Silva e o truculento Emílio Garrastazu Médici.

A bola da vez do presidente brasileiro é o falecido ditador paraguaio Alfredo Stroessner, um modelo ser seguido segundo o "mito", que o elogiou durante a cerimônia de posse do novo diretor da Itaipu Binacional. Para o "capitão", Stroessner é um modelo, um ser irretocável, que salvou o Paraguai do comunismo.

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A série de absurdos verbais foi proferida diante do presidente paraguaio, o conservador Mario Abdo Benítez, outro chefe de Estado da direita cuja hegemonia política ameaça tornar a América Latina em um quintal dos Estados Unidos.

O homenageado do dia foi, na verdade, um presidente cruel e sanguinário. E seu governo deixou como saldo mórbido de 3 mil mortos e desaparecidos. O "democrata" enaltecido por Bolsonaro recebeu financiamento maciço das grandes corporações estrangeiras instaladas no Paraguai, especialmente as norte-americanas, e governou para elas. Os governos dos EUA, em várias gestões, foram o seu grande esteio financeiro e político.

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Stroessner "reinou" entre 1954 e 1989, maior período de uma única ditadura já existente na América do Sul. Assumiu pela primeira vez na garupa de um golpe de estado. Foi "reeleito" por sete vezes, sempre em pleitos fraudados e sob severa censura e movido a truculência. Em 1977, perdeu a paciência com eleições e decidiu aprovar uma emenda constitucional que o tornou presidente vitalício.

Junto com o Brasil de Ernesto Geisel, com o Chile de Augusto Pinochet, a Argentina de George Videla e o Uruguai de Pacheco Areco, além da colaboração da Bolívia de Hugo Banzer, o Paraguai de Stroessner participou com entusiasmo do maior crime organizado internacional da história do continente, a Operação Condor, logística mortal que caçava em um país adversários políticos do outro. Uma quadrilha sanguinária e muito bem estruturada de chefes de Estado, todos ditadores, formada para caçar, prender, torturar, matar e sumir com os corpos dos seus opositores. Se possível sem deixar rastros.

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Ao fazer mais esta apologia às ditaduras e à tortura, Bolsonaro manda para o pau de arara a Constituição brasileira, que, em seu Art. 5º determina: "Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

XLIV – constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático. "

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Como presidente da República, cargo que assumiu prometendo obedecer e zelar pela Constituição, ao defender torturadores como Ustra e governos ditatoriais latino-americanas dos anos 1960/80, entre as quais o Paraguai de Alfredo Stroessner foi uma estrela de primeira grandeza, Jair Bolsonaro deixa uma dúvida muito grande sobre o que pensa e o quer em relação à democracia brasileira.

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