Ser popular é uma coisa. Bolsonaro é outra

Segundo Gilvandro Filho, do Jornalistas pela Democracia, "existe uma tese, maldosa e falsa, utilizada por quem domina e se serve disso, segundo a qual ser popular e estar alinhado ao gosto do povo é se permitir ter mau gosto e ser dado a baixaria. Trata-se de uma estratégia antiga de manter o povo em seu lugar, ignaro, consumindo apenas do ruim e do pior. Manipulável"

Ser popular é uma coisa. Bolsonaro é outra
Ser popular é uma coisa. Bolsonaro é outra (Foto: Marcelo Camargo - ABR)


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Por Gilvandro Filho, do Jornalistas pela Democracia

Existe uma tese, maldosa e falsa, utilizada por quem domina e se serve disso, segundo a qual ser popular e estar alinhado ao gosto do povo é se permitir ter mau gosto e ser dado a baixaria. Trata-se de uma estratégia antiga de manter o povo em seu lugar, ignaro, consumindo apenas do ruim e do pior. Manipulável. O povo se acostuma com porcaria quando o que lhe é servido é somente porcaria. Se a ele for dada a oportunidade de comer biscoito fino, ele pode até não gostar, mas não vai aceitar que lhe empurrem goela a dentro tudo quanto é bolacha estragada.

Isto vale para comida, para bebida, para música, para praticamente tudo. Isto vale para política. Nesse último episódio envolvendo o presidente Jair Bolsonaro e seu vídeo pornô, a lembrança dessa tese logo vem à tona. De imediato os adeptos do presidente saíram em defesa dele. Como era de se esperar, mas em menor intensidade que o previsto, talvez, por vergonha. E a justificativa foi, mais uma vez, com a confusão deliberada sobre o que é popular e o que é baixo.

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Para a senadora Mara Gabrilli (PSDB) e para o senador Major Olímpio (PSL), o presidente falou a linguagem do povo para explicitar um problema “que todo sabe que existe”, como disse a parlamentar. Na verdade, foram só eles que pareceram para defender Bolsonaro no Jornal Nacional, na noite da quarta-feira (06). Está ficando difícil fazer a defesa do “mito”, que vai acabar falando só para os três filhos.

Em seu afã de ser “popular”, Bolsonaro apelou. Nem todo mundo assiste aquele tipo de cena assim, corriqueiramente. E generalizou, para baixo, os excessos que existem durante o carnaval, mas que são minoria diante do que acontece nos dias de Momo. Nem todo mundo sai de casa para se masturbar em praça pública ou para dar e tomar “chuva dourada”. Ou “golden shower”, como nem sabia dizer o que era o presidente. Ou “lluvia dorada”, como deu em manchete o mexicano El Mercúrio, um dos muitos veículos da mídia mundial a noticiar o vexame planetário (mais um) do presidente de nossa República.

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Na verdade, houve, por parte de Bolsonaro, uma tentativa de escamotear as reais razões da sua ira, ao sair postando esse tipo de escatologia nas redes sociais – segundo o jornal Folha de SPaulo, o presidente parece não ter mais nada a fazer a não ser brincar de twitter. A postagem, assim como outras mensagens agressivas foram em resposta à enxurrada de críticas que o presidente e seu desgoverno receberam nas ruas de todo o País, assim como nas próprias redes sociais. Como cada um só consegue dar o que tem, a baixaria foi a resposta encontrada.

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Mas, Bolsonaro é o presidente do Brasil e foi eleito pela maioria dos brasileiros, repetem seus apoiadores à exaustão. Como se o mantra fosse, ao pé da letra, um atestado de democracia. E como se, por isso, Bolsonaro passasse a exibir tatuado na testa um certificado de popularidade. Como foi eleito Bolsonaro, na cabeça dele, dos filhos e dos assessores, pode tudo. Democracia não é isso.

E é sempre importante lembrar: se as eleições (o pleito, no dia) foram limpas, o pré-eleitoral não foi tanto assim. Não se pode esquecer que, para Bolsonaro chegar ao Planalto, o candidato favorito, Luiz Inácio Lula da Silva, foi alijado do processo por uma investigação desumana e suspeita, condenado sem provas e preso sem razão. Tudo isso comandado pelo mesmo juiz que, findo o processo eleitoral, seria ungido ministro da Justiça pelo presidente eleito.

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Não dá para esquecer, também, da campanha do “capitão” em si, repleta de mentiras e fakenews como o “kit gay” e a ”mamadeira de piroca”. Sem falar no atentado até hoje mal explicado, ocorrido no meio de um aparato enorme de assessores e seguranças e do qual o autor saiu ileso, sem um arranhão sequer. O que se utilizou na campanha, a grosso modo, foi o que se fez agora o carnaval. Usou-se a “linguagem popular”, foi dado ao povo “o que povo queria ouvir”. Mentira. Na época, como agora.

Ser popular, é falar a linguagem do povo. Outra coisa, completamente diferente, é ser mal-educado, grosseiro, ignorante, violento, mentiroso, misógino, preconceituoso, arrogante, dissimulado, solerte.

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O povo, em sua maioria, não é assim. 

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