Ser vizinho do presidente não diz nada. Mas o que diz algo no Brasil de Bolsonaro?

"O fato de um desses dois ex-policiais, Ronnie Lessa, com o salário de policial aposentado, morar em um condomínio de classe alta, na Barra da Tijuca, com piscina e de frente para o mar, já é, por si, um indicador de que ele não vivia às expensas do próprio salário. Mora ali quem pode. Como o seu vizinho Jair Bolsonaro, que mora a apenas três casas de distância", escreve o jornalista Gilvandro Filho, do Jornalistas pela Democracia

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Por Gilvandro Filho, para o Jornalistas pela Democracia - O que significa o fato de o presidente da República, Jair Bolsonaro, e o ex-PM Ronnie Lessa, preso junto com sargento reformado da PM Élcio Vieira de Queiroz, ambos acusados de serem matadores da vereadora e ativista dos direitos humanos Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, terem residências no mesmo condomínio, no Rio de Janeiro? A rigor, nada. Mas, o detalhe faz levitar moscas varejeiras sobre a poça malcheirosa em que o caso ainda vai se se transformar.

E o que mostra o fato de um dos filhos do presidente, no caso o caçula Jair Renan, ter namorado da filha do ex-PM e vizinho de condomínio? Nada a ver, se olharmos de longe. Afinal, dois jovens não podem se conhecer e ter um relacionamento afetivo independentemente de quem sejam pais, correto? Claro. Mas, alguma relação pode haver entre as duas famílias, ou que pode acabar tendo havido, a partir do namoro dos dois jovens. De todo modo, estranhos não são.

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"Isso diz nada", dirão em coro os bolsonautas que ainda não abriram mão da tietagem em cia do "mito" e os "isentões" cujo partido é o Brasil e só creem naquilo que pode ser provado, desde que não envolva os comunistas, os "lulopetistas" ou os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff. Afinal estamos no Brasil, país em que fazer sentido ou não ter provas é apenas um detalhe. Está aí de prova o próprio processo contra Lula.

E teve a "entrevista" concedida por Jair Bolsonaro a emissoras de TV. Com o seu jeito blasée de quem acaba entregando o ouro, o presidente, primeiro procurou jogar fumaça na prisão dos acusados, plantando suspeitas na condição dos ex-policiais: "Espero que a apuração realmente tenha chegado aos executores. Se é que foram eles". Uma espécie de "benefício da dúvida" que não é muito comum no presidente, sempre pródigo em acusar adversários, jornalistas e artistas com base em notícias falas que são logo desmentidas. Mas que funciona que é uma beleza, na hora de defender auxiliares acusados de irregularidades, alguns até condenados.

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Na mesma entrevista, o presidente procurou fazer ligação entre o crime brutal cometido contra Marielle e Anderson e o episódio de Juiz de Fora, na campanha eleitoral, quando o candidato do PSL foi esfaqueado, um caso até hoje cercado de mistérios que vão desde o ato em si – praticado, do nada, por um sujeito surgiu no meio de um aparato monstruoso de assessores atentos, adeptos fanáticos e seguranças bem preparados, que deixaram o agressor sair ileso – até as suas consequências. Foi o ato que tirou Bolsonaro do tête-à-tête eleitoral e transformou a campanha em uma gincana virtual de fakenews e ameaças de agressão e até de morte contra os adversários partidários.

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"E também estou interessado em saber quem mandou me matar", disse o presidente, como que desmentindo os fatos, já que não há nada tocado com menos interesse dentro do seu governo que o próprio episódio do "atentado". A descabida comparação dos dois fatos faria corar até estátua de pedra.

Sobre a prisão de dois dos possíveis assassinos de Marielle e do jovem Anderson, o fato levanta a esperança de que o caso não fique somente por aí. Agora, que sejam também identificados e presos os mandantes, com o que até Bolsonaro disse concordar, na entrevista. Pelo que se tira das primeiras informações, os dois sequer conheciam direito Marielle. Agiram, portanto, de maneira profissional, na condição de assassinos por encomenda. Típicos milicianos. Mas, quem encomendou?

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O sargento reformado Elcio Queiroz foi preso acusado de ter dirigido o carro que conduziu o assassino (ou os assassinos) de Marielle. O ex-PM Ronnie Lessa teria sido o autor dos disparos. Pelo noticiário, os dois são figuras manjadas no submundo da milícia carioca. A mesma milícia que já foi alvo de homenagem por parte do ex-vereador e hoje senador Flávio. As primeiras informações dão conta de Elcio Queiroz seria uma pessoa truculenta, exímio atirador, muito temida por seu temperamento.

O fato de um desses dois ex-policiais, Ronnie Lessa, com o salário de policial aposentado, morar em um condomínio de classe alta, na Barra da Tijuca, com piscina e de frente para o mar, já é, por si, um indicador de que ele não vivia às expensas do próprio salário. Mora ali quem pode. Como o seu vizinho Jair Bolsonaro, que morava a apenas três casas de distância.

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