Croniqueta de domingo: 1986 – A campanha que uniu Miguel Arraes e Reginaldo Rossi

Croniqueta de domingo: 1986 – A campanha que uniu Miguel Arraes e Reginaldo Rossi
Croniqueta de domingo: 1986 – A campanha que uniu Miguel Arraes e Reginaldo Rossi


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A partir de 1985, o cantor e compositor Reginaldo Rossi mergulhou de cabeça nas campanhas eleitorais do seu amigo Jarbas Vasconcelos. Naquele ano, Jarbas foi candidato a prefeito do Recife e teve que fazê-lo pelo PSB, num momento atípico, politicamente, em que foi forçado a mudar de partido.

O racha aconteceu como consequência da campanha por "Eleições Diretas, Já", em 1984. Apesar da gigantesca mobilização por todo o País, as "Diretas" foram derrotadas pelo Congresso. Jarbas não aceitou ir ao colégio eleitoral votar em Tancredo Neves. O PMDB lhe negou e legenda para disputar a Prefeitura do Recife e lançou o seu candidato, o advogado e deputado federal Sérgio Murilo Santa Cruz.

A "esquerda" do PMDB estava toda com Jarbas, enquanto que os chamados "moderados" apoiavam o candidato oficial do partido. O ex-governador Miguel Arraes dominava o PSB e "cedeu" a legenda para Jarbas disputar o pleito.

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Jarbas ganhou apertado, numa campanha muito disputada, com golpes baixos de lado a lado, inclusive. Mas, uma campanha muito animada. Afinal, Reginaldo Rossi era a estrela da festa, dos "showmícios', que eram liberados naquela época.

No ano seguinte, a campanha foi para governador e o candidato do PMDB era Miguel Arraes. Campanha histórica e radicalmente politizada, encarada como o resgate de um mandato cassado pelo golpe militar de 1964. Arraes venceria o usineiro José Mucio Monteiro, do PFL. E voltaria "ao Palácio das Princesas para entrar pela porta que saiu", como cantava o artista popular Zeto do Pajeú, precocemente falecido anos depois.

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A campanha de Arraes tinha em Zeto a animação artística politizada e ideológica. Arraes adorava. Mas, também tinha a animação popular, romântica, escrachada e que o povão amava, que era Reginaldo Rossi, trazido para a campanha pelas mãos do prefeito Jarbas.

A princípio, a opção brega não agradava nem um pouco a Arraes. Foi um custo convencê-lo de que Rossi somava e ampliava o apoio junto ao povão. Reagia, nos primeiros comícios em que o "Rei do Borogodá" aparecia, sob aplausos dos rapazes e delírio das moçoilas da periferia. Arraes demorou, mas acabou aceitando. Sem muita festa. Mas, tudo bem. Rossi não atrapalhava. Pelo contrário. Então... porque não?

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Em um dos maiores comícios daquele ano, na Praça da Convenção, no bairro de Beberibe, na Zona Norte, Rossi se sentia em casa e desfiava os seus grandes sucessos da época: "Borogodá/Deixa de banca", "A raposa e as uvas", "Recife, minha cidade", o hino extraoficial da campanha de Jarbas, um ano antes. Até que o "Rei" resolveu homenagear o candidato a governador. Disse que cantaria especialmente para ele um de seus mais recentes sucessos.

Todo mundo ficou esperando. Arraes, braços para baixo, cruzou uma mão sobre a outra para receber a homenagem. A banda atacou os primeiros acordes e Reginaldo Rossi abriu o vozeirão:

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- Eu devia te odiar / No entanto, só sei te amar...

Gritos e aplausos calorosos na plateia. Risos gerais em cima do palanque. Dizem que Arraes não resistiu e sorriu. Mas, isto eu não vi.

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* Conheça a canção com a qual Reginaldo Rossi saudou Miguel Arraes, em 1986

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https://www.youtube.com/watch?v=2a5z4smPjqU

** Participei dessas duas campanhas como assessor da deputada federal Cristina Tavares, eleita para a Assembleia Nacional Constituinte, em 1986. Ano em que apareciam os primeiros sinais do câncer que a levaria, seis anos mais tarde. O mesmo mal terrível que, em 2013, derrubaria o "Rei".

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