Mais um morto pelos 80 tiros de Guadalupe. E aí?

"A frase 'O Exército não mata ninguém', da lavra do presidente Jair Bolsonaro, se desgasta ainda mais", analisa o jornalista Gilvandro Filho, do Jornalistas pela Democracia, sobre a confirmação da morte do catador de material reciclável Luciano Macedo ao tentar ajudar a família que estava no carro alvejado por 80 tiros por militares do Exército; "Já era hora de o Brasil inteiro saber o que se apurou a respeito do que ocorreu naquele dia fatídico em que uma singela ida a um chá de bebê acabou numa tragédia que destruiu uma família. Agora, duas"

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Por Gilvandro Filho, para o Jornalistas pela Democracia

Não é mais uma vítima, apenas. Agora são duas. A morte do catador de lixo reciclável Luciano Macedo, na rebarba do fuzilamento do músico Evaldo Rosa dos Santos, aumenta a contabilidade dos crimes cometidos pelos militares do Exército Brasileiro no dia 7 de abril, em Guadalupe, Rio de Janeiro. A frase "O Exército não mata ninguém", da lavra do presidente Jair Bolsonaro, se desgasta ainda mais.

O Exército prometeu "apurar tudo e cortar na própria carne". Mas, a demora em se divulgar alguma coisa poderá abrir um fosso entre a transparência real da corporação e a sociedade que exige ver o crime brutal ser esclarecido e seus autores punidos na forma da lei.

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Nove militares envolvidos naquele "incidente" – como o governo, o presidente e o Exército classificaram o fuzilamento - estão presos (um deles solto por não ter atirado), "taoquêi". Mas, e aí? Já era hora de o Brasil inteiro saber o que se apurou a respeito do que ocorreu naquele dia fatídico em que uma singela ida a um chá de bebê acabou numa tragédia que destruiu uma família. Agora, duas.

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Luciano Macedo não estava sendo perseguido nem contra ele os militares tinham qualquer tipo de pretexto. Ele passava pelo local e, impactado com a cena do fuzilamento, tentou socorrer as pessoas que estavam no carro do músico Evaldo. A sua inciativa de paz não comoveu a turma da guerra e os tiros não pararam. O catador de lixo foi atingido e hospitalizado em estado grave. Veio a óbito nas primeiras horas dessa quinta-feira (18), 11 dias depois do crime. Tinha 46 anos, era casado e sua mulher está grávida de cinco meses.

A execução de Guadalupe chocou o País. Mas, Bolsonaro guardou um silêncio obsequioso de seis dias até divulgar, através do seu porta-voz e pelo canal de comunicação favorito, o twitter, que tudo não passara de "um incidente". "O Exército é do povo, e não se pode acusar o povo de ser assassino, não", "tuitou" o presidente, reverberando a opinião de outros oficiais do Exército. O ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, por exemplo, ainda adjetivou o fato como "um lamentável incidente".

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Para o filho número 2 do presidente, deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL), o Exército não tinha obrigação de saber quem era Evaldo Rosa dos Santos, muito menos o que ele fazia dirigindo aquele carro branco. Mesmo defendendo a apuração do fato, não perdeu a oportunidade de sair com uma de suas pérolas: "Ninguém tem escrito na testa que é criminoso". Ou seja, se tivesse com a marca na testa, estaria justificada a saraivada de 80 balas contra ele, mesmo estando desarmado como estava.

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Por uma dessas estranhas coincidências, no próximo dia 5 de maio, o presidente Jair Bolsonaro, através do seu Ministério da Defesa, condecorará com a Medalha da Vitória o advogado Paulo Henrique Pinto de Mello. O agraciado é ninguém menos que o advogado que defende o grupo de militares acusado pelo assassinato de Evaldo Rosa dos Santos. A medalha é dada a heróis de guerra e autores de feitos relevantes para o Exército. Pinto de Mello, além de advogado, é militar da reserva.

O Ministério da Defesa esclarece: a concessão da honraria já estava decidida antes do crime acontecer.

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