Sapiensfobia na Esplanada

O novo governo parece ser exemplo maior desse neologismo que significa desprezo à sabedoria como condutora maior das ações humanas. Mais que (só) homofóbico, o governo que se baseia antes na perseguição a esquerda, no conservadorismo e na religião acima da ciência, se tornou sapiensfóbico

Sapiensfobia na Esplanada
Sapiensfobia na Esplanada (Foto: Adriano Machado/Reuters)


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O termo "homo" tem ao menos dois significados na língua portuguesa. Em um deles, a palavra tem origem no termo grego homós e significa igual. É a partir dessa acepção que se constrói o termo homofobia, conceito que os integrantes do atual governo vêm sendo sistematicamente acusados de promover, antes mesmo de serem eleitos. Na outra acepção de homo, proveniente do latim, o termo significa "humano" e dá nome à nossa espécie, se utilizado junto com a palavra sapiens (do latim, sabedoria). Nesse outro sentido, de homosapiens, no entanto, é o conceito do sufixo da construção lexical que parece incomodar Bolsonaro. Na nova esplanada dos ministérios, a sabedoria parece não ser bem vinda e conceitos científicos são sistematicamente desprezados.

Em uma semana de governo , já foram muitos os exemplos de nomeações e declarações sapiensfóficas em Brasília. O novo Chanceler é um negacionista contumaz e acredita ser o aquecimento global uma teoria marxista para prejudicar os países capitalistas nas relações comerciais internacionais. Já o novo presidente do INEP, autarquia responsável pelo ENEM, pupilo de Olavo de Carvalho é crítico frequente do que costuma chamar de marxismo cultural. Segundo Murillo, os professores estariam mais preocupados com a doutrinação dos alunos em teoria comunistas do que no ensino em si. Murilo, adepto de teorias de conspirações mirabolantes ligadas ao aborto,, acusa os professores de roubar o poder da família por meio da ideologia de gênero.

A nova Ministra dos Direitos Humanos parece ter ilustrado ainda melhor a sapiensfobia na Esplanada. Detentora de um alto cargo em uma república laica, Damares Alves, que afirma já ter visto jesus em uma goiabeira, afirmou: "é o momento de a igreja governar". A declaração ilustra o pouco compromisso do governo com a ciência e com a produção sistemática de conhecimento. Damares talvez não tenha se atentado que o último período histórico governado pela igreja ficou conhecido como "período das trevas", justamente por misturar conceitos científicos com religiosos. O próprio Olavo de Carvalho, mentor intelectual e figura onipresente no governo Bolsonaro, mesmo sem ocupar oficialmente qualquer cargo, já se demonstrou, em maior ou menor grau, simpático a teorias rechaçadas pela ciência como, por exemplo, o criacionismo.

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Se, nesse jogo de palavras e significados, o governo de Bolsonaro é amplamente acusado de ser homofóbico, infelizmente, baseado muito mais que em declarações infelizes (em seu primeiro dia de governo, a população LGBTI foi excluída das diretrizes dos Direitos Humanos, encaminhadas por Medida Provisória ao Congresso Nacional), o novo governo parece ser exemplo maior desse neologismo que significa desprezo à sabedoria como condutora maior das ações humanas. Mais que (só) homofóbico, o governo que se baseia antes na perseguição a esquerda, no conservadorismo e na religião acima da ciência, se tornou sapiensfóbico.

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