Lula é a referência

As manifestações coletivas de repúdio a Lula mostram que o furor das vaias e dos insultos visa acima de tudo calar o dissenso, impor a amnésia e a injustiça como fatos consumados; esse ódio reflete medo, mostrando quão frágil é a virulência fascista, ansiosa por esconder seu maior fantasma numa solitária em Curitiba

Lula é a referência
Lula é a referência (Foto: Ricardo Stuckert)


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Para recuperar a competitividade eleitoral, a esquerda precisa adotar novas táticas discursivas. Embora legítima e imprescindível, a pauta humanitária atesta a identidade política de Jair Bolsonaro e a coerência de sua plataforma hedionda, permitindo que ele controle os debates públicos através da verborragia esquizofrê­nica. Falta abalar o triunfo simbólico do projeto fascista e desestabilizar o conforto retórico de seus adeptos.

A busca pela vulnerabilidade narrativa do bolsonarismo poderia começar na sua obsessão por Lula. O ex-presidente incorpora o Outro rejeitado que positiviza o retrocesso, o antagonista que Bolsonaro maneja para traçar uma singularidade ideológica. Um Lula às avessas, o poste da Lava Jato afirma-se negando o modelo, mas preservando-o para usos oportunos.

Ora, sendo Lula uma referência privilegiada para a direita, por que não explorar o seu imenso potencial de comparação? Bolsonaro fugiu desse problema na campanha, mas venceu prometendo soluções milagrosas para o colapso gerado pela incompetência petista. O mínimo que se pode exigir do mito é superar administrativamente o grande enganador petralha.

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Os índices dos governos Lula deveriam tornar-se base cotidiana para o acompanhamento da gestão Bolsonaro, em fóruns digitais, manifestações no Congresso, entrevistas de lideranças partidárias, blogs, páginas exclusivas na internet e até painéis publicitários. Criando uma enorme sombra de eficácia alheia em torno dos salvadores ultraliberais, um círculo virtuoso de “expectativas saudosas” que ressuscite as pautas relevantes de fato para a sociedade.

Sempre que os porta-vozes do bolsonarismo atacarem os paralelos, o jogo de réplicas e novas respostas ajudaria a sedimentá-los como tópico de discussão. O incômodo faria os governistas desqualificarem Lula, admitindo a premissa comparativa e seu potencial embaraçoso. A virulência ideológica do fascismo fortaleceria o apelo persuasivo das estatísticas. Quanto maior o ataque ao ex-presidente, mais enfática a cobrança para que ele seja superado. E maior a percepção do abismo que o distingue dos inimigos.

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Cada pretexto para desviar o assunto (Dilma, crise, malufismo, etc.) oferece meios de retomá-lo. Acima de tudo, porém, a relevância de Lula afirma-se num motivo simples e indiscutível: só ele poderia vencer as eleições no lugar de Bolsonaro. As implicações desse fato, unindo os avanços de outrora à condenação arbitrária do ex-presidente,vão além de minúcias judiciais e folclores punitivistas, atingindo inclusive as pessoas decepcionadas com o PT.

Embora desagrade certos esforços para transformar a esquerda numa facção moderada (“construtiva”) do antipetismo, a proposta não alimenta delírios hegemônicos ou sebastianistas. Basta-lhe semear provocações incômodas nos consensos vigentes, usando critérios técnicos e positivos que não reproduzam os falsos encantos da doutrina reacionária.

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Atingindo o cerne da autolegitimação fascista, o resgate da memória do lulismo talvez seja uma alternativa pragmática de luta nessa interfase eleitoral. Especialmente porque preencheria a perigosa lacuna de referências gerada pelo previsível fracasso de Bolsonaro, invertendo o jogo de vitimização que seus adeptos preparam para justificá-lo.

As manifestações coletivas de repúdio a Lula mostram que o furor das vaias e dos insultos visa acima de tudo calar o dissenso, impor a amnésia e a injustiça como fatos consumados. Esse ódio reflete medo, mostrando quão frágil é a virulência fascista, ansiosa por esconder seu maior fantasma numa solitária em Curitiba.

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