A força mental de José Dirceu de Oliveira e Silva

"Dirceu é a força encarnada. Vai para a prisão com mais altivez que a maioria absoluta dos políticos covardes que compõem a cena brasileira de turno. Pense em um Geddel chorando e implorando para ficar solto. Pense em um Aécio chorando e bebendo, com seus medos múltiplos e inconfessáveis. Pense em um Eduardo Cunha, em um João Santana, em um Marcelo Odebrecht – aliás, todos convíveres de Dirceu na prisão. Nenhum deles tem um milésimo da força espiritual e mental de José Dirceu de Oliveira e Silva", diz o linguista e colunista do 247 Gustavo Conde sobre a entrevista do ex-ministro José Dirceu à jornalista Monica Bergamo

***FOTO EMBARGADA PARA VEÍCULOS DE RS E SC*** PORTO ALEGRE, RS. 15.12.2012: PT/DIRCEU - O ex-ministro chefe da Casa Civil José Dirceu partcipou de evento do Partido dos Trabalhadores na manhã deste sábado no salão da igreja Pompeia, em Porto Alegre. Ovaci
***FOTO EMBARGADA PARA VEÍCULOS DE RS E SC*** PORTO ALEGRE, RS. 15.12.2012: PT/DIRCEU - O ex-ministro chefe da Casa Civil José Dirceu partcipou de evento do Partido dos Trabalhadores na manhã deste sábado no salão da igreja Pompeia, em Porto Alegre. Ovaci (Foto: Gustavo Conde)


✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

O imaginário popular sobre o significado filosófico da prisão está a todo vapor. Nunca se falou tanto sobre prisão, sobre rotinas de presos, sobre a capacidade de resistência psicológica humana em suportar o isolamento da sociedade.

Tudo isso vem à tona porque estão sendo presas pessoas que não deveriam ser presas. Esse é o gatilho do discurso sobre a prisão que invade a própria imprensa tradicional. É o mesmo script temático dos clássicos filmes de prisão: Alcatraz (1979), Um Sonho de Liberdade (1995), Hurricane (1999), O Conde de Monte Cristo (2002) e tantos outros.

O tema prisão é um gênero cinematográfico, tal a força espiritual que ele enseja, inspira e organiza, é o homem diante de si, a solidão como re-encontro, o autoconhecimento, a força mental, a resistência, o humano em seu grau máximo de provação, política, espiritual, social.

continua após o anúncio

O médico e escritor Drauzio Varella, que conviveu com presidiários prestando serviços comunitários dentro de prisões e escreveu vários livros sobre essa rotina de presos, revela que, numa prisão, a disciplina, a humanidade, a lei interna, a solidariedade, a lua pela sobrevivência (que o sistema não garante) é a tônica. O preso que não se submeter a esse novo regime não irá suportar a prisão, o que pode se dar de várias maneiras, sendo que a mais comum delas é a própria “auto extinção”, enquanto ser humano e ser biológico.

Esse conjunto de discursos e debates afloram, portanto, em função da série de prisões arbitrárias que vem ocorrendo no Brasil. A iminente prisão de José Dirceu é uma delas, uma vez que a prisão de Lula já aconteceu.

continua após o anúncio

José Dirceu dá hoje um entrevista histórica a Mônica Bergamo. Franca, honesta, direta, sem meias palavras. Dirceu demonstra uma força mental que poucas pessoas no mundo são capazes de demonstrar. Ele não se intimida com a ideia da prisão, mesmo sabendo que foi e é perseguido como Lula e como tantos outros políticos filiados ao PT.

Ela sabe a origem da perseguição, sabe a quem ela serve e sabe das consequências que ela terá a médio prazo. Dirceu tem plena consciência do que está ocorrendo com a história do Brasil e como o PT está se saindo vitorioso de tudo isso.

continua após o anúncio

É difícil para mentes menos resistentes entender isso – que o PT e a esquerda são vitoriosos – mas essa compreensão, mais cedo ou mais tarde virá seja pelas vias da narrativa histórica, seja pela própria democracia re-estabelecida.

Dirceu é uma rocha. Por isso incomoda tanto, mesmo preso, mesmo proscrito da vida pública. Dirceu carrega uma simbologia insuportável para a elite fraca brasileira: ele tem biografia. E é uma biografia cinematográfica em todos os sentidos.

continua após o anúncio

José Dirceu lutou contra a ditadura. Com seus 22 anos, organizou o imenso e impactante congresso em Ibiúna, em 1968, como líder estudantil e lá foi preso. Libertado em troca do embaixador americano Charles Burke Elbrick, sequestrado justamente para ser "trocado" pelos presos políticos da ditadura, seguiu para o México e depois para Cuba, onde fez treinamento de guerrilha e ficou amigo de Fidel Castro.

Dirceu fez uma plástica para voltar ao Brasil clandestinamente e continuar lutando pela volta da democracia. Casou-se e constituiu família com sua outra identidade, identidade esta adotada também em razões de segurança: seus familiares e laços seriam fatalmente perseguidos pela ditadura, tão logo o regime tivesse informação correlata.  

continua após o anúncio

Trabalhou honestamente, tendo que controlar espiritualmente toda a sua história de luta e sua própria identidade. Quem tem uma força assim? Não bastasse, no processo de redemocratização do país, reassumiu sua identidade real e revelou à família - que o apoiou e o admirou mais ainda. Quem tem uma biografia dessas?

Construiu um partido junto com Lula, foi – e é – o mais leal amigo de luta e de causas de Lula, e manifesta sua eterna gratidão e admiração pelo metalúrgico que encantou o Brasil e o mundo com sua inteligência e generosidade. Dirceu deixa claro: se preciso, morre por Lula e pelo país. Deixou isso claro, aliás, com sua biografia, não apenas na entrevista histórica que concedeu hoje à Folha.

continua após o anúncio

Uma biografia dessas é um soco na elite covarde que foge ao primeiro sinal de perigo real, como sempre fugiu. Conviver com um ministro desses, inteligente, estrategista, forte emocionalmente, que sabia exercer o poder e que era leal ao presidente Lula foi um trauma colossal para a elite política que habitava e voltou a habitar Brasília. Roberto Jefferson sentiu-se tão menosprezado e inferiorizado a Dirceu nos idos de 2005 que sua única opção foi inventar o mensalão para a mesma Folha e desencadear um processo emocionalizado de vingança coletiva e judicial no país.

Dirceu é a froça encarnada. Vai para a prisão com mais altivez que a maioria absoluta dos políticos covardes que compõem a cena brasileira de turno. Pense em um Geddel chorando e implorando para ficar solto. Pense em um Aécio chorando e bebendo, com seus medos múltiplos e inconfessáveis. Pense em um Eduardo Cunha, em um João Santana, em um Marcelo Odebrecht – aliás, todos convíveres de Dirceu na prisão. Nenhum deles tem um milésimo da força espiritual e mental de José Dirceu de Oliveira e Silva.

continua após o anúncio

Hoje, Dirceu voltou a aparecer para o país como aquilo que ele realmente é: um homem dotado de extrema coragem e profundo sentido de nacionalidade e humanidade. Dirceu entra para a história como mais um preso político, preso político pela segunda vez, porque resolveu lutar contra as injustiças e o arbítrio que massacra o Brasil desde sempre.

Dirceu tem vida interior, ele não precisa dos prazeres mundanos para dar cabo das saciedades frívolas da elites nacionais. Ele não teme a solidão, não teme o isolamento, não teme o inimigo político-judicial. Ele tem conteúdo em sua própria cabeça para resistir com dignidade ao arbítrio que sofre juntamente com seus pares de luta democrática.

José Dirceu sabe: vai produzir na prisão. Quem habita a vida simbólica com o devido respeito e dignidade não hesita diante de uma dificuldade qualquer imposta por próceres do judicialismo persecutório. Dirceu fará mais uma histórica limonada com a violência que se lhe é imposta.

 

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247