Evoé, Lula!

"No cárcere e na condição de contendor político apartado pela covardia e pelo medo de perder da nossa elite, Lula vai usar toda a sua inteligência e intuição para vencer essa batalha de um jeito diferente daquele que subjaz às suas vitórias eleitorais constantes", diz o linguista Gustavo Conde, sobre mudança de tom da carta publicada por Lula

Evoé, Lula!
Evoé, Lula! (Foto: Ricardo Stuckert)


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O país deu um "solavanco" neste principio de semana. A Copa anestesia a imprensa e a população - por mais que se a deteste - e vai retraindo os acontecimentos de maneira perigosa. 

Ao final da Copa, o país tende a explodir politicamente. O mais grave é que a seleção brasileira joga bem e pode estar na final (eu torço contra, mas só torço, não posso fazer nada). 

Tecnicamente falando, o time encaixou e cresceu, para a felicidade da Globo e dos patrocinadores.  

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Some-se isso à carta que Lula publicou ontem e à greve de fome da militância e temos um coquetel social bastante incendiário. 

A carta de Lula instaura uma novidade e uma novidade de cifras explosivas. Não é mera coincidência que o anúncio da greve de fome da militância progressista tenha se dado um dia depois da publicação da carta. 

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A carta de Lula é tomada por emoções. Lula abandonou a sua insistente confiança nas instituições e isso tem um peso descomunal na leitura da realidade e na própria realidade. 

Como tradição nos textos históricos que provocam mudanças de rumo político e social, o que prevalece na carta de Lula é o tom. Esse tom é emocional e atende à função de dar um 'tranco' na percepção política. É o estopim para insurreições.

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Lula abandonou sua posição institucional e adentra com sua rara inteligência o terreno concreto da revolta e das mobilizações decisivas. Ele cansou de esperar e produziu a senha (imediatamente lida pelos movimentos sociais).

O grande embate, finalmente aponta no horizonte. Lula decidiu usar seu patrimônio incomensurável de conexão direta com o povo para desencadear o processo de retomada da narrativa soberana do país. 

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Vai fazer isso através da linguagem, que é o que lhe resta. A greve de fome dos militantes progressistas é só um capítulo inicial deste processo. A intensificação da ação de Lula contra o golpe tem início oficial neste exato momento da nossa história, 4 de julho de 2018, data emblemática e sugestiva diante da sabotagem americana em nosso território político. 

No cárcere e na condição de contendor político apartado pela covardia e pelo medo de perder da nossa elite, Lula vai usar toda a sua inteligência e intuição para vencer essa batalha de um jeito diferente daquele que subjaz às suas vitórias eleitorais constantes. 

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Ele experimenta a coincidência cósmica de estar preso em plena Copa do Mundo de Futebol e vai usar – já está usando – esse evento como gatilho simbólico para sua cartada de mestre. Lula sabe que, depois do dia 15 de julho, o país entra em modo “política” e forra essa superfície com sua palavra e seu chamamento indireto - e, por isso mesmo, mais invasivo e mais poderoso. 

Se se pudesse traduzir a carta de Lula com uma frase, seria: ‘é hora de rechaçarmos esta classe pusilânime de maus perdedores à unha”. O STF pediu por este tipo de atitude e talvez devamos até agradecer a este medonho tribunal dos horrores um dia. 

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Lula saiu da casinha. Saiu da caixinha do respeito às instituições, cansado de ver sua própria equipe de defensores pasmos com tamanha arbitrariedade jurídica associada às mais diversas imposturas e manobras pseudo teóricas de contenção processual. O poder judiciário tornou-se um inimigo da democracia e este é outro enunciado que se pode depreender da carta de Lula. 

A luta, portanto, recomeça. A esquerda tem a maioria da adesão do povo brasileiro neste momento. Ela vence as eleições com folga. Isso está posto nas pesquisas. Lula sabe disso – afinal, ele é o líder absoluto na preferência do eleitorado – e vai colocar o seu time em campo.

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O time de Lula, neste momento, são suas palavras e seu texto. É simples notar o quanto ele intensificou sua comunicação com o povo e a blogosfera. Está escrevendo muito mais e publicando quase que diariamente. Isso marca uma inflexão digna de muita atenção. 

Muda-se o regime retórico das persuasões do significado que emana de Lula. Na ausência da voz física, ‘sai do banco’ a voz textual, impregnada de tons e de ethos, demarcando um novo território de embate simbólico e político. 

É o Lula 4.0, o Lula escritor, o Lula múltiplo, pleno dos mais inacreditáveis talentos e virtuosismos no gerenciamento do sentido histórico e político. 

É mais um Lula vencedor para infernizar a vida confortável dos mantenedores de poder. Evoé, Lula!

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