A Pátria está em perigo, mas o povo não se dobra!

Corporações financeiras internacionais em sociedade com Macri esvaziam os cofres do Banco Central Argentino, e contraem mais de US$ 30 bilhões de empréstimos com o FMI, somados aos já US$ 110 bilhões de dívida externa contraída desde o fim de 2015, abrindo as portas a um colapso total da economia

Corporações financeiras internacionais em sociedade com Macri esvaziam os cofres do Banco Central Argentino, e contraem mais de US$ 30 bilhões de empréstimos com o FMI, somados aos já US$ 110 bilhões de dívida externa contraída desde o fim de 2015, abrindo as portas a um colapso total da economia
Corporações financeiras internacionais em sociedade com Macri esvaziam os cofres do Banco Central Argentino, e contraem mais de US$ 30 bilhões de empréstimos com o FMI, somados aos já US$ 110 bilhões de dívida externa contraída desde o fim de 2015, abrindo as portas a um colapso total da economia (Foto: Helena Iono)


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O governo de empresários de “Cambiemos” abriu definitiva e descaradamente as portas do país ao monstro do império capitalista, o FMI. Após dois anos e meio de contínua destruição da economia baseada num Estado de bem estar social deixado por Néstor e Cristina Kirchner, as corporações financeiras internacionais em sociedade com Macri e seus ministros econômicos, esvaziam os cofres do Banco Central Argentino, e contraem mais de 30 bilhões de dólares de empréstimos com o FMI, somados aos já 110 bilhões de dívida externa contraída desde o fim de 2015, abrindo as portas a um colapso total da economia que recairá tragicamente sobre o povo e os trabalhadores argentinos.

A Argentina de “Cambiemos”, dirigida pelo ministro da economia, Dujovne, e assessorada pelo ex-ministro Domingo Cavallo da era Menen, o mesmo que conduziu o país ao “curralito” de De La Rua, ao levante social e à repressão, retrocede a economia à beira de um “default”, pior que 2001; enfim, à beira de se tornar uma Grécia, que ficou refém do neoliberalismo destruidor do FMI, da União Europeia e do Banco Europeu, reduzida a 50% de desemprego juvenil e 13 reajustes previdenciários. Porém à diferença da Grécia, a Argentina tem história recente e memória. Aqui, como no Brasil, com Lula, houve um Néstor Kirchner que ousou romper com o FMI, impediu a sua intromissão nos organismos da economia argentina, iniciou o pagamento da dívida em 2006 (9 bilhões de dólares) até chegar-se ao fim da gestão de Cristina, devendo apenas aos Fundos abutres norte-americanos resistentes (que com Macri recuperaram o poder). Agora, a Argentina volta a estar à mercê da desvalorização desenfreada da moeda, a galope do mesmo Cavallo que decide que se faça um ajuste de 30 bilhões de pesos (às custas dos aposentados), 40% de juros (não só para as tais Lebacs, Letras do Tesouro a curto prazo) para todas as transações de crédito, e cortar 5 mil empregados públicos. As últimas manobras cambiárias permitiram os financistas internacionais esvaziar 8,5 bilhões de dólares dos cofres do Estado em duas semanas, após o governo ter saqueado o fundo de pensão dos aposentados para supostamente cobrir o déficit fiscal.

A Pátria volta a estar em perigo. A Argentina é refém dos especuladores financeiros; deserdam prometidos investidores produtivos internacionais e fogem rapinadores multinacionais com bolsos cheios; sem contar as off-shores de Macri e dos seus sócios de governo. Esta situação agitou até o Papa Francisco, que junto ao pontificado “condenou o manejo especulativo das finanças, alertou contra a lavagem de dinheiro, as off-shores como refúgios para delitos financeiros”.  Quem vai pagar este saqueio, senão os trabalhadores, fadados ao empobrecimento da nação?

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Apesar da propaganda oficial, via mídia hegemônica (Clarin e La Nación) a favor do FMI, a mídia alternativa minoritária, Rádios comunitárias e jornais (Página12), canais de TV como C5N e jornalistas opositores, enfrentando uma perseguição crescente, aceleram a batalha comunicacional. Sacudir a memória e conscientizar o povo é preciso. Em 2001, comandada pelo FMI, a Argentina  tinha 57% de pobreza 27% de desemprego e 25% de indigência. A era kirchnerista tirou o país do fundo do poço, como já se sabe, com programas sociais, fortalecimento do Estado, nacionalizações e acordos de integração latino-americana (Unasur, Brics, etc...). Em 2015, o salário mínimo da Argentina era dos mais altos da região latino-americana: 589 dólares; agora, é 384 dólares. A Pátria está novamente em perigo! Atrás do “empréstimo” do FMI vêm as condições impostas, a drenagem do bolso dos pobres aos ricos, o enforcamento dos trabalhadores que hão de pagar a dívida: o corte nos gastos públicos, congelamento das aposentadorias (já iniciado com a Reforma Previdenciária de dezembro de 2017 imposta a balaços), desemprego em massa no serviço público, abaixamento dos salários, e privatizações. Que coincidência: junto com o FMI chegam os Jogos da Copa do Mundo para ajudar a entreter o povo e impor as Reformas Trabalhistas no Parlamento!

Mas o povo argentino não se ajoelha

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Na Argentina, onde Macri chega já a 63,5% de desaprovação, todos os dias há um estado de permanente contestação social. Mas, seguramente, o recente acordo de Macri com o FMI, e a crise cambiária dos últimos 15 dias, a subida abrupta do dólar, refletindo-se no preço dos alimentos, atingiu o limite da suportabilidade da cidadania. No próximo dia 25, feriado no marco da independência nacional (1810), ao qual os governos kirchneristas sempre dedicaram massivas comemorações, está convocada no Obelisco da famosa Nove de Julho da capital, uma manifestação convocada por todas as organizações políticas de esquerda, populares e sindicais contra o FMI.  O ato promete ser multitudinário e será o ápice de vários atos de massas desta semana.

Os metroviários de Buenos Aires filiados à Associação Gremial de Trabalhadores de Subte (metrô) e Premetro (AGTSyP) fizeram ontem, uma greve de algumas horas e foram violentamente reprimidos, ao rechaçar o aumento salarial de 15% (parcelados e sem reajuste inflacionário) acordado pelo sindicato UTA (subalterno ao governo) com a patronal da empresa privada Metrovia. A reivindicação da maioria dos trabalhadores e dirigentes sindicais combativos tem sido de alcançar o nível previsto de inflação de 30% ou mais, com escala móvel.  O Sindicato AGTSyP tem a maioria dos filiados (2.200) dos trabalhadores (3.200), porém a sua representação não é reconhecida nas negociações paritárias. Nota-se aí uma restrição à democracia sindical e pior ainda, de transgressão ao direito de greve dos trabalhadores por parte das forças governamentais repressivas. A repressão e prisão, durante a jornada, de 16 metro-delegados sindicais e do dirigente , Néstor Segovia, conseguiu paralisar a cidade. A decisão dos metroviários, agora com 150 suspensos, longe de criar um desserviço à população, ou uma greve continuada, foi de parar as catracas, discutir e buscar a solidariedade dos usuários e impedir a sua substituição por fura-greves que pudessem colocar em risco a segurança do transporte. O governo não teve escrúpulos em reprimir, para emitir uma advertência a todo o movimento popular.    Leia

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Os professores, porém, não se intimidaram e realizaram no dia seguinte, 24 de maio, a Marcha Federal Educativa, sob o lema: A Escola argentina “Ensina, resiste e sonha!”. Vindos de várias partes do país, como rios de educadores e estudantes confluíram numa gigantesca e comovedora manifestação da dignidade, rumo à praça de maio, sob greve geral em todas as escolas e universidades, convocados pelas diversas centrais sindicais, Ctera, Suteba, Ute, as duas CTAs (Autônonma e dos Trabalhadores), e outras ligadas à educação. Após 30 anos das vitoriosas lutas dos professores, acampados sob “tendas brancas”, em 1988, voltam a reinvidicar o Ensino Público, e a aplicação da lei da educação, da financeira (em que a Educação tem direito a 6% do Pib), das Paritárias nacionais (eliminadas no governo Macri), e por um salário digno. Após um período de reforma educativa no governo de Cristina Kirchner em que se havia triplicado o orçamento para educação, com 80 milhões de livros didáticos distribuídos e entrega de 500 mil por ano, atualmente Macri acabou com cursos de formação de professores e projetos de pesquisa; as escolas primárias se encontram em decadência, quando não fecham; as refeições escolares são reduzidas, numa situação em que famílias pobres recorrem aos refeitórios populares de bairro para dizimar a fome. Um professor recebe um salário de 15 mil pesos, inferior ao limite de pobreza (18 mil pesos); e lhe dão 15% de aumento, sem a chamada cláusula gatilho” (escala móvel), quando a inflação prevista é superior a 25%. Contra tudo isso, resistem os educadores argentinos, sob a direção de uma direção sindical combativa e com ampla solidariedade de pais e alunos, vítimas de todos os ajustes.

Avanços na unidade sindical com movimentos populares

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É interessante notar como avança a unidade das correntes combativas do movimento sindical e popular, ao mesmo tempo que se vão depurando e definindo os oficialistas da burocracia sindical. Fala-se na união entre Pablo Moyano (CGT dos Caminhoneiros) e Sergio Palazzo (Bancário da Corrente Federal da CGT) de duas categorias de grande poder de mobilização na nova direção da CGT que têm-se mobilizado ultimamente junto às duas CTAs (Autônoma e dos Trabalhadores) contra os ajustes de Macri. Une-se a isso a destacada CTEP, que pressiona por incorporar-se à CGT, composta por trabalhadores informais, autônomos, artesãos, ambulantes, feirantes, agricultores familiares. A CTEP é dirigida por Grabois, vinculado também às comunidades católicas de bairro, e que insiste em que a unidade sindical se dê em baseada num programa de lutas, não em nomes, e com raízes nas bases.

No Parlamento, a oposição trata de responder ao descontentamento social. Após tantas manifestações, como a da “noite das velas”, em que se incluíram arrependidos eleitores macristas, às vésperas de um inverno rigoroso e tanto desabrigo, a Câmara dos Deputados conseguiu aprovar o projeto contra o “tarifaço” das contas de energias (133 votos a favor e 94 contra) que retrocede o valor a dezembro de 2017 e vincula os futuros aumentos à evolução dos salários. Em vias de ser aprovado pelo Senado que atualmente conta com Cristina Kirchner, o governo pressiona governadores para impedir que o projeto se transforme em lei. Ontem, 24 de maio, enquanto confluíam centenas de milhares de professores pela dignidade à Praça de Maio, Marcos Peña, chefe do gabinete presidencial, fazia sua curta explanação de 14 minutos sobre as medidas de governo: “o pior já passou!”. Rotundamente questionado, os opositores do FpV-PJ, Movimento Evita e FIT reclamam que o acordo com o FMI seja submetido à votação do Congresso.

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Justamente, no dia 25 de maio, em que se comemora a independência nacional, deverá ocorrer uma gigantesca manifestação em Buenos Aires na defesa da pátria saqueada, e contra o FMI. Será um dia histórico, exemplar para toda a América Latina.  Aí estarão presentes, os mesmos que têm-se mobilizado por “Lula Livre” no Brasil, nos comitês e recentes shows artísticos, e recepções de destaque à Dilma Rousseff. A preparação política, a organização social e solidariedade internacional dos argentinos surpreendem. Essa é a herança bendita do peronismo/kirchnerismo na Argentina. Um exemplo a seguir contra os poderosos golpistas e especuladores financeiros do mundo que querem atropelar a democracia, a soberania e a dignidade dos povos vitoriosos no pleito eleitoral na Venezuela, e reprimidos no seu direito a eleger Lula da Silva, presidente do Brasil.

 

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