Para a Folha, é “petista” a cidade do Plano Real e do Golpe de 64

Após o incidente do esfaqueamento do candidato a presidente Jair Bolsonaro (PSL) em Juiz de Fora, matéria do jornal Folha de S. Paulo retrata a cidade na Zona da Mata mineira como reduto de votos do PT, num destaque que não transparece outra finalidade senão associar a hostilidade cometida ao presidenciável de ultra-direita à esquerda e aos movimentos sociais



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Após o incidente do esfaqueamento do candidato a presidente Jair Bolsonaro (PSL), no último dia 6 de setembro em Juiz de Fora, matéria do jornal Folha de S. Paulo retrata a cidade na Zona da Mata mineira como reduto de votos do Partido dos Trabalhadores (PT), num destaque que, por absolutamente irrelevante em sua implicação com o caso, não transparece outra finalidade senão associar a hostilidade cometida ao presidenciável de ultra-direita à esquerda e aos movimentos sociais.

Um aspecto apontado pelo jornal é Juiz de Fora ser, de fato, um município com diversas instituições de ensino superior, dentre elas a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), além de um Instituto Federal de Educação. Outro, é ser uma espécie de “capital” LGBT em Minas Gerais, onde ocorre anualmente o evento Miss Brasil Gay. Outro ainda, ressaltado pela análise e pelas fontes ouvidas, muitas delas absolutamente confiáveis, como o cientista político Paulo Roberto Figueira Leal, é o histórico de sindicalismo do município.

Entretanto, no que a análise peca, além da evidente crueza do título que afirma “Cidade palco de ataque a Bolsonaro tem tradição de apoiar PT”, é em desconsiderar a carência da Zona da Mata mineira e todo seu histórico de indiferença pelas elites mineiras, quando se analisa a adesão histórica de sua população ao Partido dos Trabalhadores, que tornou política de Estado o combate à desigualdade, a geração de emprego e a renda. É natural que isto ocorra em recantos do Brasil onde a política de deixar a busca pelo bem-estar social nas mãos da iniciativa privada, prioritária nos primeiros Governos pós-redemocratização, tenha fracassado.

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Assim é no Nordeste, o mais conhecido reduto de votos do PT, e igualmente no Norte de Minas, onde está Montes Claros, cidade de onde saiu o agressor de Jair Bolsonaro, que se hospedou em Juiz de Fora por cerca de duas semanas antes de cometer o crime. Nem por isso, Montes Claros, numa região ainda mais esquecida de Minas Gerais, pode ter seu perfil traçado em algum tipo de “DNA petista”, que possa torná-la um reduto de atentados em potencial.

A discussão, de fato, é: que regiões de Minas Gerais encontram-se mais carentes de investimentos e foram menos atendidas, historicamente, pelos Governos de direita no estado? O mapa de votação das últimas eleições, em que uma mancha vermelha de votos na presidenta legítima Dilma Rousseff (PT) circunda um centro-sul azul em prol de Aécio Neves (PSDB), com pontuais focos tucanos nas cidades mais ricas do Triângulo mineiro, nos dá a dimensão do quanto o interior de Minas tem mais características socio-econômicas semelhantes ao Nordeste brasileiro e ao interior do Rio de Janeiro que aquelas dos interiores de São Paulo e da região Sul, onde há bons índices de qualidade de vida e investimentos privados. Nesses interiores mineiros, ao contrário, subsiste o coronelismo, baixas condições de empreendedorismo (nível educacional, fluxo de capital) e, portanto, ausência de investimentos provenientes das regiões mais ricas.

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Nesse vácuo, cresce a dependência de lideranças regionais, não necessariamente do PT (para não dizer nunca alinhadas sequer à centro-esquerda), mas certamente governistas, e que por isso orientaram-se ao lado do projeto nacional-desenvolvimentista dos Governos Lula e Dilma, impactando as votações dessas regiões.

Se, após isso tudo, a vida de milhares de pessoas foi transformada  pelas políticas econômicas e sociais do Governo federal sob Lula e Dilma, sedimentando o voto no PT, é outra história. Entretanto, não se pode mapear o histórico de votos dos interiores carentes do país sem considerar relações políticas que vão muito além do perfil estudantil ou dos movimentos sociais instalados no município. Fosse assim, Juiz de Fora teria sido, em algum momento, governada pela esquerda, o que jamais aconteceu. Nos últimos 20 anos a cidade vive a alternância PMDB-PSDB, com um interregno populista do PTB com Alberto Bejani em 2004, que terminou preso por corrupção em 2008. A matéria da Folha até faz está ressalva, muito adiante no texto e ausente no título, claro.

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Por fim, nacionalmente o município ainda foi notabilizado historicamente por dois episódios diametralmente opostos à ideação mais tacanha do que venha a ser “petismo”: o Golpe de 1964, que partiu de Juiz de Fora, e o Plano Real, empreendido por sua mais ilustre cria política, o ex-presidente Itamar Franco (PMDB, 1992-1994).

Portanto, não há qualquer relação entre os votos de Juiz de Fora dados ao PT nas eleições de Lula e Dilma e uma suposta “vocação petista” que teria descambado num ataque a Bolsonaro. Apesar disso, é curiosa a vocação da cidade para episódios decisivos da vida nacional, a maioria controversos, em profusão acima da média para uma cidade de seu porte. Algo “de dar inveja” em São José dos Campos, Londrina, Uberlândia ou Campos dos Goytacazes. Só que não.

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Está coluna dá, aqui, o assunto “Bolsonaro em Juiz de Fora” por encerrado. Há uma eleição estadual para se discutir e a comoção nacional, que os seguidores do ex-capitão esperavam, não houve. A não ser nos lamentos pelos rumos que tomou nossa democracia.

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