Em Minas, o voto é contra Romeu Zema

Em Minas, o partido dos magnatas alçou-se à condição de favoritismo no segundo turno eleitoral na figura do bilionário do varejo Romeu Zema, dono das lojas Zema de móveis e eletrodomésticos. Na verdade, ele, assim como João Doria já fora em São Paulo e Wilson Witzel é no Rio de Janeiro, é produto de recentes mudanças nas regras de campanha que beneficiam a entrada na política dos muito ricos ou daqueles hiperpatrocinados, caso de Witzel e Jair Bolsonaro

Em Minas, o voto é contra Romeu Zema
Em Minas, o voto é contra Romeu Zema


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O dito "Partido Novo" já se funda sobre inúmeras contradições, entre elas afirmar-se "novo" defendendo uma agenda ultraliberal que não foi implantada em qualquer Estado senão nos anos 1920, antes do surgimento das políticas de bem-estar social. Este liberalismo atroz fracassou na crise de 1929. Não bastasse isso, ainda tem em sua nomenclatura algo que nada diz sobre sua política programática, a não ser um falso contraponto às outras legendas, reivindicando o lugar de novidade na política. Seriam velhos o PDT, o PSDB, o PT, que sequer completaram 40 anos e ajudaram a fundar nossa jovem e ameaçada democracia?

Em Minas, o partido dos magnatas alçou-se à condição de favoritismo no segundo turno eleitoral na figura do bilionário do varejo Romeu Zema, dono das lojas Zema de móveis e eletrodomésticos. Na verdade, ele, assim como João Doria já fora em São Paulo e Wilson Witzel é no Rio de Janeiro, é produto de recentes mudanças nas regras de campanha que beneficiam a entrada na política dos muito ricos ou daqueles hiperpatrocinados, caso de Witzel e Jair Bolsonaro. Com o fim do financiamento empresarial de campanha, em que o candidato ao Executivo podia negociar sua agenda pública em troca de apoio financeiro, não se substituiu o modelo pelo financiamento público exclusivo, ou privado individual com teto orçamentário. O resultado é o investimento de fortunas individuais por aventureiros que buscam o poder ou o uso do mesmo para multiplicação de seus patrimônios. Esta última pode ocorrer sem qualquer ilicitude formal, visto que, em sendo esses magnatas grandes acionistas em diversos ramos, uma vez com a caneta do Governo podem pautar suas decisões, vez por outra, na valorização das ações empresariais que detêm.

Tal entrada dos muito ricos na política, esvaziando as pautas dos tradicionais partidos da política representativa, também é beneficiada pela perda de relevância das plataformas tradicionais de campanha: alianças, TVs, palanques. Despejando dinheiro em campanhas de Whatsapp e adesivos para carros, esses candidatos conseguem trabalhar na zona de conforto do monólogo sem contraditório, abrindo canais diretos de diálogo com o eleitor, os quais as legendas tradicionais, da centro-direita à esquerda, ainda não conseguiram dominar. Com a eficácia e rapidez deste tipo de estratégia, que reverbera sem contestação no substrato da comunicação via web, explica-se a meteórica ascensão de Witzel e Zema no Rio e Minas Gerais, assim como a de Jair Bolsonaro no plano nacional, freada pelo Nordeste, onde as redes tradicionais ainda funcionam melhor.

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O que importa é que, agora, tanto Anastasia quanto Eduardo Paes, em Minas e no Rio, aos quais podemos acrescentar Márcio França em São Paulo, são nomes da centro-direita que enfrentarão a não-política que ameaça a democracia e, com ela, os direitos civis e sociais. Se Witzel no Rio consegue ser tão ameaçador quanto Bolsonaro, tendo participado da aberrante cena da quebra da placa de Marielle Franco, Zema e Doria não ficam para trás. O ex-prefeito de São Paulo já é conhecido por suas peripécias como maltratar moradores de rua, oferecer ração aos pobres, insultar adversários, fantasiar-se em peças esdrúxulas de marketing e pendurar bandeiras brasileiras em locais abandonados por sua própria gestão. Zema, por sua vez, tem em seu programa, apenas a título de exemplo, zerar o investimento em cultura, argumentando que cabe ao Estado prover apenas local e segurança a eventos e iniciativas culturais. Na prática, ele pode atingir de morte a cultura das periferias mineiras, dos interiores pobres e mesmo o cinema nacional, incapazes de se autofinanciar e pouco atraentes para o patrocínio empresarial.

A relevância que ganha a centro-direita nos cenários estaduais, enfrentando extremismos liberais e ultraconservadores, torna-se importante para abrir um canal de diálogo entre esta e a esquerda, que faz com Fernando Haddad o difícil embate nacional contra o neofascismo. Caso esta luta não seja vencida, ajudando na pacificação dos ânimos políticos e afastando delírios ultraliberais de quem desconhece a necessidade do povo brasileiro, assim como o ódio ultraconservador contra os pobres e as minorias, podemos ver o fim definitivo da República de 1988.

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Em Minas, esse voto contra a direita selvagem será em Antônio Anastasia, relator do Golpe de 2016 no Senado Federal. Resultado dos meandros sempre incertos da política, com os quais devemos lidar.

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