O dia em que os chineses celebram os mortos

Aqui, celebra-se a vida através do culto aos mortos, lembrando a vida que viveram e o legado que deixaram. Apesar de considerado um povo não-religioso, isto é, os chineses lidam com a espiritualidade através de uma formação filosófica vasta

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Entre os dias 4 e 6 de abril, isto é, o primeiro dia do quinto período do calendário lunossolar chinês, ocorre o Festival Qingming - o dia em que se celebra a reverência do povo chinês aos seus ancestrais. No Brasil, tal data seria equivalente ao Dia de Finados, mas que guarda mais semelhanças, para efeito de comparação que aproxime a data do imaginário latino-americano, com o Dia dos Mortos celebrado no México.

A data reúne os chineses uma vez por ano para celebrar os ancestrais, em ritos que variam desde a veneração por pais, avós e outros familiares que já se foram, até homenagens ao Imperador Amarelo, Huang Qi, um dos reis lendários da China que, há mais de 2500 anos, teria tido tantos filhos que deixara como herança quase todos os chineses (é considerado o pai da etnia han, a mais numerosa da China). Segundo a tradição, ainda é o criador do antigo calendário chinês, do taoísmo, da astrologia chinesa, da medicina chinesa e do feng shui.

Por todo o país, milhões de chineses vão aos cemitérios ou celebram nos campos, numa data que é mais tratada com a contemplação ocidental que com a lamentação, comum na América Latina. Aqui, celebra-se a vida através do culto aos mortos, lembrando a vida que viveram e o legado que deixaram. Por isso, ainda tratados como se fossem vivos, os mortos recebem de seus entes queridos bebida, comida, mesmo cigarros e bens materiais que eram do gosto da pessoa morta, para que mostrem o quanto os consideram e o quão bem a querem na vida espiritual. No interior, os camponeses chegam a celebrar os mortos com piqueniques ao redor dos túmulos ou dos campos onde a pessoa viveu, como se fosse um aniversário.

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Em Pequim, o cemitério de Babaoshan foi um dos principais, em toda a China, entre os que receberam a festa (mesmo sendo a capital, a celebração em Pequim não é maior que as de interior, especialmente em Xianxim, província no centro da China que foi a terra onde viveu Huang Qi, o pai da etnia han). Lá, o fluxo de pessoas era grande, como sempre é no país, mas se transformava em serenidade e contemplação à medida que as pessoas encontravam-se com seus familiares, limpavam-lhe os túmulos, prestavam-lhes reverências e celebravam-lhes a vida.

Centenas de túmulos tinham comida, alguns tinham cigarro, mesmo notas de dinheiro falsas como de brinquedo, para não serem confundidas com dinheiro real, estavam por ali. Elas tinham, inclusive, a face do sábio Confúcio, o pensador chinês que debruçou-se sobre o aperfeiçoamento moral de seu povo através da doutrina da complementaridade do yin e do yang, a mulher e o homem, a lua e o sol, a absorção e a luz. Também havia cigarros para alguns, doces para outros, seguindo a crença espiritual chinesa, que amalgama várias crenças milenares, de que nesse dia ocorre o encontro com os entes queridos que já partiram.

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Apesar de considerado um povo não-religioso, isto é, três quartos das pessoas não se submetem à autoridade de religiões tradicionais ou cultos transcendentais, os chineses lidam com a espiritualidade através de uma formação filosófica vasta, que envolve valores confucionistas, taoístas e crenças ancestrais. Toda envolvem certa noção de vida após a morte que, num país em que os cidadãos não se submetem a uma autoridade religiosa central, pode variar conforme a convicção da pessoa por uma ou mais das crenças folclóricas chinesas.

A festa, observada com assiduidade pela etnia han, voltou a ser feriado na China em 2008. Hoje, e um dos dias mais celebrado pelo povo chinês.

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