As oportunidades abertas pela China com o Cinturão e Rota

Um mundo unido por novas relações econômicas internacionais é o que a China tem a oferecer. Urge que o Brasil participe, não importa a ideologia de quem o governe

As oportunidades abertas pela China com o Cinturão e Rota
As oportunidades abertas pela China com o Cinturão e Rota (Foto: Richard Sharrocks)


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Uma iniciativa econômica que abranja 156 Estados e os cinco continentes, ajudando com logística, exportação, importação, transferência de tecnologia e outras ferramentas de cooperação econômica que beneficiem seus participantes, não pode estar equivocada. Sua abrangência em si é um indicativo poderoso de que o Cinturão e Rota, ou Rota da Seda (nome que evoca o primeiro grande momento de abertura da China aos mercados de todo o mundo, quando a Eurasia escoava a partir da China todo o comercio de seda e outros produtos do oriente para a Europa ocidental) deve se tornar o principal mediador econômico mundial nos próximos anos.

A movimentação chega à cifra dos trilhões, ainda conjecturados de forma imprecisa, visto a difícil precisão de transferências como as do ramo da tecnologia, que envolvem valores agregados muito subjetivos, como produção de conhecimento e inovação, o que impacta a especulação nas bolsas de valores, ou como a valorização do trabalho e a geração de emprego, que aquecem as economias e ampliam o fluxo de capitais. Entretanto, são objetivos os valores multibilionárioos dos investimentos em obras para estruturas logísticas, bem como parques industriais e tecnológicos, além da abertura de operações de várias empresas de vários países em seus mais diversos parceiros para diversificar a oferta de produtos e, portanto, aumentar a geração de emprego e reduzir o valor para o consumo.

Quando o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT, 2003-2010) falou ao Brasil, no último dia 26 de abril, que a solução para o país passa pela reinclusão do povo no orçamento, incentivando o consumo para que se aqueça a economia, na contramão da receita austera neoliberal cuja única infalibilidade está em seu rumo cíclico ao fracasso, parecia que de seu cativeiro em Curitiba tinha dado dois telefonemas aos únicos líderes mundiais de sua envergadura hoje no mundo. Tanto Vladimir Putin, presidente da Rússia, como Xi Jinping, presidente da República Popular da China, idealidadora da iniciativa, discursaram na abertura do II Fórum Cinturão e Rota, realizado nos dias 26 e 27 de abril, dando ênfase na necessidade de se aumentar a produção e o consumo, tanto de bens como de serviços, para melhor qualidade de vida e qualificação dos trabalhadores para estarem aptos a serviços mais elaborados, o que faz da iniciativa uma estratégia que começa com o pé na logística e na indústria, mas mira o desenvolvimento e compartilhamento internacional de tecnologias para uma caminhada desenvolvimentista conjunta entre os países participantes. Não demonizaram nem o liberalismo nem a especulação, mas asseveraram que não é possível que ambas sejam a mola mestra da economia mundial, atendendo ao desejo de poucos e contraproducente no longo prazo, embora vantajosa de imediato.

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Isto posto, o que a China, assim como sua principal parceira nessa iniciativa, a Rússia, devem mostrar ao mundo é um ambicioso projeto de fortalecimento da economia mundial, ainda vacilante depois da crise mundial de 2008 e assombrada pela possibilidade de que nova recessão ecloda nos próximos anos. Se os dois países que ocupam a maior parte do território asiático, e portanto da histórica Rota da Seda, consolidarem o projeto que almejam com a iniciativa Cinturão e Rota, certamente darão o redirecionamento definitivo para a economia internacional. O já cambaleante império americano, que tenta sua cartada desesperada na truculência de Donald Trump e faz uma guerra comercial pesada com a potência asiática, pode ser ainda mais fragilizado, deixando de ser um império para, "apenas", continuar a ser mais um grande parceiro.

Em suma, o que a China tem a oferecer é o que já mostra desde o início deste século XXI, quando superou as crises econômicas e sociais dos anos de estabilização da República Popular, duros, porém responsáveis pelo renascimento de um país: uma alternativa à hegemonia dos Estados Unidos e seus vassalos, isto é, a Europa ocidental e o Japão. Por isso, a aposta das economias pobres e emergentes que se aproximam da China é um jogo de ganha-ganha. É bom se a iniciativa lograr o êxito total ou parcial no que propõe, visto que vai deixar um mínimo (ou o máximo) de obras, empregos e novas tecnologias nos países parceiros. Não é ruim se não der certo, uma vez que a força do Cinturão e Rota e seus 156 Estados impede embargos das grandes potências aos seus participantes, preservando suas relações com os parceiros tradicionais.

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Um mundo unido por novas relações econômicas internacionais é o que a China tem a oferecer. Urge que o Brasil participe, não importa a ideologia de quem o governe. Ciente de que o socialismo aberto ao mercado é a melhor solução para seus problemas internos, a China não o impõe ao mundo e não escolhe parceiros, trabalhando pacientemente pela cooperação internacional e harmonia entre os povos. Não participar é decisão unicamente do país que assim o escolher e do povo e da elite econômica que não chamarem à responsabilidade seus Governos.

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