Violência contra mulher, NÃO!

Num país em que mais de 2 mil mulheres morrem ao ano pela violência cometida pelo parceiro ou ex-parceiro, é terrível que cheguemos ao ponto de ouvir que a agressão do deputado Alberto Fraga (DEM/DF) contra mim não passou de uma fala "mal educada"



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Em um episódio lamentável vemos, na semana em que comemoramos o Dia Internacional de Combate à Violência Contra a Mulher, a impunidade prevalecer na Câmara dos Deputados. Foi proposto o arquivamento, sob a relatoria do deputado federal Washington Reis (PMDB/RJ), no Conselho de Ética da Câmara, o processo que investiga a agressão do deputado Alberto Fraga (DEM/DF) dirigida a mim e a todas as mulheres em Plenário. O parecer do relator banaliza a violência praticada contra a mulher e, particularmente, a atuação política delas. Essa decisão também coloca uma questão que só tomou relevo pela luta de mulheres corajosas, como uma coisa menor.

Em maio, ao tentar impedir que o deputado federal Roberto Freire (PPS/SP) parasse de empurrar as costas de um parlamentar da minha bancada durante seu discurso, o mesmo pegou meu braço e o puxou com força, torcendo-o. Foi neste momento que a fala de Fraga veio à tona e não deixa margens para dúvidas: "Eu digo sempre que mulher que participa da política e bate como homem tem que apanhar como homem também".

A tradução é clara. Se as mulheres se atrevem a entrar na política e defender com veemência suas opiniões estão assumindo um comportamento que é próprio dos homens e, portanto, devem ser tratadas como ele julga normal tratar outro homem, na violência.

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No momento em que milhares de mulheres tomam as ruas de diversas capitais em sua "primavera", é desalentador que tenhamos que assistir esse espetáculo de machismo e de uma visão deturpada sobre o espaço da mulher na política. Uma fala como essa tem repercussões e consequências gravíssimas.

Cada vez que se incorpora e alivia um discurso desse, a violência contra a mulher e o feminicídio ganham força. Num país em que mais de 2 mil mulheres morrem ao ano pela violência cometida pelo parceiro ou ex-parceiro, é terrível que cheguemos ao ponto de ouvir que a "agressão dita em Plenário" não passou de uma fala "mal educada". Que a verdadeira vítima é o agressor. Que não houve incitação à violência ou qualquer traço de preconceito contra a participação das mulheres na política.

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Vivemos tempos de luta contra o fim de direitos históricos garantidos a nós, no mundo do trabalho, na saúde, na educação e diversos outros campos da vida. Desta luta não abrimos mão e a revolta contra o parecer não diminuirá nossa determinação. Não vamos abaixar a cabeça para qualquer atitude preconceituosa ou misógina. Para qualquer discurso que banalize ou queira justificar a violência. Estamos todas chamadas a redobrar a resistência e reverberar o levante feminino contra a opressão de gênero que, como querem alguns, não é uma questão menor, mas uma questão de justiça.

Firmeza, coragem e destemor não são características exclusivamente masculinas. São características das mulheres e englobam desde a dor do parto até a luta política concreta, não só pela proteção dos filhos, mas também contra as adversidades da vida. As mulheres que têm essa atitude na vida também a tem na política. Nem todos compreendam qual é o sacrifício pessoal que nós mulheres fazemos para estar nesta luta, cotidianamente, batalhando por aquilo em que nós acreditamos. Mas, mesmo incompreendidas, prosseguiremos porque essa é uma opção de vida. Já demos grandes passos no passado e não vamos retroceder em nossa caminho pela igualdade de direitos. Táo pouco, iremos esmorecer na tentativa de dar a punição merecida ao parlamentar envolvido no Conselho de Ética. Violência contra mulher, NÃO!

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