Ministro de Estado – de Simonsen a qualquer um

Com a normalização democrática a cultura da importância de ministros ainda prosseguiu por bons anos. Até que finalmente o Brasil-caldo-cultural mostrou sua cara, pelo poder do voto. Ao mesmo tempo que não poderia ser diferente, tínhamos que nos democratizar, vieram as tragédias e contradições daí. Assim, qualquer um pode ser tudo neste Estado brasileiro. Basta ser do partido certo; ou basta ser da quadrilha certa

Cristiane Brasil
Cristiane Brasil (Foto: Jean Menezes de Aguiar)


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Abstraindo-se do período ditatorial brasileiro, uma desgraça histórica a envergonhar qualquer país que se preze, ministros de Estado já foram figuras importantes. Muitos eram respeitáveis. Alguns bem inteligentes no trato cotidiano com a imprensa e outros 'inimigos', com tiradas e esquivas graciosas. Outros, necessariamente tinham que ser maquiavélicos, por exemplo, Delfim 'os-fins-justificam-os-meios' Neto. Havia até gente considerada genial, como o professor Mario Henrique Simonsen.

Com a normalização democrática a cultura da importância de ministros ainda prosseguiu por bons anos. Até que finalmente o Brasil-caldo-cultural mostrou sua cara, pelo poder do voto. Ao mesmo tempo que não poderia ser diferente, tínhamos que nos democratizar, vieram as tragédias e contradições daí. Assim, qualquer um pode ser tudo neste Estado brasileiro. Basta ser do partido certo; ou basta ser da quadrilha certa.

Deu-se uma degradação na qualidade de ministros, em muitos casos, que é de arrepiar. Ministérios passaram a ser moeda de troca; de interesses; de empregos de apaniguados; e, claro, de safadezas a compadrios.

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A impressão que fica é que grande parte da sociedade não percebeu essa 'evolução' na história dos ministérios. Para a saúde não precisa ser um médico. Pode ser pastor de TV, atacante de futebol, qualquer um. Basta ser do partido que precise (!) receber o ministério para continuar alinhado com o governo.

Ministro técnico? Ministro da área? Ministro ficha limpa? Nada disso precisa mais. O que manda é ministro garantidor de tantos e quantos deputados e senadores do partido votando como ovelhas domesticadas. Ou mancomunadas.
Alguém dirá que isso é o 'normal jogo político' para garantir uma base parlamentar etc. Seria, se as diversas sucessões – sim, no plural – de escândalos não mostrassem à sociedade as maracutaias com nomeações. Até Lula quase vira ministro-escapa-processo.

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Utilizando linguagem de raiz médica, antigamente se falava em 'fisiologismo' político. Agora pode-se evoluir para o 'patologismo' político. Sai, em não poucos casos, o interesse meramente político para o patrimonialismo descarado. É o verdadeiro assalto ao erário por meio de nomeações. Haja vista o que as Lava Jatos não cessam de mostrar.
A recente tentativa – ou no final conseguirá mesmo – nomeação da filha do dono do PTB, o emblemático Roberto Jefferson, como ministra do Trabalho é um caso sintomático. Quem é essa moça? O que ela pensa e produz, ou sabe, para virar, num passe de mágica, ministra de Estado? Qual sua visão de mundo sobre o trabalho, as relações sociais tão caras para a sociedade e outros conceitos importantíssimos.

Só para se ter ideia da grandiosidade do assunto, toda a ordem econômica alemã se sustenta em 'apenas' 4 pilares: concorrência no mercado interno; concorrência no mercado externo; estabilidade da moeda; e pleno emprego. É a lei zur Förderung der Stabilität und des Wachstums der Wirtschaft, de 8/6/1967.

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Assuntos como pleno emprego, dignidade da pessoa humana, direitos sociais, direitos dos trabalhadores, um ministro do Trabalho precisa dominar, é isto mesmo. Saber, ter pensamento sedimentado, ter visão de mundo concreta sobre as temáticas. Não pode ser qualquer político da esquina apenas porque pertence ao partido-bola-da-vez. Isto é um estupro orgânico no governo com consequências sociais das mais graves.

Não há ode cega à meritocracia. Mas a sociedade brasileira que paga as diversas contas, coquetéis e festas de Brasília precisa se conscientizar seriamente sobre o destino do dinheiro público e interferir em escolhas, nomeações, por meio de opiniões, resistências e manifestações no mínimo questionadoras.

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A liminar judicial que impediu – até agora- a filha de Roberto Jefferson de ser ministra do Trabalho precisa invocar a vergonhosa violação à moralidade administrativa para a escolha ou para a assunção do cargo. A lépida e plantonista AGU já prometeu 'combater' a liminar. Repare-se que não se trata de uma guerrilha processual, mas de valores, éticas, visões de mundo e qual conceito de democracia se quer para o Brasil.

Michel Temer mais uma vez consegue ser seu pior conselheiro, causando, sozinho, outro desastre para si e para seu governo. Não param de aparecer situações, para não mais dizer, constrangedoras, relativamente à pretensa ministra do Trabalho. É verba da Câmara para cá, tia de chefe de gabinete para lá etc. Como o ministério 'precisa' ser dado ao PTB, os caras têm que parir alguém dali que possa assumir. E danem-se os valores, os princípios.

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2018 que parecia só começar após 24/1/2018 já mostrou a cara do escândalo e promete grandes emoções. Vai ser um bom surfe.

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