Elogio da traição

Muitos parlamentares que aceitam favores de Temer vão considerar se vale a pena manter sua fidelidade por apenas pouco mais de um ano pondo em risco, em contrapartida, sua carreira política de forma definitiva

temer
temer (Foto: Jose Carlos de Assis)


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O sistema de compra de votos para salvação do mandato de Temer, mobilizado por ele próprio e pela quadrilha a sua volta, ultrapassou todos os limites históricos. Sabemos, devido a fortes indicações apuradas na época, que Fernando Henrique comprou a emenda constitucional que lhe garantiu a reeleição. Mais recentemente, houve uma descarada farra de compras de votos para garantir o impeachment de Dilma, seguindo um curso que passava pela Fiesp e que eu próprio denunciei no GGN (R$ 500 milhões recolhidos entre quatro federações de indústria).

Entretanto, havia uma certa dose de pudor nas manobras de compras de voto no Parlamento. A coisa era feita às escondidas, longe da opinião pública. Diferente de agora. A opinião pública assiste perplexa ao leilão de Ministérios, postos no Governo e emendas parlamentares, tudo  oferecido com o maior descaramento aos que aceitam ser comparsas de Temer e de sua quadrilha no prolongamento de um mandato já exaurido. O Presidente de plantão não tem nada a oferecer no plano da economia política, a não ser anunciar na Alemanha a estupidez de que o desemprego no Brasil acabou. Sua única linguagem é o dinheiro.

As pessoas às vezes não se dão conta do que significa “doar” um ministério a um comparsa partidário, imaginando que seja apenas um braço administrativo do governo. Acontece que, na atmosfera de absoluta corrupção em que vivemos, ministério significa controlar o acesso a grandes contratos de onde saem as costumeiras propinas e vantagens indevidas. Tudo o que eventualmente se fala, muitas vezes sem razão, do funcionamento da burocracia, numa atmosfera de corrupção torna-se rotina: quem   “ganha” ministério ganha para roubar.

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Na circunstância atual, contudo, os beneficiários do sistema administrativo Temer devem levar em conta dois aspectos na efetivação de seus métodos: primeiro, bem ou mal, de forma justa ou não, descobriam-se alguns atalhos investigativos para apurar corrupção, a curto, médio e longo prazos; segundo, é possível que um dos pontos essenciais da futura campanha eleitoral não seja apenas a eleição de presidente, mas leve em conta também a renovação do Congresso. Pessoalmente, é nisso que pretendo me envolver. 

Diante disso, muitos parlamentares que aceitam favores de Temer vão considerar se vale a pena manter sua fidelidade por apenas pouco mais de um ano pondo em risco, em contrapartida, sua carreira política de forma definitiva. Isso vale sobretudo para o comportamento do Senado em face das reformas trabalhista e previdenciária: o senador que votar com o Governo, notadamente um Governo condenado a naufragar de forma inapelável em questão de semanas, se arrisca a ficar fora do poder político nas próximas eleições.

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Diante disso, tendo em vista o próximo dia 11, só há uma saída para senadores com o mínimo senso de oportunidade, além e acima de ideologias e esquemas partidários: a traição. Entre trair Temer e trair o povo é muito mais confortável trair Temer para tomar o lado do povo. E é muito simples. Não dói nada. Não há realmente nenhuma pena por conta da traição a Temer na medida em que seus dias estão contados. A rigor, dado que há ainda grande ressentimento para com os parlamentares que votaram pelo impeachment, a traição de Temer, em favor do povo, funcionará em muitos casos como uma sentença de absolvição para muitos senadores pelo grande pecado anterior. 

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