O drama colombiano

A Colômbia volta a viver o drama da insegurança e do perigo de a guerra recomeçar. Forças obscurantistas e reacionárias da sociedade colombiana, mancomunadas com círculos imperialistas, tentam inviabilizar o nascente acordo de paz. Sicários a seu serviço assassinam camponeses e lideranças sindicais. Instituições judiciárias, o parlamento e o próprio governo não cumprem seu papel na implementação de medidas indispensáveis à plena vigência dos acordos

The head of the Colombian government's peace talks delegation, Humberto de la Calle, delivers a press conference, on February 10, 2013 in Havana. AFP PHOTO/ADALBERTO ROQUE
The head of the Colombian government's peace talks delegation, Humberto de la Calle, delivers a press conference, on February 10, 2013 in Havana. AFP PHOTO/ADALBERTO ROQUE (Foto: José Reinaldo Carvalho)


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Os povos amantes da paz no mundo e especialmente na América Latina amanheceram nesta segunda-feira (30) impactados com as declarações do último fim de semana do candidato à presidência da República na Colômbia pelo Partido Liberal, Humberto de la Calle sobre os riscos que corre o país vizinho de retornar "de olhos fechados ao abismo da guerra". La Calle se dirige em especial aos indiferentes nas regiões mais urbanizadas do país, levadas à "nostalgia da guerra" por uma bombardeio midiático conduzido pelo ex-presidente Álvaro Uribe e o ex-vice Germán Vargas Lleras.
 
A guerra na Colômbia durou 52 anos, um conflito que deixou mais de 220 mil mortos e mais de oito milhões de vítimas. "Soam na Colômbia os sinos da paz, e seu eco chega a todas as nações representadas neste recinto”, disse em setembro de 2016 o presidente Juan Manoel Santos, ao discursar perante a Assembleia Geral das Nações Unidas, anunciando o acordo com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. 
 
O então secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, elogiou o trabalho de todas as partes e indivíduos que contribuíram para as negociações. Destacou particularmente o papel de Cuba e No­ruega, os países garantidores do processo, e do Chile e Venezuela, países acompanhantes das conversações. Do mesmo modo, reafirmou o compromisso da ONU, através de sua missão política, de apoiar a implementação do Acordo de Paz, que qualificou como um exemplo para o mundo. Ele próprio compareceu à cerimônia de assinatura dos acordos de paz, um memorável ato na cidade colombiana de Cartagena de Índias, também em setembro de 2016.
 
Depois de quatro anos de diálogo para pôr fim ao conflito, o governo e a guerrilha chegaram a um pacto, que foi catalogado por muitos analistas internacionais, governos e movimentos sociais como uma contribuição à paz mundial. O acordo valeu a atribuição do Prêmio Nobel da Paz ao presidente colombiano. Sua reeleição para o mais alto posto do país também se deve a um crédito de confiança para que conduzisse com êxito, como afinal se alcançou, as negociações com as Forças Armadas Revolucioinárias da Colômbia (Farc-Exército do Povo).
 
Foi uma grande vitória política das forças da paz, benéfica ao desenvolvimento das lutas democráticas na região latino-americana e caribenha, uma vitória  do povo colombiano, das forças democráticas e progressistas desse país irmão e dos movimentos de solidariedade na América Latina e em todo o mundo, que sempre lutaram pela paz democrática.
 
Não se pode eludir que foi também uma vitória política das próprias Farc-EP, que foram construídas para responder à prática assassina e terrorista da oligarquia colombiana contra o movimento popular e o povo. Durante mais de 50 anos, as Farc-EP foram atacadas violentamente por forças poderosas, treinadas, financiadas e armadas pelo imperialismo estadunidense. Sua eliminação foi várias vezes prometida e prazos para isso eram constantemente anunciados. Uma gigantesca campanha midiática caluniava os combatentes revolucionários, alcunhando-os de narcoguerrilheiros, invertendo assim a questão, pois eram e são os esquadrões da morte paramilitares – a serviço da direita terrorista – que estavam e estão umbilicalmente ligados ao tráfico de drogas.
 
Todos os ataques foram incapazes de derrocar a insurgência colombiana, que escreveu – na história da luta popular – páginas de heroísmo e sacrifício. Jamais serão esquecidos nomes como José Eliecer Gaitán, Manuel Marulanda, Jacobo Arenas, Bernardo Jaramillo, Alfonso Cano, Raúl Reyes e tantos que tombaram de armas nas mãos em luta por justiça e liberdade.
 
As Farc-EP têm cumrido à risca as cláusulas acordadas. Depuseram as armas, constituíram um partido político para a luta social, política e eleitoral nos marcos da democracia e da legalidade, a Força Alternativa Revolucionária do Comum.
 
Contudo, a Colômbia volta a viver o drama da insegurança e do perigo de a guerra recomeçar. Forças obscurantistas e reacionárias da sociedade colombiana, mancomunadas com círculos imperialistas, tentam inviabilizar o nascente acordo de paz. Sicários a seu serviço assassinam camponeses e lideranças sindicais. Instituições judiciárias, o parlamento e o próprio governo não cumprem seu papel na implementação de medidas indispensáveis à plena vigência dos acordos.
 
Por fim, recentemente, líderes destacados da Força Alternativa Revolucionária do Comum, ex-guerrilheiros agora com atuação política legalizada, são perseguidos. O dirigente da Farc Jesus Santrich foi preso sob acusação de vínculos com o narcotráfico e está ameaçado de extradição por exigência dos Estados Unidos. Agora, outro destacado dirigente, Ivan Marques, que foi o prinicpal negociador do processo de paz em nome da antiga guerrilha, também é acusado do mesmo delito e alvo de perseguição. 
 
A plena vigência dos acordos de paz na Colômbia é uma exigência para o afiançamento da democracia no país e a criação de um ambiente democrático na América Latina, alvo de brutal ofensiva dos inimigos do progresso social. 

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